“Durante minha carreira tenho buscado compreender o que é a verdade à luz da ciência e da lógica. Nasci em Bergamo, na Itália, em 1934. Tenho doutorado em Filosofia pela Universidade Católica de Milão. Sou professor da Universidade de Gênova e presidente da Academia Internacional de Filosofia da Ciência.”
Conte algo que não sei.
Mães de aluguel são um problema muito mais sério do que as pessoas imaginam. Não apenas ético, mas legal. A procura por barrigas de aluguel alimenta um lucrativo mercado de tráfico de pessoas na África. Mulheres têm sido escravizadas para servir como barrigas de aluguel em países africanos por quadrilhas que exploram a prostituição.
Por que começou a estudar a bioética?
Porque ela tem impacto direto na vida das pessoas. A vida moderna está impregnada pela tecnologia. Mas nem tudo o que é tecnicamente possível é ético. As implicações passam pelo início e o fim da vida. Incluem as técnicas de reprodução assistida, o acesso a tratamentos, a eutanásia e ao prolongamento da vida de pacientes terminais, por exemplo.
Como vê a eutanásia?
Não se pode matar. Mas também não se pode negligenciar a qualidade da vida. Na ética médica tradicional não se dava importância ao sofrimento. Hoje, reconhecemos que isso é fundamental. Mas é diferente de tirar uma vida. A eutanásia não suprime a dor, suprime o doente. O problema não é médico. É social.
O senhor tem destacado os desdobramentos éticos da reprodução assistida. O que o preocupa mais?
Há várias questões importantes aí. Mas a da maternidade tem implicações profundas. Uma criança pode ter três mães, uma biológica, uma de criação e uma que cedeu os óvulos. Se usarem uma barriga de aluguel, serão quatro mães. No meu ponto de vista, a mãe jurídica, aquela que quis a criança, deve prevalecer.
O que acha do aborto?
Do ponto de vista ético, é uma transgressão.
E nos casos em que a mãe contraiu zika e o feto apresenta sérias malformações neurológicas?
É delicado. É preciso pensar em quem vai cuidar das crianças. O Estado garantirá assistência? Cumprirá? Isso precisa ser resolvido. Nenhum princípio ético ou moral pode ser tão absoluto. Cada caso deve ser analisado, pois não há o melhor e o certo nessa situação, mas apenas o melhor possível. Ou o mal menor.
A indústria tem desenvolvido medicamentos eficientes, mas caros, para doenças como o câncer. Como vê a questão do acesso a esses remédios, muitas vezes obtido na Justiça?
A questão dos preços não é ética. É sobretudo política e econômica. Quanto ao acesso, sabemos que nenhum sistema de saúde suporta pagar custos tão elevados. É uma questão de avaliar a relação custo-benefício em cada remédio. Ele vai salvar a vida da pessoa ou lhe dará apenas mais um mês de vida? Não deve caber a Justiça decidir isso, mas aos médicos.
E o que o senhor acha da manipulação genética de seres humanos?
Se for para tratar doenças, como a talassemia, é uma vantagem. Mas quando falamos em alterações estéticas ou psicológicas, falamos de eugenia, o que é condenável.
O que pensa sobre plantas e animais transgênicos?
A partir de uma hierarquia ontológica, temos o direito de alterar outros seres vivos, mas não indiscriminadamente. O ser humano modifica a natureza há muito tempo. É moralmente possível.
E a clonagem?
Não tem vantagem alguma. Na maior parte dos casos, continua no reino da fantasia.