Saúde

Estresse: vilão do envelhecimento

Estudos demonstram que 90% das doenças que acometem o ser humano durante o processo de envelhecimento podem ser evitadas

Envelhecer de forma saudável, sem limitações e com mais longevidade. Quem não quer? Afinal, é um privilégio chegar à terceira idade com saúde e disposição para as mais variadas atividades do dia a dia.

Não é novidade que adotar hábitos saudáveis como alimentação adequada, atividade física regular e manter distância do estresse, cigarro e álcool estão entre as práticas recomendas para manter uma vida de qualidade e saúde. Mas é possível ir além e conhecer os limites do próprio organismo por meio de um programa de manutenção preventiva que possibilita aumentar as chances de envelhecer com menos doenças e mais qualidade de vida. É o que mostra nesta entrevista o médico ortopedista e traumatologista Joaquim Reichmann, que está cursando especialização em Adequação Nutricional e Manutenção da Homeostase – Prevenção e Tratamento de Doenças Relacionadas à Idade. Confira.

Longevidade saudável é uma expressão que vem sendo estudada e discutida de forma profunda nos últimos anos. Pode nos explicar melhor seu significado?

Joaquim Reichmann – Trata-se de uma nova abordagem da medicina que visa tratar causas e não apenas os sintomas de doenças. Também tem por finalidade evitar que as pessoas adoeçam e por isso é fundamental entender as causas do envelhecimento. Para ter uma vida longa e saudável necessitamos de três pilares básicos que incluem a nutrição adequada com reposição de vitaminas e minerais que o corpo vai perdendo com a idade, atividade física de acordo com a faixa-etária e as formas para aumentar a ação da telomerase que é a responsável por favorecer a manutenção dos telômeros.

O que o motivou a buscar conhecimento sobre longevidade saudável?

Joaquim Reichmann – Ao longo de meu trabalho na área de ortopedia e traumatologia observei que fazia cirurgia nos idosos, mas logo fraturavam novamente com facilidade em função de queda aliada a problemas musculares ou nos ossos. Na maioria das vezes, não havia força no músculo (sarcopenia) ou tinham osteoporose. Esses problemas ocorrem por faltar algo na parte metabólica e nutricional do paciente. Hoje é possível suprir essas deficiências e, quando realizamos o procedimento, fazemos também o acompanhamento nutricional para recuperar o ganho de massa muscular e fortalecer os ossos. Estávamos acostumados a tratar somente os sintomas e não a causa e este é um dos motivos para que os problemas voltem.

Como é possível buscar um equilíbrio e adotar hábitos adequados de acordo com o organismo de cada um?

Joaquim Reichmann – Para ingerir o que faz bem para o próprio organismo é necessário diagnóstico nutrigenético e disciplina. Com o desenvolvimento de um programa de manutenção preventiva é possível melhorar as chances para envelhecer de forma mais saudável minimizando o risco de doenças. Envelhecer é um processo natural, porém a degradação metabólica gradual e progressiva pode ser mensurada e quantificada, tanto na intensidade quando na velocidade. Nós identificarmos o processo e com isso é possível aplicar a cada pessoa um programa que auxilie na prevenção.

Isso significa que é possível evitar doenças que surgiriam no futuro?

Joaquim Reichmann – Sim! Estudos demonstram que 90% das doenças que acometem o ser humano durante o processo de envelhecimento podem ser evitadas. Para isso, é necessário informação e mudanças de hábitos, ou seja, focar na prevenção. O fator que trava esse processo é falta de sintonia entre a velocidade com que os conhecimentos científicos estão avançando e a maneira lenta com que as pessoas têm acesso a essas informações, o que impede de serem beneficiadas.

Por que é necessário um programa individual?

Joaquim Reichmann – Porque cada um envelhece a um ritmo ou intensidade individual. É importante destacar que nem mesmo órgãos e sistemas envelhecem no mesmo ritmo. Por isso, existe o conceito da idade biológica. Com base nisso, pessoas da mesma idade podem ter, por exemplo, diferença de 30 anos para mais ou para menos. O processo de envelhecer tem algumas características interessantes. No passado, acreditava-se que a genética era o fator determinante para a longevidade, mas ela só interfere em 15% do envelhecimento. O fator estratégico está relacionado ao estilo de vida baseado em métodos preventivos, o que gera impacto de 65% na longevidade. O estresse está entre os grandes vilões e impulsiona o envelhecimento em até seis vezes.

Qual seria a orientação nutricional adequada, ou seja, o que deve e o que não deve ser ingerido?

Joaquim Reichmann – O programa de orientação nutricional inclui prática regular de atividade física, gerenciamento de estresse e reequilíbrio hormonal. O que importa não é somente a qualidade e quantidade dos alimentos, mas a combinação entre eles. A proporção de proteínas, carboidratos e gorduras que são associadas a um prato pode provocar uma resposta endógena e acelerar fortemente no processo de envelhecimento. Por isso, busca-se entender que esse processo pode ser modificado pelo conhecimento e pela ciência e é fundamental fazer com que as pessoas conheçam o poder que eles exercem quando o assunto é beneficiar ou prejudicar o organismo.

É possível exemplificar?

Joaquim Reichmann – Normalmente as dietas convencionais possuem 70% das calorias de carboidratos, 15% gordura e 15% proteína, o que provoca uma depressão no hormônio glucagon e eleva a produção de outro hormônio, a insulina. Glucagon faz com que o organismo tenda a estocar excesso de energia na forma de gordura e é por isso que as pessoas aumentam o peso. Dessa forma, é importante conhecer a maneira de combinar os alimentos. A proporção fisiológica ideal é reduzir os carboidratos para 40%, aumentar as proteínas para 30% (carnes brancas e magras, peixes e frangos), aumentar as gorduras monoinsaturadas (azeite de oliva extra virgem, azeitona, castanhas, entre outras). Também é importante aumentar os carboidratos de frutas e verduras que têm índices glicêmicos baixos. Essa iniciativa promoverá um reequilíbrio entre a insulina e o glucagon fazendo com que o organismo funcione de maneira adequada.