RIO – A Operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira pela Polícia Federal, investiga 40 empresas do setor alimentício envolvidas em um esquema de corrupção que liberava a comercialização de alimentos produzidos por frigoríficos sem a devida fiscalização sanitária. Indícios do inquérito revelaram que carnes eram vendidas fora do prazo de validade, misturadas com papelão e até com substâncias cancerígenas. Diante da magnitude do problema, o consumidor fique atento na hora da escolha do produto.
Devo parar de comer carne?
Não há recomendaçaõ oficial para suspender o consumo de carne. Especialistas avaliam que as irregularidades são pontuais e que a carne produzida no Brasil seja de alta qualidade. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) recomenda que o consumidor priorize alimentos in natura, ou minimamente processados e não embalados, e evite alimentos ultraprocessados.
Como saber se a carne está adequada para o consumo?
A carne imprópria para consumo, seja bovina, suína ou de frango, apresenta normalmente cor, odor e textura alterados. As carnes adequadas, portanto, são aquelas de coloração avermelhada, textura não pegajosa e lisa e que não têm cheiro ruim.
Como proceder diante de um produto inadequado para consumo?
Especialistas indicam que é importante estar atento às informações específicas dos produtos nos estabelecimentos, pois são elas que vão orientar como proceder melhor na escolha do alimento. Na dúvida sobre a adequação do produto, recomenda-se entrar em contato com o supermercado ou com o fabricante. Se o cheiro, cor ou aparência estiverem estranhos, não consuma. Em última análise, deve-se recorrer aos órgãos de defesa do consumidor.
Como saber a procedência da carne?
Se o consumidor está com receio de consumir ou tem alguma dúvida sobre a procedência ou qualidade do produto que tem em casa, pode ligar para a Vigilância Sanitária pelo 1746 e solicitar o recolhimento da peça para que seja feita análise da mercadoria.
Foi detectada a bactéria da salmonela em produtos da BRF Foods?
Entre as irregularidades investigadas, a Polícia Federal identificou carnes contaminadas com salmonela em sete contêineres da companhia, que chegariam à Europa através da cidade de Roterdã, para fugir da fiscalização, com destino final em Espanha e Itália. A liberação do lote teria sido aprovada por Roney Nogueira dos Santos, diretor de Relações Instituicionais da BRF, preso no sábado, segundo a PF. No entanto, a empresa sustenta que o tipo de bactéria da salmonela encontrado no respectivo carregamento (Salmonella Saint Paul) é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura, e, portanto, não impediria a entrada no continente. De acordo com as leis, entre os 2.600 tipos de salmonela, apenas dois não podem estar presentes em carnes in natura, SE e ST (Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium).
E papelão?
A Polícia Federal também indicou a constatação de carnes misturadas com papelão, mas, de acordo com a nota da BRF, houve um equívoco na interpretação do áudio capturado pelos investigadores. A empresa sustenta que o funcionário gravado, ao mencionar o papelão, estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. A BRF afirma ainda que esse produto é normalmente embalado em plástico e que, na frase seguinte, o empregado ?deixa claro que, caso não obtenha a aprovação para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja, descartá-lo?.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou também que quer medir a dimensão das alegações da PF e diz, a respeito do papelão, que não lhe parece ser essa a questão: “a questão ali está falando da embalagem de produtos, de bandejas que devem ser utilizadas no processo daquela parte da industrialização”, disse o ministro ao GLOBO.
Será feito um recall das carnes?
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, os códigos de barra dos produtos dos três frigoríferos em que as fraudes foram confirmadas começarão a ser rastreados a partir de segunda-feira. Mas não esclareceu se será feito um recall nem como ele seria feito.
Qual era o produto usado para “maquiar” a carne?
No despacho do juiz que autorizou as prisões, são feitos relatos de fiscais de uso de ácido ascórbico (vitamina C) pelo frigorífero Peccin. Na reprodução de um diálogo dessa empresa, que consta do mesmo documento, o interlocutor cita, porém, outra substância: o ácido sórbico, que também é usado como conservante.
Essas susbtâncias podem causar câncer?
Doses elevadas do ácido ascórbico são cancerígenas. No entanto, apenas quem tem uma exposição prolongada a elevadas doses dessa substância teria risco de desenvolver algum tipo de câncer.