Cotidiano

Ao menos 20 mil crianças estão bloqueadas em Faluja, alerta Unicef

MIDEAST-CRISIS_IRAQ-FALLUJAFALUJA ? Ao menos 20 mil crianças estão bloqueadas em Faluja, 50 km a oeste de Bagdá, e sob a ameaça de serem recrutadas por extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) que controlam a cidade, advertiu o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta quarta-feira. Como parte de uma ofensiva iniciada em 23 de maio, as tropas iraquianas entraram na cidade na segunda-feira, mas encontraram uma forte resistência do EI.

? O Unicef calcula que há pelo menos 20 mil crianças retidas na cidade ? afirmou o representante no Iraque do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Peter Hawkins.

Os poucos moradores que conseguiram escapar de Faluja desde o início da ofensiva das forças governamentais afirmaram que a cidade sofre com falta de água potável e de alimentos.

? As crianças correm o risco de um recrutamento forçado para os combates ? acrescentou Peter Hawkins. ? Os menores recrutados são obrigados a portar armas para combater em uma guerra de adultos. Sua vida e seu futuro estão em perigo.

O Unicef reiterou o apelo para a abertura de corredores seguros para que os civis, quase 50 mil pessoas, possam sair da cidade, que fica na grande província sunita de al-Anbar.

A ONU acusa o Estado Islâmico de utilizar os civis como escudos humanos na batalha contra as tropas iraquianas apoiadas pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

MIDEAST-CRISIS_IRAQ-FALLUJA (2)

De acordo com especialistas, a batalha em Faluja será longa e difícil, uma vez que o grupo extremista está bem implantado na cidade desde a sua conquista, em janeiro de 2014, um dos dois principais redutos dos extremistas no Iraque junto com Mossul (norte).

Depois de entrar Faluja em três frentes, as Forças Armadas registraram o seu progresso mais significativo na parte sul, quando chegaram aos arredores de Naimiyah.

Nesta localidades, havia ?cerca de 100 jihadistas fortemente armados? que lançaram contra-ataque, mas as forças iraquianas foram capazes de matar 75 extremistas, indicou o general Abdelwahab al-Saadi, comandante da operação militar. Ele não forneceu registro de baixas no lado do governo.

Segundo oficiais, o apoio aéreo da coalizão internacional e da aviação iraquiana é crucial para o sucesso em Naimiyah e as formas armadas continuam progredindo. O Pentágono admitiu que a ofensiva vai ?demorar?.

? Os dois últimos dias mostraram que o EI está disposto a lutar ? declarou o porta-voz Jeff Davis.

?CATÁSTROFE HUMANITÁRIA

Um morador local declarou que os habitantes desejam que as forças iraquianas retomem a cidade, mas temem a reação do EI em caso de derrota.

? O modo como eles (os extremistas) tratam os habitantes é terrível. Os jihadistas estão com raiva porque as pessoas não os apoiam, eles insultam as pessoas na rua e gritam ?vocês são traidores, não estão com a gente? ? relatou o morador, que se apresentou como Abou Mohammed al-Doulaimi.

O Conselho Europeu para os Refugiados (NRC) alertou na terça-feira para o risco de ?catástrofe humanitária? em Fallujah.

? Os beligerantes devem garantir aos civis uma saída segura desde já, antes que seja muito tarde e que mais vidas sejam perdidas ? afirmou o secretário-geral da ONG, Jan Egelan. ? Uma catástrofe humanitária se aproxima em Fallujah, onde as famílias estão presas entre os beligerantes sem possibilidades de sair de forma segura.

Responsáveis da ONU receberam ?informações de que famílias estão reunidas no centro da cidade pelo Daesh [acrônimo do EI em árabe] e não são autorizadas a abandonar o lugar?, afirmou aos jornalistas a emissária adjunta da ONU para o Iraque, Lise Grande.

? Isso permite pensar que o Daesh poderia utilizá-los ou teria a intenção de utilizá-los como escudos humanos. Essas famílias estão em grande perigo se começar um combate.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que cita números fornecidos pelas autoridades iraquianas, ?cerca de 3.700 pessoas (624 famílias)? fugiram de Faluja desde o início da ofensiva militar das forças iraquianas.