RIO – Na cerimônia de pódio dos Jogos Pan-Americano, em Toronto, em julho do ano
passado, o judoca Victor Penalber prestou continência ao receber a medalha de
bronze na categoria até 81kg, num gesto que acabou repetido por outros atletas.
Este procedimento marcou a participação brasileira no torneio continental. Pela
primeira vez, o torcedor brasileiro viu seus atletas prestando continência em
grande número. Afinal, das 141 medalhas conquistas pelo país, 67 foram parar no
peito dos atletas militares. E esta cena vai voltar a se repetir nos Jogos
Olímpicos do Rio.
? Se eu subir no pódio olímpico, que é o meu maior sonho, vou prestar
continência. Não sou civil. Sou militar. Então, eu tenho que prestar continência
em todas as vezes que a bandeira do Brasil for hasteada, que é o caso da
cerimônia de pódio. E farei isso com muito orgulho ? disse Penalber.
O gesto frequente dos atletas militares no Pan-Americano canadense foi
bastante discutido nas redes sociais e na mídia em tempos de polarização
política e de protestos arrebatados nas ruas do país. Para os críticos mais
ferozes, foi uma forma nada inocente de fazer propaganda simpática para quem
desejava intervenção militar, no meio de uma crise política que culminou no
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Aprendizagem da disciplina
Além do pódio em Toronto, Penalber foi terceiro colocado no Mundial do ano
passado, em Astana. Seu desempenho no último ano de ciclo olímpico chamou a
atenção da respeitada revista esportiva americana “Sports Illustrated”, que
colocou o judoca carioca como medalhista de bronze em sua prestigiosa projeção
de pódios para o megaevento esportivo carioca.
A relação entre o que há de melhor do judô nacional, que é um dos
carros-chefe da delegação brasileiro na busca por medalhas, e as forças armadas
é muita estreita. Os 14 judocas que representarão o país são militares: Felipe
Kitadai (60kg); Charles Chibana (66kg); Alex Pombo (73kg); Victor Penalber
(81kg); Tiago Camilo (90kg); Rafael Buscarini (100kg); Rafael Silva (+100kg);
Sarah Menezes (48kg); Érika Miranda (52kg); Rafaela Silva (57kg); Mariana Silva
(63kg); Maria Portela (70kg); Mayra Aguiar (78kg); e Maria Suelen (+78kg).
? No judô, aprendemos muito sobre hierarquia e disciplina, que também são
fundamentais na vida de um militar. Por isso, sempre digo que é muito fácil para
um judoca se adaptar à vida de militar ? analisa Penalber, com seriedade de
guerreiro.
No caso de Penalber, carioca de 26 anos, as Forças Armadas tiveram um papel
essencial na sua evolução como atleta. Ele entrou programa para atletas em 2009,
como soldado. Hoje, ele já é sargento. Em 2013, ele foi campeão do Mundial
Militar de Judô.
? No primeiro ano, fizemos um curso de formação. Depois disso, a cada ano,
fazemos um curso de reciclagem de dois ou três dias. Acredito que o esporte
olímpico brasileiro cresceu muito com esse apoio das forças. Através do
programa, os atletas passaram a usar as instalações militares, que são
excelentes, para treinar. Isso faz muita diferença – disse Penalber.
Mas não é só o judô: dentre as modalidades que contam com militares, estão
27: atletismo, basquete feminino, ginástica artística, hipismo (adestramento),
hóquei sobre a grama, natação, judô, levantamento de peso, tiro esportivo, tiro
com arco, taekwondo, vôlei de praia, maratona aquática, lutas, ciclismo pista,
ciclismo estrada, handebol, vela, esgrima, boxe, remo, saltos ornamentais, nado
sincronizado, canoagem slalom, badminton, triatlo e pentatlo moderno. Como nos
Jogos do Rio-2016 serão disputadas 42 modalidades, 64% delas terão participação
de atletas militares. Acostume-se à continência.