DAVOS – O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou, nesta quinta-feira, que é preciso repensar o sistema de cartões de crédito no Brasil. Segundo ele, existem subsídios cruzados entre as diferentes formas de pagamento em que ?uma parte paga pela outra?. A redução dos juros cobrados nos cartões é uma das medidas nas quais o governo aposta para reduzir o endividamento das famílias e estimular a economia.
Hoje, a principal forma de pagamento escolhida pelos consumidores é o crédito parcelado sem juros. Assim, para se proteger da inadimplência, as administradoras cobram taxas de juros muito elevadas no crédito rotativo. Segundo os dados do BC, elas chegam a quase 500% ao ano. Para tentar reduzir esse valor, a autoridade monetária quer fazer uma ampla discussão com bancos e administradoras de cartões e especialistas no mercado.
– Tem que repensar o modelo (de cobrança nos cartões). Ele funciona, mas tem muitos subsídios cruzados. Uma parte paga pela outra. É preciso pensar de uma forma sustentável – disse ele, acrescentando:
– Eu gostaria que cada parcela tivesse seu próprio (custo) e que uma parte não precisasse subsidiar a outra.
O governo já negociou com o setor financeiro um acordo pelo qual os clientes que atrasarem o pagamento das faturas por mais de um mês deixarão de ser enquadrados na modalidade de crédito rotativo para ingressar na modalidade de parcelamento. Isso significa que, com um mês de atraso, o cliente pagará as taxas do rotativo. No entanto, se não conseguir fazer o acerto a partir do segundo mês, ele passará a pagar as taxas de parcelamento, que também são altas, mas menores que as do rotativo.
O presidente do BC conversou com jornalistas pouco antes de deixar Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial (WEF). Ele disse que a recepção que o Brasil recebeu no evento superou as expectativas:
– Hoje é o nosso último dia aqui. Foi, em geral, um bom conjunto. A minha expectativa sobre a recepção do Brasil foi ultrapassada. O clima em relação ao país foi muito bom. Passa a percepção de que houve uma inflexão em relação ao Brasil.
Perguntado sobre se isso poderia recuperar mais rapidamente a imagem do país junto às agências de classificação de risco ? que retiraram o grau de investimento (selo de bom pagador) ?, Goldfajn disse que essas instituições têm rituais próprios que levam tempo. Ele ressaltou que já é possível observar uma melhora na percepção de risco do Brasil e que, eventualmente, isso vai acabar se refletindo na nota do país:
– As medidas tomadas pelo Brasil, a queda da inflação podem trazer uma percepção de risco menor, que aparece nos preços de ativos do mercado. As agências têm seu processo, seu ritual. O que estamos vendo no mercado vai acabar se refletindo nas agências ao longo do tempo. Não sou eu que vou determinar o ritmo das agências. O que nós podemos fazer é trabalhar.
O presidente também comentou o resultado do IPCA-15, divulgado hoje, que foi o mais baixo registrado para o mês de janeiro desde 1994.
– O resultado do IPCA-15 faz parte do cenário em que estamos trabalhando. Ele (o número) confirmou o cenário básico.
Perguntado sobre se o governo estuda reduzir a meta de inflação para 2019, que será fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no meio de 2017, o presidente do BC disse que isso vai ser tratado posteriormente:
– Não vou adiantar a discussão sobre a meta de 2019. Quando chegar lá vamos tomar a decisão apropriada.
Em Davos, ele afirmou, ao longo da semana, que uma redução das taxas de juros num patamar de 0,75 ponto percentual é o novo ritmo de condução da política monetária. Na semana passada, o BC supreendeu o mercado e baixou a Selic em 0,75pp, deixando a taxa em 13% ao ano. Segundo Goldfajn, o novo ritmo foi citado na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom):
– Tudo o que a gente falou aqui repetiu ata e o comunicado (do Copom). O parágrafo 22 da ata já falava no estabelecimento de um novo ritmo e que mudanças nesse novo ritmo vão depender das projeções de inflação. Repetimos apenas mensagens que demos na ata.
*Enviada Especial