Presidente Lula critica líderes mundiais ausentes na COP30 e pede foco em soluções climáticas em vez de guerra - Foto: Agência Brasil
Presidente Lula critica líderes mundiais ausentes na COP30 e pede foco em soluções climáticas em vez de guerra - Foto: Agência Brasil

Brasil - O presidente Lula (PT) abriu oficialmente a COP30, ontem (10), com o que parecia ser um discurso sobre o clima, mas rapidamente se transformou em crítica global. De improviso, Lula disparou contra os líderes mundiais que decidiram não comparecer ao evento. Segundo ele, muitos desses ausentes preferem investir em tanques e mísseis do que em painéis solares e reflorestamento, elogiando quem foi à Belém.

“Essa lição de civilidade e grandeza humana, provando que se os homens que fazem guerra estivessem aqui nesta COP iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para a gente acabar com o problema climático do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra, como fizeram no ano passado”, disse o petista na parte improvisada do discurso.

Cúpula de Belém

Já a tão aguardada Cúpula do Clima de Belém, que antecedeu a COP30, terminou com gosto amargo para o governo brasileiro e para a diplomacia nacional. Realizada nos dias 6 e 7 de novembro de 2025, a reunião de alto nível contou com apenas 18 presidentes, 11 primeiros-ministros, um rei e o secretário de Estado do Vaticano — o menor número de líderes globais desde a COP25, em Madri (2019).
O evento, que deveria servir como vitrine internacional da política ambiental brasileira, foi rapidamente apelidado nas redes sociais e entre diplomatas estrangeiros de “FLOP30”, em alusão ao fracasso de público e de gestão.

Diplomatas apontam que o episódio pode enfraquecer a influência brasileira nas negociações ambientais e comprometer futuras parcerias internacionais. “O país que se apresentava como voz do Sul Global agora enfrenta um vexame logístico e diplomático”, resumiu um analista da ONU.

“Só 28”

A expectativa inicial era de uma forte presença internacional, após o Itamaraty anunciar a confirmação de 129 líderes — número que, descobriu-se, incluía vice-presidentes, ministros e representantes secundários. A realidade foi bem diferente: somente 28 chefes de Estado ou de governo compareceram, menos da metade do total registrado na COP29, em Baku, no Azerbaijão.

Entre os poucos líderes que marcaram presença estiveram Emmanuel Macron (França), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia) e Keir Starmer (Reino Unido). Já potências globais como Estados Unidos, China, Itália e Japão enviaram apenas representantes diplomáticos de segundo escalão. A ausência de Donald Trump e Javier Milei foi particularmente simbólica, reforçando a percepção de isolamento do Brasil no debate climático.

Para analistas internacionais, o esvaziamento da cúpula representa um revés político e simbólico para o país que, desde o retorno de Lula ao poder, buscava reposicionar-se como liderança ambiental. “O Brasil queria mostrar protagonismo na agenda verde, mas o resultado foi um constrangimento global”, avaliou um embaixador europeu ouvido reservadamente.

O contraste é ainda mais acentuado com Dubai, considerada o auge diplomático recente das COPs. Naquela ocasião, o próprio papa Francisco havia confirmado presença (embora tenha cancelado por motivos de saúde), e as potências do G7 estiveram representadas por seus principais governantes. Agora, em Belém, nenhum país do G20 fora da Europa enviou seus chefes de Estado. China e México, por exemplo, não participam com líderes há mais de seis anos.

Desorganização e corrupção

Enquanto o esvaziamento diplomático repercutia negativamente no exterior, a COP30 virou alvo de escândalos internos. A oposição no Congresso retomou a ofensiva pela criação da CPMI da COP30, destinada a investigar contratos entre o governo federal e a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) — entidade espanhola contratada sem licitação para organizar o evento.


Segundo denúncia apresentada pelo deputado Zucco (PL-RS), a OEI teria recebido quase R$ 1 bilhão em repasses públicos sob a justificativa de “cooperação internacional”. O parlamentar acusa a organização de atuar como “atravessadora” de contratos, repassando serviços de montagem, hospedagem e infraestrutura a empresas brasileiras mediante taxas de administração de até 10%.

“O que está acontecendo com a COP30 é um escândalo que o Brasil precisa saber”, afirmou o deputado. “Transformaram um evento internacional em vitrine de desperdício e aparelhamento político”, completou.

Denúncias

As suspeitas levaram o TCU (Tribunal de Contas da União) a abrir investigação preliminar sobre os repasses à OEI. O relator do caso, ministro Bruno Dantas, determinou apurações sobre sobrepreços, irregularidades contratuais e descumprimento da Lei de Licitações.
Documentos obtidos pela auditoria indicam que a OEI firmou convênios com vários ministérios — entre eles, Relações Exteriores, Meio Ambiente e Casa Civil —, o que teria permitido a contratação direta de fornecedores nacionais e estrangeiros sem concorrência pública.


As denúncias ganharam força com relatos de falta de infraestrutura básica em Belém, como escassez de água, atrasos em montagens e valores abusivos cobrados de delegações internacionais.

Comparativo

Conferências anteriores

COP26 (Glasgow, 2021)

120 chefes de Estado

COP28 (Dubai, 2023)

Recorde de 139 líderes, incluindo nove monarcas

COP29 (Baku, 2024)

61 líderes

COP30 (Belém, 2025)

apenas 28 líderes