Cotidiano

Design Rio: antigo prédio do consulado alemão deu asas ao ímpeto modernista

Quem passa com olhar atento pela Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, certamente já notou um prédio diferentão, logo após o Viaduto San Tiago Dantas, no sentido do Túnel Santa Bárbara. A obra imponente, em formato de um retângulo horizontal e suspensa por dois pilares, é o antigo prédio do Consulado da Alemanha. Projetada em 1956 e construída até 1961, a edificação foi pensada para abrigar a embaixada alemã no Brasil, e, com a transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília, deu lugar ao consulado, na década de 1970. Foi a primeira construção de uma embaixada da República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental) após a Segunda Guerra Mundial. O projeto é do escritório alemão Schmidt van Dorp, sediado em Bonn, então capital da RFA.

— O prédio começa a partir do primeiro andar, por um motivo simples. O terreno não era grande e seria necessário explodir as rochas, onde ele foi

planejado. Era preciso espaço para a entrada e o estacionamento. Por isso, eles foram construídos no térreo e, os escritórios, no andar superior —

contou, por e-mail, Jan van Dorp, filho de Ernst van Dorp, um dos arquitetos que projetaram a obra, falecido em 2013.

Segundo Jan, nos anos 1950 seu pai teve a oportunidade de estudar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Lá, ele conheceu alemães como Mies van der Rohe e Walter Gropius, nomes reconhecidos da arquitetura modernista. Gropius foi o fundador da renomada escola de arte Bauhaus, que funcionou entre 1919 e 1933 nas cidades de Weimar, Dessau e Berlim, e foi fechada pelo regime nazista.

—Era um período de novos pensamentos sobre arquitetura. A ideia, lógico, era Bauhaus. Ele queria passar o sentido de uma nova república alemã,

de mente aberta, direta, moderna e com um equilíbrio quase perfeito entre estruturas fechadas e abertas, cobertas por vidros — traduz Jan.

Encantados pelas belezas cariocas, os alemães pretendiam alugar um casarão com vista para o Pão de Açúcar para abrigar a embaixada. Mas, diante da indisponibilidade, decidiram construir o próprio prédio. O endereço na Pinheiro Machado, esquina com Rua Presidente Carlos de Campos, foi o escolhido por ser um elo entre as zonas Sul e Norte.

PLANO PILOTO COMO INSPIRAÇÃO.

Erguido no mesmo período da construção de Brasília, o prédio teve o projeto da capital federal, com suas asas Norte e Sul, como inspiração. Os alemães achavam o Plano Piloto elaborado por Lúcio Costa e a criação arquitetônica de Oscar Niemeyer interessantes e decidiram fazer algo parecido com um avião. A fachada é revestida em mármore, e o esqueleto é de concreto e metal. O prédio tem três andares, onde ficam os escritórios. No térreo, além da recepção e do estacionamento, há um auditório, um espaço para exposições e dois apartamentos, que eram utilizados pelo porteiro da embaixada/consulado e pelo manobrista. Há ainda um terraço, onde fica um outro apartamento, ocupado pelo embaixador/cônsul.

— Para mim, essa construção é uma representação do povo alemão, que cultua uma certa racionalidade. Os alemães são simples nos seus fluxos,

não são dados a sutilezas e são muito diretos. Esse é um edifício robusto, expressivo, que te provoca — comenta o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), Pedro da Luz.

Em dezembro de 2013, o Consulado da Alemanha decidiu que o prédio, com área útil de 1.586 metros quadrados, era grande demais para abrigar um escritório diplomático. O órgão foi transferido para um edifício mais modesto, na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro. A construção em Laranjeiras passará às mãos da Fundação Getulio Vargas: o negócio está prestes a ser sacramentado. A instituição, no entanto, ainda não revela o seu destino.

— O prédio vai precisar de uma modernização. Ele ficou muito deteriorado nesses últimos anos — afirma Pedro.