BRASÍLIA – Após a deflagração da Operação Carne Fraca na última sexta-feira, a Polícia Federal passou a receber denúncias de todo o país sobre problemas na fiscalização do Ministério da Agricultura, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO. As informações podem compor novas fases da ação da PF. A expectativa é grande porque, na operação da semana passada, os agentes identificaram irregularidades em todos os frigoríficos investigados.
Essas fontes disseram que isso não significa que havia irregularidades sanitárias em todos eles, mas indícios de corrupção de fiscais do governo. A avaliação de pessoas com acesso às investigações é que a indicação política de fiscais é o principal gatilho de corrupção desse caso.
? Em todos os frigoríficos houve problema. E, veja bem, não estou falando de carne contaminada, mas corrupção de agente público, era isso que a PF procurava ? frisou uma fonte, que ainda rebateu as críticas feitas à corporação:
? Os policiais não investigaram qualidade de carnes, mas casos de corrupção de funcionário público nomeado com indicação política. Quem tem de cuidar de questões sanitária não é a Polícia Federal.
O que as investigações mostraram foi a estratégia para não perder nenhum material. Os agentes aprovaram a utilização de carnes que não poderiam, como paletas vencidas desde fevereiro ou uma percentagem maior que a permitida de cabeça de porco.
Um dos agentes era sócio de duas franquias do Subway, por exemplo, como mostram as investigações. Num dos grandes frigoríficos investigados, funcionários tinham as senhas dos fiscais do Ministério da Agricultura. Em outro caso, o servidor dizia que estava em casa enquanto um carregamento era liberado. Os agentes esperam encontrar mais casos assim quando começarem investigar os esquemas em outros estados.
? Só Deus sabe aonde vai parar ? desabafou uma outra fonte ouvida pelo GLOBO.
A operação estremeceu relações com o Ministério da Agricultura, que está preocupado com a repercussão internacional. As críticas de que a PF não teria ido a todos os frigoríficos para saber como eram feitas as carnes foram rebatidas com o argumento de que a corporação não estava em busca de fiscalizar questões sanitárias. Os agentes visitaram apenas um frigorífico porque acharam suficientes os áudios gravados.
? É um jogo econômico que tentam nos envolver. Em vez de resolver, jogam para a gente, mas quanto mais batem, mais a gente trabalha ? alertou outro técnico.
BRIGA DE ESQUEMA
A polícia apura se a denúncia feita por um dos fiscais não foi provocada por uma briga entre dois esquemas de fiscais de grupos diferentes.
Avalia ainda que a atuação desses grupos afastava os fiscais honestos dos principais centros de fiscalização.
? O sistema não é ruim. As pessoas que são ? falou a fonte.