Mais RIO -O mar é grande e a variedade de possibilidades profissionais que ele oferece também. Num país com a costa tão extensa como o Brasil, um olhar além da terra firme pode ser revelador na hora de pensar na carreira. Como lembra Rodrigo Maranini, gerente das divisões de Engenharia e Logística e TI da consultoria Talenses no Rio, ainda que o setor de óleo e gás esteja em crise, o oceano tem muito a oferecer.
? Desde que os portos foram modernizados nos últimos anos, nossa costa passou a ser melhor utilizada. Entre as consequências disso, houve uma valorização na área de cabotagem, por exemplo, que abriu muitas possibilidades em torno da logística envolvida no setor ? destaca ele.
Segundo Maranini, atualmente 10% da carga nacional correspondem à cabotagem. Mas há potencial para que isso aumente ainda mais em substituição à via terrestre, com um transporte cada vez mais intenso de mercadorias entre o Sul e o Norte do país e vice-versa.
Ele acrescenta que, também por consequência da maior utilização dos portos, profissionais ligados a segurança, saúde e meio ambiente especializados nesses espaços encontram boas oportunidades.
? É uma mão de obra muito importante, porque estes espaços precisam estar homologados quanto às suas condições de trabalho e funcionamento. Há grandes empresas, como fabricantes de automóveis, que só escoam suas mercadorias em locais devidamente certificados ? comenta ele.
REFRESCO EM MEIO À CRISE
Até o cenário econômico (quem diria?) impulsiona algumas carreiras ligadas ao mar. Como o setor de commodities foi beneficiado pela alta do dólar, Maranini afirma que muitas companhias têm criado cadeiras de shipping, setor responsável pela administração d a exportação.
? Normalmente, as empresas buscam um profissional que veio da área de logística internacional, capaz de garantir que a mercadoria saia do produtor e chegue à porta do cliente por meio do mar. Um analista ganha cerca de R$ 8 mil por mês e o salário de um gestor pode chegar a R$ 15 mil ? conta Maranini.
Segundo o diretor executivo do Instituto Mar e Portos (Imapor), Luiz Antonio Carvalho, existe também uma procura permanente por agentes marítimos, particularmente na função de visitador de navios. A demanda parte de agências que coordenam os procedimentos logísticos e burocráticos para que os navios acessem os portos.
? Os agentes marítimos são aqueles profissionais que conhecem as leis, regulamentos e especificidades do Brasil, orientando os comandantes dos navios e os proprietários a tomarem as decisões corretas nos negócios com empresas e pessoas localizadas no Brasil ? comenta ele. ? Sem este trabalhador, não acontece a operação portuária. É uma profissão existente em todos os portos. E, só no Estado do Rio, existem seis portos. No Brasil, são mais de 60.
Carvalho explica, ainda, que algumas agências marítimas segmentam o atendimento ao navio, de forma que um funcionário cuide apenas de documentação, outro somente da Alfândega e outro aja como visitador, por exemplo. Mas as empresas menores atribuem todo o atendimento a um único profissional, que numa temporada movimentada chega a atender uma dezena de navios ao mesmo tempo.
Quanto ao salário, Carvalho afirma que a remuneração inicial varia bastante, sendo pelo menos R$ 1.200. Mas bons agentes marítimos recebem entre R$ 3 mil e R$ 6 mil, ao passo que gerentes chegam a R$ 13 mil.
? Outro caminho muito comum é ser contratado por armadores para trabalhar em operações portuárias ou na gestão de embarcações. As empresas de navegação também costumam buscar agentes para comandar suas ações e oferecer um ambiente internacional e até programas internos que fazem o profissional conhecer a operação no mundo todo. No Brasil, os escritórios dos grandes armadores costumam ficar no eixo São Paulo, Santos e Rio ? detalha Carvalho.
DO MERGULHO AO TURISMO
O coordenador executivo da Escola de Negócios da PUC-Rio, Moisés Balassiano, tem acompanhado as possibilidades que vêm do mar. Segundo ele, a área de pesquisa é uma das que têm boas ofertas e abrangem diferentes formações. Há projetos para biólogos e veterinários especializados na proteção da vida marinha, mas também existem trabalhos importantes para profissionais com habilidades em eletrônica e mecatrônica aptos a atuar com equipamentos dentro deste universo.
Mas uma profissão que merece atenção, na opinião do coordenador, é a de mergulhador, que pode ser especializado em até 50 metros ou até 300 metros de profundidade. Embora seja uma atividade de alto risco, Balassiano afirma que há bons atrativos.
