Cascavel – Embora a educação seja vista quase que por unanimidade como a principal ferramenta para a formação do cidadão, a recessão econômica do País teve peso significativo num processo que vai contra essa ideia. É o que mostram os números das matrículas realizadas nos últimos anos em instituições privadas do Paraná, conforme levantamento do Sinepe/PR (Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná).
Até 2013, dado mais recente do sindicato, 238.596 estudantes estavam matriculados em instituições de ensino privadas na modalidade presencial, e representavam 54,6% do total das matrículas do Estado. O restante dividia-se entre as instituições estaduais (15,4%), federais (11,9%) e municipais (0,6%). Para o período, dos 436 mil alunos que estariam aptos a entrar em uma universidade, cerca de 82% seguiram para o ensino superior. Em um período de 10 anos, o acréscimo chega a quase 40%. Já na modalidade de ensino à distância, no mesmo período 68.228 estudantes estavam matriculados em todo o Paraná.
Conforme o presidente do Sinepe/PR, Jacir Venturi, o que se vê hoje, no entanto, é uma inflexão destes números. Ele explica que tanto na educação básica quanto na superior houve crescimento significativo até 2014. Porém, a partir de 2015 a curva mudou, perderam-se alunos por conta de algumas restrições impostas pela União ao acesso principalmente às universidades, relata. De acordo com o Sinepe/PR, até 2013 a região Oeste possuía 25.211 alunos matriculados em universidades privadas.
Restrições
Uma delas e talvez a que trouxe os maiores prejuízos aos futuros acadêmicos foram os cortes ao Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), programa instituído pelo governo federal em 2001, por meio da Lei 10.260, e que em 2010 apresentou novo formato, com taxa de juros menores, ofertando ainda mais vagas a quem pretendia cursar uma graduação. A inflexão destacada por Venturi é sentida quando se deixa de oferecer aproximadamente 730 mil contratos novos – como ocorreu em 2014 – para menos da metade no início de 2015. Isso impactou nas matrículas do ensino superior, caindo a demanda em todo o Brasil, diz.
A estimativa que ainda não foi confirmada pelo Inep, mas que demonstra, segundo o Sinepe, o real cenário das instituições privadas nacionais é uma queda entre 20 e 30% nas matrículas. Esses números, de acordo com Venturi, representam também as perspectivas paranaenses. É um índice muito alto, que foi impulsionado também pela percepção de que a economia não anda bem. Se deslumbrava desde o ano passado uma crise, e a partir do momento em que a população teve consciência de que a política econômica dava sinais de refreamento, houve uma redução desta procura, comenta Venturi.
Desemprego e inadimplência também ajudaram na queda
Outro fator determinante para que muitos estudantes adiassem seus planos foi o crescente índice de desemprego, que já afetou mais de 17 milhões de brasileiros desde o ano passado. Somente no Paraná, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), de janeiro a maio 10 mil paranaenses haviam perdido seus empregos. O medo do desemprego foi um fator que agravou esse cenário, afirma Venturi. Além disso, houve aumento na inadimplência nas instituições privadas considerando um período de 90 dias. Conforme o Sinepe/PR, historicamente as escolas particulares registram débitos em torno de 8 a 9%. Com base nos dados de 2015, a inadimplência subiu para 12% e seguiu no mesmo ritmo no primeiro semestre de 2016. O que se espera e há uma forte convicção disto, é que a economia melhore a partir de 2017, e consequentemente, sejam retomadas às expectativas positivas ao setor, acrescenta o presidente do sindicato.
Financiamentos próprios
O que tem auxiliado muitos acadêmicos são os programas de financiamento elaborados pelas próprias instituições de ensino superior. Neste caso, as taxas de juros variam de acordo com a proposta da universidade, assim como as condições de pagamento. Foi desta forma que a estudante de Direito, Camila Silva Marques, conseguiu ingressar na faculdade. Eu me preparei para o Enem na tentativa de conseguir uma bolsa ou ter uma boa nota para alcançar o Fies. Mas, como o número de contratos foi cortado, precisei encontrar outra solução para cursar uma graduação, conta.