Elza Corbari é mestre em Ciências Sociais pela Unioeste, membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais e Servidora da Universidade. Elza analisou o impacto das cotas no curso de Medicina do câmpus de Cascavel. O estudo se concentra no perfil dos estudantes do curso desde a implantação, em 1995, até 2018. O sistema de cotas só entrou em vigor em 2009.
De acordo com o resultado da pesquisa, houve grande impacto da política de cotas no curso de Medicina, com elevação de 346% do número de estudantes de escolas públicas. O estudo revelou também que os estudantes cotistas incluídos no curso de Medicina: possuem renda familiar mais baixa; ingressam, em média, um ano mais velhos; a maioria é de Cascavel e região; o percentual de formados é semelhante ao dos não cotistas e possuem rendimento acadêmico equivalente aos dos não cotistas.
Segundo a pesquisadora, ficou comprovado que, uma vez incluídos, esses estudantes não interferem negativamente na qualidade do ensino da instituição, desmitificando a ideia de que os cotistas poderiam baixar o nível de ensino nas universidades.
O curso de Medicina de Cascavel iniciou suas atividades no segundo semestre de 1996.
Impacto das cotas
Muitos programas foram desenvolvidos ao longo do tempo, tais como Fies e Prouni, nas instituições privadas, e sistema de cotas nas instituições públicas. Por meio desse sistema, tem se estabelecido um número mínimo de vagas das universidades públicas a ser preenchido necessariamente por estudantes de escolas públicas, com o intuito de permitir o acesso de pessoas oriundas dos segmentos sociais mais afetados pela exclusão social. Na Unioeste, o impacto das cotas se deu em todos os cursos.
De forma geral, é possível observar que os cursos que possuem maior impacto das cotas também possuem alta concorrência pelas vagas no vestibular, constatando-se que, sem as cotas, grande parte dos estudantes de escolas públicas jamais ingressaria na universidade pública.
Portanto, o estudo revela que a política pública de cotas aplicada gerou grande impacto social e está cumprindo seu objetivo principal, que é a inclusão de jovens com fator socioeconômico mais baixo, principalmente no curso Medicina.
De acordo com dados da pesquisa, Medicina é o curso que apresenta maior impacto das cotas na Unioeste, com grande elevação do número de estudantes de escolas públicas, que passa de uma média de dez em cada 100 estudantes, para 47 para grupo de 100, um impacto de 346,7% de aumento de estudantes da rede pública de ensino, enquanto o percentual de estudantes de escolas privadas cai de 89,5% para 53,1%.
Durante 12 anos a universidade manteve o curso para uma clientela elitizada, que muito provavelmente suas famílias tinham condições de bancar sua formação na rede privada. Portanto, detentores de uma melhor formação básica, em escolas com mais qualidade em relação às públicas, acabavam por ocupar quase a totalidade das vagas de Medicina.
Com a criação das cotas, a aproximação entre número de estudantes de escolas públicas e privadas é notável, chegando a um grau de igualdade nos anos de 2017 e 2018, pois a partir do ano de 2014, a reserva de vagas passou de 40% para 50%.
Perfil
O perfil dos estudantes sofreu alteração depois das cotas. Verificou-se que, antes das cotas, havia em torno de 21% de estudantes de Cascavel, e, depois, o percentual subiu para 38,2% na categoria dos cotistas e 55,7% dos não cotistas.
Os estudantes cotistas ingressam na universidade, em média, um ano mais velhos que os não cotistas. Enquanto o não cotista ingressa com média de 19,3 anos, o cotista ingressa com 20,3 anos. A hipótese é de que, devido à grande concorrência e dificuldade de ingresso, os estudantes de escolas públicas passam mais tempo se preparando para o exame de seleção e, com isso, o ingresso é retardado. Esses estudantes são predominantemente brancos (mais de 85%).
No que se refere ao desempenho acadêmico (medido por meio das notas obtidas nas disciplinas), percebe-se uma pequena diferença, a média dos estudantes cotistas é de 77 pontos e a dos não cotistas 80 pontos. Uma diferença sem grande relevância, presumindo não gerar impacto negativo da qualidade do ensino do curso.
Portanto, a pesquisa revela que a política pública de cotas aplicada na Unioeste, teve impacto positivo no curso de Medicina, no âmbito social, permitindo uma singular oportunidade aos estudantes de escolas públicas concorrerem e ingressarem em um dos cursos mais almejados, senão o mais. Sem as cotas, mais de 84% desses estudantes estariam fora do curso e da universidade.
Nesse cenário, a instituição se torna um espaço de heterogeneidades e diversidade em seu meio acadêmico, contribuindo para a construção de uma sociedade democrática e diversificada e menos desigual.
Dados
Os dados utilizados para avaliar o impacto das cotas no curso de Medicina são do sistema gestor acadêmico da Unioeste, denominado “Academus”, que gerencia as informações acadêmicas dos estudantes da universidade. Dados mais específicos foram fornecidos em tabelas pelo NIT (Núcleo de Tecnologia da Informação) da Unioeste. O recorte da pesquisa são os ingressantes do período de 1995 a 2018, num total de 927 ingressantes, porém, 88 desses entraram por meio de transferência, ou já eram portadores de diploma de curso superior, sendo esses excluídos da pesquisa, assim permaneceram 839 estudantes para a base do estudo.