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Demisse, que não retornou à Etiópia após Rio-2016, corre sexta, no Aterro

INFOCHPDPICT000061483040RIO, 18 (AG) – Prata nos Jogos Paralímpicos do Rio nos 1.500m, classe T13 (deficiente visual parcial, que não precisa de guia para correr), em setembro de 2016, o etíope Tamiru Demisse vive um turbilhão de emoções desde então. Além da medalha inédita, ficou marcado por cruzar os braços ao alto , após a prova e em protesto ao presidente de seu país, Mulatu Tshome, acusado de reprimir violentamente qualquer manifestação contrária a seu governo.

O gesto – repetindo o compatriota Feysa Lelisa, que o fez ao cruzar a linha de chegada da maratona na Olimpíada, também em segundo e antes do evento paralímpico – mudou a vida do atleta de 22 anos, que não retornou à Etiópia e ainda luta para conseguir asilo no Brasil.

Nesta sexta-feira, ele será um dos 5 mil atletas que vão disputar a Corrida de São Sebastião (na distância de 10 km), no Aterro do Flamengo, a partir das 7h30. O evento terá ainda corrida de 5 km.

– Minha pretensão nesta corrida é me testar. Será a minha primeira prova de dez quilômetros na rua, porque ainda não competi nesta distância, só fiz treinamentos – contou ele. -Esta será a minha primeira corrida após a Paralimpíada.

O medalhista afirma que seu povo, da etnia Oromo, sofre com a opressão. Mais de três mil pessoas já morreram. Por isso, decidiu se arriscar e aproveitar a visibilidade dos Jogos no Rio para contar ao mundo seu drama:

– Meu protesto foi contra o governo da Etiópia. Muitos da minha etnia estão sendo torturados e aprisionados. Então, quando surgiu a chance de participar dos Jogos Paralímpicos, decidi fazer o protesto, ciente de que não poderia voltar mais para o meu país sem colocar minha vida em perigo.

Demisse vive no Brasil há quatro meses e tem recebido ajuda financeira do amigo Feysa Lelisa que, também com medo de represálias caso voltasse à Etiópia, ficou no país cerca de duas semanas e meia até conseguir ir para os Estados Unidos.

– Tenho me mantido através de doações do meu amigo Feysa, que continua me dando apoio financeiro – revelou o atleta, que espera ficar de vez no Brasil. – As providências já estão sendo tomadas. Ainda não tenho como afirmar o que irei fazer caso não consiga asilo político no Brasil.

Deficiente visual desde os nove anos, por causa de uma infecção, quando perdeu um olho e o outro manteve apenas 30% da função, o etíope começou a correr aos 17 anos. A opção pelo atletismo foi natural: é a principal modalidade esportiva na Etiópia.

Mas Demisse precisou se adaptar ao esporte paralímpico.

– No início, foi difícil. Mas ao longo dos anos, meu organismo acabou se adaptando à esta deficiência a ponto de poder competir até com atletas sem deficiência.

NOS EUA

Feysa também tem destino indefinido. Em uma entrevista em setembro, em Washington, ele chegou a contar que tinha um visto americano que lhe permitia treinar e competir nos Estados Unidos até janeiro. À época da entrevista, Feysa disse que explorava a possibilidade de se mudar para o Arizona ou Novo México para treinar em altitude com outros etíopes antes de voltar às competições. Repetiu à exaustão que não buscava asilo ou cidadania nos EUA naquele momento. E que se lhe fosse dada a oportunidade de concorrer pelos EUA, poderia recusar

Feysa também contou que mantinha contato com a esposa, a filha de cinco anos e filho de três anos, pelo Skype. E que lutava para não chorar. Na ocasião, disse que, a cada conversa com a família, eles perguntam quando voltaria para casa e o que fazia longe.