
Paraná e Toledo - Toledo – O produtor Ademir Bedin, de Novo Sobradinho, distrito de Toledo, vive há 18 anos os desafios e as oscilações da suinocultura. Ele conhece de perto as dificuldades do setor, que há décadas convive com o mesmo gargalo: o elevado custo de produção. “Esse é o principal problema que prejudica o criador de suínos atualmente”, resume ele, em entrevista concedida ao Jornal O Paraná.
Nos últimos dias, Bedin participou de uma reunião entre suinocultores e representantes de um frigorífico da região. O encontro confirmou uma realidade preocupante: o mercado interno está praticamente inviável. “O custo dos frigoríficos para atender o mercado interno está superior ao preço de venda. A conta não fecha”, relata o produtor. Segundo ele, o setor só não colapsou porque as exportações têm garantido algum fôlego às indústrias. “Hoje, os frigoríficos se mantêm na atividade graças às exportações. No mercado interno, paga-se para colocar o suíno nas gôndolas refrigeradas dos supermercados.”
Crise e Desafios na Suinocultura
Crise e prosperidade
A suinocultura é uma atividade marcada pela alternância entre prosperidade e crise. Bedin lembra que é preciso ter cautela e planejamento para suportar os períodos de baixa rentabilidade. “Há momentos em que os resultados são satisfatórios. Por isso, é sempre bom armazenar ‘gordura’ para enfrentar o período de escassez”, compara.
Nos últimos meses, o produtor observa uma retração na oferta de animais. “Há cerca de um ano, houve uma redução de matrizes, o que naturalmente levou à queda na produção de suínos”, explica. Ainda assim, o cenário segue desafiador, principalmente pela falta de políticas públicas voltadas ao setor.
Para Bedin, o governo precisa olhar com mais atenção para a cadeia produtiva. O suinocultor defende programas de incentivo que ajudem o produtor a investir e tornar a atividade mais competitiva. “A elevada taxa de juros é outro obstáculo. Muitos deixam de investir porque o custo do crédito é alto demais. Se houvesse condições melhores, poderíamos modernizar as estruturas e melhorar a rentabilidade”, avalia.
Entre incertezas e custos que não param de subir, o produtor segue firme na atividade, movido pela esperança de que novos caminhos se abram para a suinocultura. “A gente insiste porque acredita no potencial do setor. Mas precisamos de mais apoio para continuar.”
Desempenho e Custos da Suinocultura Paranaense
Liderança no abate não garante “caixa cheio”
Nos últimos 12 meses, a suinocultura paranaense viveu um período de consolidação, com crescimento expressivo na produção e nas exportações. Em 2024, o Estado atingiu o marco histórico de 12,4 milhões de suínos abatidos. O cenário positivo seguiu no início deste ano, com o Paraná respondendo por 22% dos abates nacionais e ampliando o acesso a novos mercados internacionais.
Apesar do avanço, dentro da porteira o setor enfrenta um gargalo persistente: o alto custo de produção, que reduz a rentabilidade mesmo em momentos de valorização do suíno vivo. Essa realidade é confirmada pelo levantamento de custos da suinocultura integrada, realizado pelo Sistema FAEP em junho deste ano. O estudo, feito há mais de 15 anos, permite aos produtores conhecer seus números e fortalece negociações com as agroindústrias integradoras, além de subsidiar pleitos por políticas públicas.
Análise do Levantamento de Custos
O levantamento
O levantamento reuniu suinocultores de seis Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) no Paraná — três nos Campos Gerais e três na região Oeste — em diferentes fases produtivas: Crechário (UC), Produtora de Desmamados (UPD) e Terminação (UT). As Cadecs funcionam como fóruns de diálogo entre produtores e integradoras, definindo parâmetros técnicos e econômicos da parceria.
De modo geral, o desempenho financeiro das granjas piorou em relação ao último levantamento, feito em novembro de 2024. Segundo Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) da FAEP, a situação mais crítica foi registrada nas Unidades Produtoras de Desmamados (UPD) da região Oeste. “Novos manejos elevaram os custos variáveis e, com os juros altos, o custo fixo também aumentou de forma relevante”, explica.
