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As diversas faces de Tite, novo técnico da seleção

59196831_FILE - In this Dec 5 2015 file photo Corinthians soccer coach Adenor Leonardo Bacchi known.jpgUma profecia cumprida e a prova mais importante da carreira de um treinador que é uma permanente metamorfose. Faz mais de uma década que Tite diz a interlocutores que, um dia, chegaria à seleção brasileira. Desde então, muita coisa mudou: tanto no futebol brasileiro, quanto nos times de Tite. A cada passagem da carreira, um sistema tático diferente, um estilo adaptado ao ambiente que o cercava. Oficializado ontem na seleção brasileira, terá o direito de escolher a forma de jogar e os jogadores, algo de que nunca desfrutou nos clubes.

Um dado que, a princípio, deixa um ponto de interrogação no ar sobre o modelo de jogo da equipe. Mas o perfil de seus trabalhos mais recentes e a possibilidade de contar com os melhores talentos do país apontam para um time ofensivo, com toque de bola, mas com exigência máxima de organização e consciência tática para sustentar o coletivo: estes, seus conceitos centrais. Tite troca Corinthians pela seleção

Pouco antes de ser contratado pelo Atlético-MG, onde faria um de seus trabalhos com piores resultados no Brasil, Tite impressionou os dirigentes que o procuravam. Era 2005:

? Ricardo Guimarães (presidente do Atlético-MG à época) me pediu para ir atrás do Tite. Encontrei com ele em um hotel em São Paulo. Ele disse: ?Vou ser técnico da seleção brasileira? ? conta Alexandre Kalil. ? Tenho certeza de que hoje ele é um técnico melhor.

Aquela campanha terminaria com demissão em meio a um Campeonato Brasileiro que, no fim, rebaixaria o Atlético-MG. A convicção de chegar à seleção se manteve, com trabalhos que nunca exibiram um mesmo Tite. Descrito com expressões que vão desde o ?estudioso? ao ?obcecado pelas questões táticas?, fez a observação de futebol ampliar seu repertório ao longo da carreira.

Em 2001, o Grêmio campeão da Copa do Brasil foi o primeiro trabalho de repercussão do treinador. O time jogava com três zagueiros, um 3-5-2 fortíssimo na marcação e que anulou o Corinthians na vitória por 3 a 1 na final do Morumbi. Mas que, ao longo da campanha, tinha como proposta a busca do gol e o controle dos jogos.

? Os treinos eram intensos e você via uma filosofia baseada na ajuda entre todos. Com evolução da parte tática no futebol, é claro que ele foi ampliando o leque de opções. Mas sempre se adaptou ao que tinha na mão. Não tínhamos, por exemplo, um centroavante fixo ? lembra o zagueiro Mauro Galvão, campeão daquele torneio em 2001.tite.jpg

Mais conservador era o Internacional, campeão da Copa Sul-Americana de 2008. Tite alternou entre jogos no 3-5-2 e outros no 4-4-2, alguns deles com uma linha de quatro defensores que guardavam posição, mais voltados para a marcação do que para o apoio. Na reta final do torneio o time teve Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão formando o quarteto defensivo, com os volantes Edinho e Magrão à frente da zaga.

NÃO DOMINO O 4-1-4-1

O Tite que, em 2010, chega ao Corinthians para sua segunda passagem pelo clube, adota um sistema diferente. A equipe campeã da Libertadores e do Mundial de 2012, batendo o Chelsea na final, jogava num 4-2-3-1, mas com extrema mobilidade dos volantes, em especial Paulinho, que formava dupla com Ralf e constantemente aparecia na área rival. A linha de três jogadores de armação alternava entre dois jogadores com características de atacantes pelos lados, como Jorge Henrique e Emerson Sheik, ou o emprego de um meia atuando mais aberto. Corinthians homenageia Tite

No entanto, em 2013, seu último ano no clube nesta passagem, Tite seria criticado pela maior eficiência defensiva do que ofensiva. No Brasileiro, foram 27 gols em 38 jogos, segunda pior marca do torneio.

Em conversas com pessoas do futebol, Tite mostrava obsessão por ?aprender? o 4-1-4-1. Segundo ele, era o único esquema que não dominava. Foi o tema principal de seus estudos durante o ano sabático que tirou em 2014. Na montagem de times com este sistema, tinha em Carlo Ancelotti sua grande referência. E foi com o técnico italiano que fez um período de estádio no Real Madrid. Na volta, exibiu traços característicos do treinador: manteve o estilo sóbrio, formou grupos em que tinha ótima relação com os jogadores e formou times equilibrados, embora com traços mais ofensivos.

O resultado foi o título brasileiro de 2015, com o melhor ataque e a melhor defesa. E um Corinthians com marcação mais adiantada e proposta mais ofensiva.

? Como sempre trabalhou de acordo com o material humano que teve, dá para imaginar uma seleção jogando para a frente. Tite terá um time de bons jogadores e um que está acima. Acredito que monte uma estrutura coletiva que não fique dependente do Neymar, mas use o seu talento. Ele tem a receita do bolo e tem a cereja para colocar em cima ? disse o ex-jogador e comentarista Júnior.20160614160641--75257.jpg-GU82P0LG3.1.jpg