Variedades

Da trilha do ouro à estrada do gado

Com a frustração da ilusória serra de prata, começa o tropeirismo, unindo as Vacarias aos Campos Gerais

Depois de encerrado o ciclo do ouro paranaense, arrematado em fins do século XVII pela frustração da lendária serra de prata, Portugal sofreu uma forte crise. O valor dos salários dos homens livres encarecia e o preço dos escravos se elevou. Poucos enriqueciam e muitos se arruinavam.

“No Brasil, a febre do ouro enfraquecia as guarnições militares desfalcadas pelas deserções. Homens sem recursos embrenhavam-se nos sertões praticamente sem armas, equipamentos e alimentos, confiando na sorte e na caça para chegarem vivos às minas” (Mário Maestri, Uma História do Brasil: Colônia).

O fim da ilusão com os minérios de certa forma foi positivo para o futuro Paraná. Formou-se nessa época, até início do século XVII, a estrada do gado, mais conhecida como Caminho de Viamão, que tinha como origem as Vacarias do Sul. Os Campos Gerais do Paraná foram escolhidos como território de descanso e engorda para os animais, que chegavam magros da longa jornada desde o Sul e dali seguiam à Feira de Sorocaba como primeiro destino, distribuindo-se em novas tropas que se dirigiam a São Paulo, as “minas de Cataguases” (Minas Gerais) e Nordeste.

“São chamados de Campos Gerais os extensos faxinais de uma estreita e alongada faixa de terras no segundo planalto paranaense, formada de campos de pastagem, entremeados de pequenos bosques de matas e pinheiros, apropriados à exploração pastoril, como a criação de gado, que se estende de Jaguariaíva até a margem direita do Rio Negro, passando por Lapa. Eram habitados por povos indígenas da nação Kaingang, chamados de Coroados” (Monika Gryczynska, Caminhos – Do Peabiru, Graciosa e Viamão).

“A criação do gado nos Campos de Curitiba e o início da sua exportação para São Paulo e outros centros consumidores, antecede à produção das fazendas dos Campos Gerais. É Pardinho* que nos informa que seus currais eram situados nos arredores de Curitiba, em distâncias até sete léguas, de onde o gado era levado desde 1704 pela estrada que ia para São Paulo. Por essa estrada chegava-se à Sorocaba em 20 dias de caminhada” (Roselys Vellozo Roderjan, A Formação de Comunidades Campeiras nos Planaltos Paranaenses e sua Expansão para o Sul).

* Ouvidor Rafael Pires Pardinho (c.1675–1761)

 

A origem do luxo europeu

O trânsito das tropas logo também vai originar Guarapuava, uma vastíssima região ainda controlada pelos índios. À medida que muitas sesmarias de ampla extensão eram cedidas pela Coroa lusitana aos interessados em colonizar e desenvolver projetos agropecuários, mais empreendimentos seriam abertos, expandindo o desbravamento para o centro do Paraná.

Nesse início do século XVIII, na Europa, com a submissão da Escócia à Inglaterra, forma-se a Grã-Bretanha, integrada também por Irlanda e País de Gales. O mundo ganha pelas mãos do inventor Thomas Newcomen (1663–1729) a primeira máquina a vapor prática para bombear água, dando a largada para a revolução industrial. A febre do ouro toma conta do Brasil, mas a essa altura a economia do Paraná se estrutura sob as patas do gado.

O rei Pedro II morre em 9 de dezembro de 1706 e sobe ao trono o jovem João V (1689–1750). Com 17 anos, foi o soberano que mais e melhor explorou o ouro brasileiro e o serviu aos ingleses para financiar o florescimento do capitalismo. “Transformou a Corte Lusitana num espetáculo de luxo e esplendor e ofereceu à nobreza e ao clero da Europa presentes nababescos” (História Crítica do Brasil, Projeto Brasil Urgente).

Ironicamente, João V gastou fortunas em magníficas edificações que o terremoto de Lisboa destruiria em 1755 e teriam que ser refeitas igualmente com as riquezas do Brasil, que pagou duas vezes por esse luxo europeu.

 

Sesmarias abrem a era dos currais e fazendas

As concessões de sesmarias nos primeiros anos do século XVIII formam o desenho do Paraná Colônia em seu período pós-mineração. Até então limitada aos arredores do litoral e de Curitiba, a expansão do primitivo Paraná para os Campos Gerais, Guarapuava e Palmas, entre os rios Itararé e Iguaçu, sinaliza, balizada pela criação, transporte e comércio de gado, para a ampliação do território que seria o futuro Estado. A pecuária era o grande negócio da época e assim seria por mais de um século.

“De 1710 em diante, as sesmarias iam sendo requeridas em número cada vez maior e os currais foram se formando ao longo do caminho das tropas. As concessões de terra beneficiavam pessoas chegadas ao poder político. Os antigos sesmeiros e seus descendentes viriam a formar a influente aristocracia campeira, da qual saíam os homens destinados aos postos elevados das classes armadas, do clero e do governo” (Monika Gryczynska, O Casarão da Serra).

