RIO – “Não vendemos apartamento, mas anos de vida?, diz Ciro Eloy, fundador e CEO do Granja Brasil, resort em Itaipava que reúne casas, residências, apart-hotéis e lojas. Nos últimos anos, Eloy viu crescer o número de cariocas que absorveram seu lema de ter o bem-estar como prioridade, substituindo assim a caótica rotina urbana por um dia a dia tranquilo. Se no início do ano 2000, quando o empreendimento entrou em funcionamento, apenas 30% do frequentadores compravam um imóvel no local para primeira moradia, este número explodiu nos últimos anos: agora 70% das 1.500 famílias são moradoras dos 15 prédios do local. Imóveis
? Eles compravam a unidade para usar como veraneio e viam que aqui tinham mais segurança e uma qualidade de vida melhor e que as crianças podiam sair sozinhas. Assim, acabaram invertendo a lógica e transformaram o temporário em lar permanente ? lembra Eloy.
Assim como o Granja Brasil, outras empresas do mercado imobiliário perceberam este comportamento de ?fuga?, voltando os olhos para cidades como Petrópolis, Araras e Maricá. O foco é o público insatisfeito com a capital e que é atraído por preços mais baixos do que os praticados no Rio, mas com direito a uma forte estrutura de lazer e serviços.
? Um imóvel de 60m² na Zona Sul custa em média R$ 15 a 20 mil o metro quadrado, enquanto um imóvel de 150m² na Granja sai por R$ 9 mil o metro quadrado com todo conforto ? afirma Eloy.
Os condomínios-clubes são a preferência de 90% dos cariocas que escolhem uma residência na Serra. Segundo a gerente da imobiliária Judice & Araujo, Denise Brisson, isto ocorre porque os ?fugitivos? têm uma grande preocupação com a criminalidade.
? O Rio está cada vez mais complicado e as pessoas querem um lugar tranquilo para viver. Na região de Itaipava, Araras e Nogueira não temos esta questão da violência urbana. É mais calmo. O centro do Petrópolis tem mais o ritmo de cidade grande, com ótimos colégios e mais praticidade em termos de logística ? explica.
As construtoras locais e do Rio, como a João Fortes, começaram, a partir de 2014, a investir em empreendimentos mais voltados para a classe média carioca, com apartamentos de três quartos.
? Ainda há ainda unidades disponíveis para venda, mas o mercado voltando ao normal, serão vendidas rapidamente. É possível notar este crescimento de interesse só observando o estacionamento da rodoviária de Petrópolis, lotado de carros dos trabalhadores que deixam seu automóveis lá para ir ao Rio diariamente? afirma José Roberto Sauer, representante do Secovi Rio na Regional Serra Imperial e morador da região há doze anos.
Após fazer os lançamentos na Estrada União Indústria, a STR Engenharia prevê investir em outros prédios na região voltados para a classe média alta. Os dois primeiros, de 96 e 48 unidades, venderam rapidamente. Num primeiro momento, como morada de final de semana. Mas já há um bom fluxo de cariocas desembarcando por lá.
? Os apartamentos de dois quartos custam R$ 440 mil. Já a taxa de condomínio fica, em média, em R$ 400. Em que lugar do Rio é possível encontrar um preço assim? ? questiona Lucas Viegas, gerente comercial da incorporadora.
O empresário Gustavo Machado trocou a agitação do Rio pelos cantos dos passarinhos em Itaipava. Há um ano, depois de muitos testes, se mudou definitivamente com a mulher e as filhas para o Granja Brasil. E não se arrepende em nenhum momento. Antigo morador da Urca, ele diz que a falta de segurança em terras cariocas foi o principal propulsor para a mudança.
? As crianças têm uma vida muito mais tranquila. Há uma escola, centro gastronômico e comercial no condomínio. Não precisamos sair para nada ? diz ele, que trabalha online e desce ao Rio a cada 15 dias.
À ESPERA DA NOVA SUBIDA
O aumento do investimento das construtoras na Região Serrana se deu com o início da construção da nova subida da estrada BR-040, que irá reduzir o tempo de viagem de 1h para 25 minutos. Segundo Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel, o mercado conseguiu se antecipar ao interesse dos compradores do Rio e fez lançamentos expressivos na área. No entanto, a obra não tem previsão de inauguração.
? Com a estrada, Itaipava será um novo bairro do Rio, mas com paz e tranquilidade. É nisso que o mercado acredita ? considera ele.
Mesmo sem esta facilidade no deslocamento, o casal Fábio Correa Rosa, de 51 anos, e Joice Rosa, de 53 anos, não vê a hora de mudar definitivamente da capital. A cordialidade de uma cidade menor é citada por eles, que chamam o apartamento que tem na Serra como ?paraíso?.
? Todo mundo se trata bem e se conhece pelo nome, é uma diferença brutal para o Rio, onde as pessoas mal se cumprimentam ? conta ele.
Na Região dos Lagos, os empreendimentos com infraestrutura completa também são sucesso de venda entre os moradores do Rio. O vice-presidente de Operações da Brasil Brokers no Rio, Bruno Serpa Pinto, conta que 14% dos clientes da imobiliária que compram terrenos em Maricá são da capital e, grande parte, para primeira moradia.
? As construtoras e incorporadoras começaram a investir nas pequenas cidades serranas e da Região dos Lagos com um viés de veraneio num primeiro momento. E, com o passar dos anos, esta fuga da cidade grande passou a ser realidade. O ritmo que a capital imprime e os problemas de mobilidade e segurança levam as pessoas a repensarem a sua vida. Ainda é uma minoria, mas é um movimento ? afirma ele.
Em sua opinião, trabalhadores do Centro do Rio começam a ver os benefícios de viver fora da capital, especialmente no tempo gasto no trânsito.
? Ele tem mais qualidade de vida ao morar em Maricá do que se residir na Barra. O acesso de ir e vir é mais tranquilo. Em uma hora ele chega em casa ? diz Serpa, que lembra que cidades como Cabo Frio e Arraial do Cabo também estão na rota de fuga dos que não suportam mais a cidade grande.
Em Maricá, o mercado imobiliário se desenvolveu de forma verticalizada, ou seja, grandes condomínios de casas com foco na área de lazer, mas por um preço mais acessível.
? É um alto padrão do ponto de vista de estrutura, mas não é um preço de alto padrão. O Jardim Ubá Maricá tem 200 lotes com mais de 12 mil metros de área de lazer (quadra de tênis, clube e parque aquático). Com R$ 160 mil é possível comprar um lote. O Alphaville também investiu na cidade com dois empreendimentos, com preço bem mais em conta do que na Barra, por exemplo? lembra ele.
No mercado de luxo há aumento de procura por casas e fazendas em todo estado. De acordo com José D’Orey, consultor especialista da regional da Bossa Nova Sotheby?s, imobiliária voltada para este público, a troca de cidades tem aumentado em um ritmo constante, porém não acelerado.
? Temos diversas opções a partir de R$1,5 milhão em diferentes estilos e localidades. Você pode optar por uma fazenda em ambiente rural do ciclo do café, completamente reformada ou por uma casa com linhas contemporâneas em um condomínio. No Centro de Petrópolis encontram-se edifícios e também casarões históricos centenários. E esses imóveis costumam ser bem mais em conta que os imóveis de Itaipava, Araras e distritos próximos ? explica.