Cotidiano

Advogada quer saída de delegado, e Polícia Civil pede que OAB acompanhe

RIO – A advogada Eloisa Samy Santiago, que defende a jovem de 16 anos, vítima de estupro coletivo em uma comunidade de Jacarepaguá, na Zona Oeste, vai pedir o afastamento do delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), porque, segundo a advogada, ele estaria criminalizando e culpabilizando a vítima. O delegado rebateu as críticas e disse que Eloisa Samy está ?querendo bagunçar a investigação?. Em nota, a Polícia Civil disse que a ? investigação é conduzida de forma técnica e imparcial, na busca da verdade dos fatos, para reunir provas do crime e identificar os agressores, os culpados pelo crime.?

? Vou pedir o afastamento do delegado porque considero que a linha de interrogatório usada foi para criminalizar e culpabilizar a vítima. Ele (Alessandro Thiers) perguntou se ela (a jovem) já tinha participado de sexo em grupo. Constrangida, a menina me perguntou: ?preciso responder isso??. Disse que não e o delegado continuou insistindo com esse tipo de pergunta. Depois disso, encerrei o depoimento. A menina chorou muito em vários momentos. Eu tive que interromper para que ela pudesse se recompor ? disse Eloisa Samy.

Em resposta, Alessandro Thiers disse que a investigação é técnica:

? A chefia da polícia está sabendo de tudo. A investigação é técnica. Tudo o que está sendo levantado tem coerência. Ela (a advogada) está querendo bagunçar a investigação, quando, na verdade, estamos fazendo um trabalho sério. Ela, inclusive, já foi presa pela DRCI. Estamos buscando informações sobre os fatos. Todos os fatos estão sendo investigados. O que ainda não foi passado até agora é porque ainda não há conclusão.

A advogada rebateu e disse que já sabia que o delegado usaria a sua prisão anterior.

? É mais fácil me ridicularizar do que reconhecer o que fez. A minha atuação nesse caso é estritamente como advogada da vítima ? disse Eloisa Samy, que chegou a ser presa durante as manifestações de 2013 quando defendia integrantes do grupo Black Bloc.

Diante da polêmica, a Polícia Civil não falou sobre o afastamento do delegado e disse que A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), atendendo a convite da Polícia Civil, vai designar um representante para acompanhar a investigação.

Seguindo Eloisa Samy, o depoimento ao Alessandro Thiers foi bem diferente do prestado à delegada Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV).

? Com a delegada, a menina se sentiu mais acolhida. O depoimento foi acompanhado apenas por um inspetor que é psicólogo. Já o delegado Thiers, colocou vários homens na sala. Eram três contando com ele. A jovem chegou a falar que tinha muito homem. Depois de passar o que ela passou, se sentiu constrangida ? disse Eloisa Samy.

Eloisa criticou a forma de interrogatório e disse que essa deve ser a prática de atender a outras vítimas:

? Se em um caso de grande repercussão como esse a vítima é tratada dessa maneira, imagina o que acontece com outras mulheres que são vítimas de abuso sexual e violência.