Em 1713, Domingos Teixeira de Azevedo se estabelecia em Ponta Grossa com as fazendas de Cambijú e Itaiacoca, fundadas sobre uma sesmaria obtida nessa ocasião. Suas propriedades eram na época a vanguarda rumo ao Oeste. O Paraná se emancipa oficialmente do Rio de Janeiro em 25 de fevereiro de 1714, passando a integrar a Capitania de São Paulo. A partir de agora começará uma batalha quase sesquicentenária para emancipar a região também de São Paulo.

 

Ouro também motivou nova atenção ao Oeste

Caçando índios para escravizar, o bandeirante Pascoal Moreira Cabral Leme (1654–1731) sobe o Rio Coxipó e trava combate com a tribo dos Coxiponés. Derrotado, ao retornar o grupo encontra ouro por acaso. Os ferozes caçadores de homens agora serão pacíficos garimpeiros.

Surge o Arraial Forquilha, futura Cuiabá, em 1718. No ano seguinte, em pleito direto promovido em plena selva, Pascoal Moreira é eleito comandante da região. Esse acontecimento foi extremamente importante para o futuro Paraná. A febre do ouro atrairá àquela região aventureiros e prestadores de serviços que vão precisar de alimentos para viver e trabalhar. É a largada para a conquista do Oeste brasileiro.

Acrescentam assim, de forma destacada, um novo e importante endereço às remessas de gado que os curitibanos trazem do Sul. Abre-se uma nova rota, que nos anos seguintes trará o esboço da Estrada Boiadeira.

Faz parte desse contexto a concessão ao curitibano Zacarias Dias Cortes de uma sesmaria no Tibagi, em 1716. Com ele também teria início mais um dos vários episódios polêmicos da história do Paraná rumo à ocupação do Oeste. Atribui-se a ele, em 1720, segundo o historiador Francisco Adolpho de Varnhagen, dado aceito pelo paranaense Romário Martins, a “descoberta” dos Campos de Palmas.

Eles relatam que parte do Vale do Iguaçu já teria sido explorada inicialmente nessa época por Dias Cortes em sua marcha para explorar as minas de Inhanguera. Cortes relatou ter encontrado na região uma “uma nação indígena que habitava as fraldas serranas e grande extensão do Rio Chopim – eram os índios Biturunas” (João Carlos Vicente Ferreira, Municípios Paranaenses Origens e Significados de seus Nomes).

Veio daí a descrição dos campos de Palmas, um território “[..] mui grande, mui raso e com muitos butiás que dão muita e boa farinha e por baixo dos butiás tem muita erva mimosa” (Francisco Adolpho de Varnhagen, História Geral do Brasil, Volume 2).

(Fonte: De 1500 à Amop: A Grande História Oeste do Paraná, Projeto Livrai-Nos!)

 

Há 100 anos: ferrovia a Foz do Iguaçu

Em 8 de setembro se completa um século de espera desde que nessa data, em 1918, o governo do Paraná celebrou acordo com a Companhia de Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande para a construção da linha férrea que primeiramente ligaria Ponta Grossa a Guarapuava, de onde partiria um prolongamento até Foz do Iguaçu.

Não foi o projeto mais antigo nesse sentido: em 1876, quando nem Foz do Iguaçu nem Cascavel ainda existiam, foi projetada uma ferrovia ligando Paranaguá a Assunção, também passando por Ponta Grossa e Guarapuava.

 

Eventos memoráveis

2 de setembro de 1939

Começa a II Guerra Mundial.

2 de setembro de 1977

Lei estadual 6.921 cria o distrito administrativo de Rio do Salto.*Lei estadual 6.925 cria o distrito administrativo de Juvinópolis.

3 de setembro de 1904

Engenheiro Arthur Martins Franco inicia viagem ao Oeste do Paraná. Sai de Curitiba rumo a Paranaguá, onde embarca para Montevidéu (Uruguai) e então a Buenos Aires (Argentina), iniciando a viagem fluvial a Foz do Iguaçu.

4 de setembro de 1933

Município de Foz do Iguaçu recebe do governo do Estado terras no Médio-Oeste e inicia a criação do Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel.

5 de setembro de 1981

Sindicatos Rural Patronal e dos Trabalhadores Rurais de Cascavel decidem se unir para enfrentar a desastrosa política agrícola da ditadura.

6 de setembro de 1987

Realiza-se em Cascavel a primeira prova automobilística de caminhões.

7 de setembro de 1822

D. Pedro de Orleans e Bragança declara a Independência do Brasil, seguindo conselho dado por seu pai, o rei de Portugal, em 24 de abril do ano anterior.

Na Internet:

http://livrai-noscascavel.blogspot.com.br/p/historia-de-cascavel.html

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