O diabetes ocupa o quinto lugar entre as doenças que mais matam no Brasil e, com o crescimento da doença, estima-se que o mundo esteja diante de uma das maiores crises globais de saúde do século XXI. A previsão é de que 4 milhões de pessoas sejam vítimas fatais do diabetes todos os anos. Dentre as suas complicações, as doenças cardiovasculares estão no topo das causas de morte entre portadores de diabetes no mundo todo.
Se o cenário global é preocupante, no Brasil o contexto é ainda mais desafiador. Cerca de 14 milhões de brasileiros convivem com a doença, que, se não tratada corretamente, pode comprometer diversas funções no organismo.
O endocrinologista e pesquisador da USP de Ribeirão Preto Carlos Eduardo Barra Couri destaca que, além das doenças cardiovasculares, o diabetes pode se causar problemas como: lesões renais, oculares e neurológicas, problemas nos pés, disfunção sexual.
Segundo o cardiologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Otávio Rizzi, de todas as complicações cardiovasculares, a insuficiência cardíaca possui um impacto mais significativo sobre os pacientes e os sistemas de saúde. “A insuficiência cardíaca acontece quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para todas as partes do corpo, é uma das comorbidades mais comuns do diabetes tipo 2, o que pode resultar em hospitalizações mais frequentes, além de impactar diretamente na qualidade de vida desse paciente”, explica o especialista.
Um risco desconhecido
Apesar das múltiplas complicações que envolvem o diabetes, a relação da doença com risco cardiovascular ainda é um fato pouco conhecido pela população. O risco de infarto em pacientes com diabetes é um exemplo, podendo ser até quatro vezes maior em pessoas sem a doença.
Otávio Rizzi explica como as complicações cardiovasculares são potencializadas pelo diabetes: “O diabetes gera um descontrole nos níveis de açúcar no sangue, onde, justamente com a insuficiência na produção e utilização de insulina, origina-se um estado de inflamação. Esse quadro facilita o surgimento de placas de gordura, aumento do colesterol ruim e outras substâncias nas paredes das artérias, limitando o fluxo sanguíneo, e consequentemente, aumentando o risco de doenças cardíacas”.
Em pesquisa realizada pela Abril Inteligência, com apoio da AstraZeneca e do curso endoDEBATE, foi observado que apenas 43% dos portadores de diabetes e 27% dos não diabéticos acreditam que a doença tenha relação com a incidência de um acidente vascular cerebral (AVC) e somente 47% dos portadores de diabetes acreditam que a doença possa estar relacionada com problemas cardíacos.
Uma nova abordagem
O endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri afirma que a adesão precoce ao tratamento é fundamental para evitar grandes complicações do diabetes. “É muito importante estar atento à evolução do tratamento e ao que chamamos de inércia terapêutica, que é a demora na intensificação do tratamento com outros medicamentos, o que é essencial na prevenção de uma série de complicações associadas”.
Ainda segundo o especialista, nos últimos anos é crescente entre a classe médica a necessidade de uma nova abordagem no tratamento do diabetes, o que implica, além da prescrição do tratamento, um olhar muito mais cuidadoso para as complicações da doença. “O diabetes é uma doença crônica e extremamente complexa, com fatores que vão muito além do controle glicêmico”, observa a endocrinologista Denise Franco, diretora da ADJ Diabetes Brasil, que acrescenta: “É necessária uma abordagem multidisciplinar para as complicações associadas e também para opções de tratamento da patologia, um exemplo é o trabalho em conjunto de um cardiologista e endocrinologista na terapia. Desmitificar conceitos associados ao diabetes também é muito importante para que o paciente tenha mais qualidade de vida e vença as barreiras do diabetes”.
Além disso, Denise explica que a condição para o sucesso no controle da diabetes e na prevenção dos riscos cardiovasculares está no empoderamento do paciente sobre a doença. “O médico deve tornar o paciente protagonista de seu próprio tratamento, incentivando-o para que o mesmo sempre reflita e tome as melhores decisões em seu cotidiano”.
Diabetes em números
425 milhões de portadores de diabetes no mundo
14 milhões de portadores de diabetes no Brasil
Estima-se que até 2045 o número chegue a 629 milhões de pacientes
Fonte: IDF
O diabetes tipo 1
* É geralmente detectado na infância ou adolescência
* Acontece quando o pâncreas não consegue produzir insulina para levar o açúcar até as células, para que possam desempenhar suas funções
* Os principais sintomas são: muita sede e fome, vontade de urinar várias vezes ao dia e perda de peso sem motivo aparente
* Calcula-se que esse tipo de diabetes atinja 10% da população mundial
O diabetes tipo 2
* Acontece quando o pâncreas diminui a produção e/ou capacidade de produção de insulina
* Pode ocorrer em qualquer idade, mas acomete principalmente pessoas após os 40 anos
* Os principais fatores de risco são: obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial, colesterol elevado ou alterações na taxa de triglicérides. Síndrome dos ovários policísticos, histórico de doença vascular e apneia do sono também podem estar na origem do diabetes tipo 2
* O DM2 é responsável por cerca de 90% dos casos de diabetes no mundo
Outros tipos de diabetes
* O diabetes gestacional afeta cerca de 10% das gestantes
* Os principais fatores de risco são: estar acima do peso antes de engravidar, elevado ganho de peso durante a gestação, já ter dado à luz a bebês com 4 kg ou mais e já ter apresentado diabetes na gravidez anterior
* Na maioria dos casos os índices de açúcar voltam ao normal após o nascimento do bebê