Política

Parra acusa coação e pede provas

Parra ironizou a agilidade da Promotoria Pública em receber a acusação e convocar as testemunhas

O vereador Roberto Parra (MDB) refutou ontem denúncias de que cobraria parte dos salários de assessores e ironizou a agilidade da Promotoria Pública em receber a acusação e convocar as testemunhas. “Surpreendeu a rapidez com que aconteceu. Quando pedimos para que façam algo em relação à saúde, com pessoas morrendo, eles negam entrar na Justiça, ou por vagas em Cmeis [Centros Municipais de Educação Infantil]… Mas ouvem uma denúncia infundada, sem provas”.

Na quarta-feira, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) convocou três assessoras que possuem atividades parlamentares com o vereador. Elas prestaram depoimento ao promotor Sérgio Machado, mas não falaram com a imprensa.

As denúncias partiram do vereador Fernando Hallberg (PPL), que encaminhou ao promotor na manhã de quarta-feira relatos de servidores que teriam lhe confessado a prática criminosa no gabinete de Parra.

Ontem, Parra revelou que já esperava alguma ação, pois teve conhecimento de uma suposta articulação política contra ele. As assessoras teriam lhe dito que estavam se sentindo coagidas e até teriam sido ameaçadas por Hallberg: “O [vereador] Fernando tentava conversar com a minha assessora, a Rosa, às 23h, ou no horário de almoço. Até mesmo quando ela estava na academia… Dizia que precisava me delatar – fazer delação premiada – dizendo que eu estava com processo no Gaeco, seria preso, e ela também responderia comigo. Isso é ameaça! Dizer que a assessora seria presa, colocando medo para que ela fizesse um depoimento, inclusive oferecendo canetas com câmeras, lapelas [microfones] para fazer gravações”, disse Parra.

Antes de o caso vir à tona, o vereador pediu para que a chefe de gabinete de Hallberg fosse alertada para que cessassem as investidas. Alécio Espínola, presidente da Câmara, também foi alertado, segundo ele.

Parra declarou que não teve contato com as assessoras após os depoimentos e que por isso não sabia o teor dos questionamentos da Promotoria. Não soube responder também se havia alguma relação com a denúncia aberta há mais de um ano no Gaeco de que ele recebia de volta parte dos salários de assessores. A prática é negada por Parra: “Não [cobro devolução]. Estava falando ontem [quarta-feira] com meus assessores. Tentamos investir nas ações diárias. Os assessores fizeram uniforme diferenciado, pagos do bolso deles [de maneira espontânea]. Desafio alguém a provar ou a mostrar alguma conversa que me relaciona com esses fatos”.

Medidas

Quanto às investigações há mais de um ano, Roberto Parra disse que não foi interrogado pela Promotoria. Ontem apresentou-se ao Gaeco, mas não falou com o promotor Sérgio Machado. Ele disse que autorizou a quebra de sigilo bancário e telefônico.

Para o vereador, Fernando Hallberg deveria ter procurado a Mesa Diretora e a Comissão de Ética, em vez do Gaeco, e que pretende responsabilizar o vereador pelas acusações, inclusive criminalmente. Sobre um suposto vídeo em que ele apareceria recebendo dinheiro de assessor, Parra disse que “gostaria de ver o vídeo, caso exista”.

Perseguição política

Durante coletiva à imprensa, Roberto Parra fez questão de lembrar que foi eleito com apenas 803 votos e que por isso se sente perseguido e até ridicularizado. Passados dois anos das eleições, ainda há provocações, afirma. “Logo que passou a eleição da Mesa Diretora, escutei vários recados em que não merecia estar na Mesa pela quantidade de votos e pela questão de ter esse processo no Gaeco”. Indagado sobre quais parlamentares, negou que tenha falado “vereadores” e que apenas “ouvia conversas”.

Hallberg: “Fiz minha parte!”

O vereador Fernando Hallberg disse ontem que há 20 dias tinha recebido a denúncia, ao ser procurado por Rosa Ligeiro – a Rosa da Saúde -, relatando o assunto. “Procurei as autoridades, tentando um acordo com o Gaeco, pois, com a devolução de dinheiro, ela também comete um crime. Ofereci equipamentos para ela gravar, iam fechar acordo de delação premiada com o Gaeco, mas ela desistiu de revelar o caso”.

Para evitar qualquer conivência, Fernando Hallberg relatou tudo o que ouviu ao Gaeco. “Narrei o que aconteceu. Fiz minha parte. Há uma suspeita que precisa se investigada. Não posso me omitir”.

Hallberg entregou ao Gaeco gravações com conversas que provam que ele foi procurado e que apenas oferecia ajuda às assessoras.

Reportagem: Josimar Bagatoli

Reveja nossas entrevistas com os dois vereadores: