ATHBAH, Iraque ? As histórias de horror sobre as execuções em massa do Estado Islâmico (EI) em uma caverna do deserto perto de Mossul, no Iraque, se tornaram lendárias ao longo dos anos. Pouco depois de o grupo ter tomado controle da cidade, há mais de dois anos e meio, o sumidouro de 305 metros de largura, a cinco quilômetros do aeroporto, virou um local para assassinatos sumários. Algumas vítimas foram obrigadas a fazer uma fila na beira do buraco e baleadas antes de serem chutadas para dentro. Outras foram jogadas lá vivas, segundo moradores. Às vezes, os corpos eram apenas transportados em caminhões para serem depositados ali.
Os moradores de Mossul sussuravam para contar sobre as mortes na vala ? ou ?khasfa?, como chamam. Mas, com as comunicações limitadas e os moradores locais temerosos demais para falar em público, foi apenas depois que as forças iraquianas retomaram a área no mês passado que a escala das execuções começou a vir à tona. Com base em evidências anedóticas, autoridades iraquianas dizem que milhares de pessoas podem ter sido jogadas lá nos últimos anos.
Podem ser necessários mais vários anos, no entanto, até que a vala comum revele seus segredos. Ninguém sabe a profundidade do buraco embaixo d?água. Os combatentes encheram-no com explosivos, o que torna a escavação particularmente complexa.
Mesmo antes de a brutal campanha do Estado Islâmico começar, autoridades iraquianas lutavam para escavar e identificar as vítimas em valas comuns da época do governo de Saddam Hussein, quando um milhão de iraquianos desapareceram. A guerra sectária que seguiu a invasão comandada pelos Estados Unidos em 2003 provocou ainda mais derramamento de sangue.Info – sepultura a céu aberto Mossul
Enquanto isso, autoridades estão em choque. Membros da comissão de direitos humanos do Iraque, cuja função é mapear as covas comuns do Estado Islâmico, dizem que não puderam fornecer estimativas de quantas pessoas podem ter sido encontradas até agora. No ano passado, a Associated Press disse que havia documentado cerca de 72 valas comuns das atrocidades do EI em Iraque e Síria ? com 15 mil corpos e outros mais que ainda podem ser desenterrados.
Dezenas de valas comuns perto da cidade iraquiana de Sinjar, onde acredita-se que estejam os restos mortais de centenas de pessoas da etnia yazidi executads pelo EI, ainda devem ser completamente escavadas. Covas perto da cidade de Tikrit, contendo os restos de cerca de 1,7 mil soldados massacrados por combatentes, ainda estão sendo descobertos, dois anos depois de a região ter sido retomada por forças de segurança.
O khasfa, no entanto, poderia ser a maior vala comum do grupo terrorista.
? Já engoliu as vidas de milhares ? disse Muthanna Ahmed, que conta ter trabalhado perto da vala de Mossul por cinco meses e testemunhado as execuções sumárias. ? Foi assustador. Muito profundo e escuro.
Ahmed relatou que os sapatos e sangue seco das vítimas deixaram rastros, enquanto alguns corpos em decomposição que ficaram presos na borda áspera da vala ainda podiam ser vistos.
Já Jassim Omar, de 33 anos, disse ter denunciado cerca de dez execuções lá. A primeira aconteceu cerca de um mês após a cidade ter caído nas mãos dos combatentes. Cerca de 35 prisioneiros da prisão de Badush, em Mossul, foram levados até lá e mortos.
? Se você quer assustar alguém de Mossul, apenas mencione a khasfa ? disse Omar.