Nessa integração, o preço pago pelo leitão não cobre sequer os custos básicos. O custo total, que inclui depreciações e remuneração do capital, cresceu 64% entre novembro de 2024 e junho de 2025. O produtor recebe R$ 47,80 por leitão, mas gasta R$ 79,51 para produzi-lo — um prejuízo de R$ 54,86 por animal, três vezes maior que o verificado no levantamento anterior.
Cenários Regionais e Desafios Específicos
Realidades
Nos Campos Gerais, o cenário também é negativo: mesmo com aumento na produtividade, o resultado sobre o custo total ficou em -R$ 23,45 por leitão. “Esta Cadec tem histórico de forte atuação nas negociações. Sem esse trabalho, a situação seria ainda mais grave”, comenta Nicolle.
Nas Unidades de Crechário – UC, a realidade é parecida. No Oeste, há pequena margem positiva sobre o custo variável (R$ 1,56 por leitão), mas o custo total segue no vermelho (-R$ 7,97). Já nos Campos Gerais, a remuneração não cobre nem os custos básicos, com prejuízo total de R$ 17,56 por animal.
O suinocultor Angelo Nabozny, de Ponta Grossa, alerta para a inviabilidade crescente da atividade. Com duas granjas que alojam 2,7 mil animais cada, ele critica a falta de reconhecimento de despesas reais nas planilhas das integradoras. “Elas não computam depreciação de equipamentos. Muitos continuam na atividade sucateando as instalações, sem retorno para investir”, afirma. Energia elétrica e mão de obra estão entre os custos mais pesados.
Na região Oeste, o produtor Udo Herpich, que atua na fase de crechário, reforça a dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados. “A mão de obra pesa muito e está cada vez mais escassa”, comenta. Com dois galpões que abrigam até 11 mil suínos, ele valoriza o levantamento de custos da FAEP. “Esses números dão base para negociar. As integradoras precisam saber quanto realmente custa produzir”, destaca.
Herpich avalia ainda que a planilha ajuda o produtor a enxergar o próprio negócio com mais precisão. “Às vezes, a gente não percebe onde está perdendo. Esse acompanhamento é essencial para não andar em círculos”, completa.
Mesmo com o bom desempenho nas exportações, o setor alerta para o risco de colapso entre os pequenos e médios produtores, que enfrentam margens cada vez mais apertadas. A FAEP reforça que gestão eficiente, inovação tecnológica e políticas públicas de crédito e incentivo são indispensáveis para manter a suinocultura paranaense competitiva e sustentável.
Impacto Financeiro nas Unidades de Terminação
Saúde financeira comprometida
Na análise das Unidades de Terminação (UT), o trabalho do Sistema FAEP também identificou significativa piora na saúde financeira das granjas. “Os resultados preocupam, principalmente por se tratar da fase mais simples da suinocultura, na qual o suíno depende menos de imunizações ou cuidados específicos. Deveria apresentar melhor rentabilidade financeira para o produtor, o que não ocorre”, alerta Nicolle, do DTE do Sistema FAEP.
A remuneração dos produtores que atuam na integração da região Oeste não foi suficiente sequer para cobrir os custos variáveis, que compreendem as despesas básicas para produção do lote. Ao analisar o custo total, o prejuízo é de R$ 40,89 por suíno terminado. Assim como em outras etapas produtivas, o custo da mão de obra é o que mais onera a atividade, representando 37,64% dos custos variáveis.
Na integração localizada nos Campos Gerais, a situação melhorou em relação ao levantamento realizado em novembro do ano passado. “Houve alta de 24% no valor recebido pelo suíno terminado, em parte pela forte negociação exercida pela Cadec”, aponta Nicolle. A atividade conseguiu cobrir os custos variáveis, mas não os custos operacionais nem os custos totais, que ficaram negativos em R$ 36,28 por suíno terminado.
“A suinocultura paranaense vive um cenário de expansão produtiva e comercial, sustentado pela organização da cadeia, pela conquista de novos mercados e por um ambiente sanitário favorável. No entanto, a rentabilidade ainda é um ponto de atenção, exigindo gestão eficiente, inovação tecnológica e políticas efetivas de apoio à produção”, finaliza a técnica do Sistema FAEP.