RIO – A inflação menor de 2016, que fechou o ano em 6,29% abaixo do teto da meta do governo, não fez cair os reajustes nas escolas este ano. Em média, os pais estão pagando entre 10% e 12% a mais este ano para manter seus filhos estudando em colégios particulares, de acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sineperio). Pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), os reajustes foram em média de 10,57% no Rio e, no Brasil, 9,5%. No ano passado, mesmo com o IPCA de 10,67%, o reajuste fora de 9,5%.
O aumento da inadimplência e a transferência de alunos para a rede pública, provocados pelos dois anos seguidos de recessão e de taxa de desemprego de 12,6%, com quase 13 milhões à procura de uma vaga, são alguns motivos citados pelo sindicato e por especialistas para a alta acima da inflação de 2016. Como o custo fixo não cai, a escola redistribui a despesa para os alunos que ficaram.
O que os especialistas dizem é que, mesmo com o reajuste na educação acima do esperado, a queda do preço dos alimentos vai dar um alívio, e a inflação fecha abaixo da meta. Há consultorias revendo projeções para baixo, como a Tendências que passou de 4,8% para 4,3% e o Banco ABC que está prevendo 4,5%, mas já estudando revisar o número para baixo. Na média de cem analistas de mercado, entrevistados pelo Banco Central para o Boletim Focus, o IPCA fechará o ano em 4,36%, abaixo da meta de 4,5%.
? O reajuste médio ficou entre 10% e 12%, mas a faixa oscilou de nenhum reajuste até 15%, depende muito do tipo de estrutura que a escola oferece. O que mais pesa na escola é a despesa com pessoal. No ano passado, o reajuste foi de 9,91%. A inadimplência também cresceu muito, chegou a 20% no ano passado. As escolas estão oferecendo bolsas e descontos para manter os alunos ? disse Victor Notrica, presidente do sindicato.
Segundo contrato enviado aos pais, a escola Cruzeiro, que tem filiais no Centro e em Jacarepaguá,reajustou as mensalidades em 10,82%, o Colégio São Vicente de Paula, no Cosme Velho, em 10,75% e o Colégio Santo Inácio, em Botafogo, em 10,13%.
Mesmo com a economia em recessão, é difícil trocar o filho de escola, a adaptação nem sempre é fácil, há um círculo de amizades formado, por isso, diz o economista André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, as famílias acabam absorvendo o aumento.
? Apesar da crise que fez os preços de vários serviços diminuírem, as escolas têm apelo maior, principalmente no ensino fundamental e médio. Mudar de escola é muito difícil. Há uma rigidez maior na mobilidade dos alunos. Na faculdade, os reajustes costumam ser menores, já que o aluno pode migrar com mais facilidade.
O economista da PUC Luiz Roberto Cunha diz que a maior despesa é com pessoal.
? Mensalidades de cursos regulares têm indexação (repasse da inflação passada) alta. Cerca de 80% dela são reflexo da folha de pagamento dos funcionários, que são reajustados de acordo com a inflação passada. Mas é bom lembrar que a inflação é uma média de preços. Algumas escolas podem ter aplicado reajuste de 10%, assim como alguns pais, negociando, terem conseguido descontos, que não são captados pelo IBGE.
Para Marcio Milan, economista da Consultoria Tendências, o reajuste acima do esperado pode ser alguma tentativa de reposição das perdas do ano passado, com a avaliação que a economia tende a melhorar.
? Os agentes antecipam esse movimento e tentam conseguir reajustes maiores.
Mesmo com os aumentos dos cursos regulares acima da inflação, a consultoria reduziu sua projeção para o IPCA de 2017 de 4,8% para 4,3%. A alimentação mais barata compensa, na opinião de Milan, a alta mais forte na educação, o que provocou o corte significativo na projeção:
? A alimentação tem sido a grande vilã da inflação e tem apresentado um quadro melhor do que o esperado. Parte dos preços dos serviços também vem caindo.
Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, diz que mesmo com a alta da educação, a inflação em 12 meses, deve ficar abaixo de 3,5% entre julho e agosto.
? Os preços dos alimentos estão uma maravilha. Estamos prevendo 4,5% de IPCA para 2017, mas podemos rever para baixo. A inflação em queda será a única boa notícia por um bom tempo.