Policial

Moedas virtuais: Golpe deixou ao menos 500 vítimas e prejuízo de mais de R$ 5 milhões

Um dos “líderes” que se apresentava como investidor seria policial militar

Cascavel – A ostentação em redes sociais com relógios caros, carros importados e de luxo e a sinalização de dinheiro sendo esbanjado era alimentada por um esquema milionário que deixou mais de 500 vítimas em toda a região oeste do Paraná. Durou apenas sete meses – de abril a novembro do ano passado -, mas tempo suficiente para devastar a vida financeira dessas pessoas e que agora está em investigação.

Seus operadores diziam atuar como uma suposta trade na compra e na administração de criptomoedas – moedas virtuais -, mas tudo não teria passado de um golpe cujo prejuízo já é estimado em cerca de R$ 5 milhões a partir de relatos das vítimas que resolveram denunciar o grupo. O rombo pode ser ainda maior, já que um número expressivo de pessoas não quis procurar as autoridades policiais.

Esse receio seria porque, entre os líderes dos trabalhos, havia um policial militar lotado no 6º Batalhão, em Cascavel.

Com base nas denúncias, o soldado aparecia na divulgação em fotos e vídeos dos eventos como um dos líderes corporativos, ia às reuniões do grupo fardado e chegou a se deslocar para buscar dinheiro com um dos investidores, em uma cooperativa de crédito na região, também usando a vestimenta do trabalho na PM.

As denúncias apontam ainda que ele exerceria outras funções também proibidas pela corporação, como segurança particular de um dos fundadores da “trade”.

Depois de as vítimas perceberem que tudo não passava de um golpe, no fim do ano passado, o fundador do grupo, que tem parentes em Cascavel, teria se mudado para os Estados Unidos, quando a empresa alertou que deixaria de operar. Já o vice-presidente da companhia continua na região, a exemplo do policial, que exerce suas funções na PM até hoje.

A denúncia foi formalizada por um grupo de pelo menos 50 pessoas para a Corregedoria da Polícia Militar e ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) no dia 2 de abril.

Vantagens

Segundo relatos dos próprios lesados, cada pacote de investimento custava pelo menos R$ 7 mil, mas algumas pessoas teriam investido mais de R$ 100 mil com a promessa de triplicar o capital inicial em um ano. Para cada pessoa indicada, o investidor receberia 20% de comissão.

Como funcionava o esquema

Nas reuniões, geralmente realizadas na suposta sede da empresa em Cascavel e que hoje está com as portas fechadas, os investidores eram orientados a aplicar o dinheiro com o grupo na compra de criptomoedas sob a promessa de supervalorização.

Eles seriam os operadores e possibilitavam que todos acompanhassem o rendimento diário pelo próprio site da empresa, o qual está no ar, porém, com evidências de rendimentos forjados.

Contudo, há meses as vítimas não conseguem mais acessar suas contas virtuais. Em novembro de 2018, os investidores foram procurados pelos líderes do grupo alertando que deixariam de operar, mas que o capital investido por cada um deles seria devolvido em quatro parcelas sem correção alguma. Essas parcelas seriam pagas em janeiro, fevereiro, março e abril, o que nunca aconteceu.

Dentre as alegações do grupo está a “desvalorização extrema” das moedas virtuais, o que teria dessecado os recursos investidos.

Sobre as investigações

A reportagem do Jornal O Paraná apurou que todas as vítimas que formalizaram a denúncia já foram ouvidas pela Corregedoria da PM e pelo Gaeco. Além da esfera criminal, o grupo também ajuizou ação na Vara Cível para pedir o ressarcimento das perdas.

A assessoria de imprensa do Gaeco no Paraná informou que não se posiciona sobre assuntos como este. Já o Comando-Geral da Polícia Militar no Paraná não se manifestou sobre o caso.

Reportagem: Juliet Manfrin