? Ainda há poucos profissionais e muita demanda por essa mão de obra, cuja remuneração pode passar de R$ 30 mil por mês ? diz Balassiano, explicando que a formação é feita por meio de cursos específicos e certificados. ? E como as condições de trabalho são muito hostis, o profissional se aposenta com cerca de 15 anos de atuação.
O turismo é outra opção, sobretudo no que diz respeito aos cruzeiros. Neste setor, a legislação brasileira dá uma forcinha.
? A lei determina que 40% dos empregados atuantes em navios que transportam pessoas na costa brasileira têm que ser de brasileiros. Isso vale para todas as funções do navio, com exceção daquelas consideradas estratégicas ? destaca Balassiano.
PROFISSÃO DE ENCHER OS OLHOS
Após anos de atuação como piloto de caça pela Marinha do Brasil, Hercules Lima resolveu trocar a velocidade dos céus pela brisa do mar. Ele investiu numa bateria solitária de estudos para o Processo Seletivo para Praticante de Prático e conquistou a habilitação para exercer a tão cobiçada carreira.
? Passei cerca de um ano e meio trabalhando e estudando. Chegava em casa às 19h, sentava num lugar mais tranquilo e estudava até 1h. Sábado era o dia todo e domingo, às vezes, estudava pela manhã ? conta ele sobre a preparação que rendeu-lhe a primeira colocação no processo seletivo.
O prático conduz as embarcações durante as manobras de atracação e desatracação em portos, além da travessia de áreas com restrições à navegação ou sensíveis para o meio ambiente. A profissão enche os olhos de muita gente em função dos salários. Os valores são bastante variáveis, mas estima-se que um iniciante ganhe até R$ 20 mil por mês, dependendo do número de contratos e do porto. Para um trabalhador com experiência, a cifra pode passar de R$ 50 mil.
Outro aspecto que atrai interessados é o acesso democrático. Para participar do processo seletivo, os interessados podem ter nível superior em qualquer área e, segundo Lima, quem tem formação náutica não leva grande vantagem.
Pensando em toda essa atratividade, ele não se limitou às cabines de comando dos navios e investiu num negócio próprio. Lima criou um curso completo dedicado à preparação para o processo seletivo para praticante, o Curso H.
? Começamos em 2011 e, com uma semana de site, recebemos uma enxurrada de inscrições ? conta ele, que teve a ideia ao constatar a falta de boas opções do gênero no mercado.
O curso oferece aulas on-line, presenciais e telepresenciais. O processo de preparação completo sai por cerca de R$ 20 mil e dura em torno de um ano. A ideia deu tão certo que já se prepara para ganhar polos em outras cidades.
? É claro que o aluno tem que se esforçar e estudar, mas a gente já dá o conteúdo todo estruturado, uma facilidade que não tive na minha época ? conta ele.
O processo seletivo é feito pela Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Portos e Costas, que informou não haver previsão de novas edições (a última foi em 2012). Mas, pelo histórico recente, a média foi de um exame a cada dois anos. Por isso, há uma expectativa entre as pessoas que se preparam para a carreira de que uma nova rodada seja realizada em breve.
Algumas áreas aquecidas, segundo Rodrigo Maranini:
Shipping: Profissionais que cuidam de toda as etapas e da contratação logística para a exportação. Formação em Administração e Engenharia são valorizadas. Salários de R$ 5 mil a 15 mil.
Engenheiro e Coordenador de Manutenção Portuária: Abrangente para equipamentos de movimentação que envolvem engenharia mecânica, elétrica e eletromecânica. Salários de R$ 8 mil a 15 mil.
Engenheiro e Coordenador de Manutenção de Navios: Com o crescimento do setor de O&G nos últimos anos, o segmento de estaleiros andou aquecido. Não é mais tão demandante, mas dada a necessidade de manutenção de todos os ativos, ainda tem vagas. Salários de R$ 8 mil a 15 mil.
Gerente de Operações Portuárias: Realiza toda a parte de planejamento, recebimento e carregamento de mercadorias. Formação em Engenharia, Administração ou Logística são as mais comuns. Salários começam em torno de R$ 16 mil.
Gerente de HSE: A saúde do funcionário e a prevenção de acidentes é o que se busca com a contratação desses profissionais. Salários de R$ 18 mil a R$ 30 mil.