“Tenho 41 anos, nasci em Itapetininga (SP) e comecei a tatuar em 1985, seguindo os caminhos do meu pai, filho de imigrantes japoneses. Em 1994, abri meu estúdio no Japão. Trabalhei com o estilo tradicional japonês de tatuagem, o wabori. Voltei ao Brasil em 2014 e inaugurei um estúdio na Liberdade, bairro paulistano da colônia japonesa.”
Conte algo que não sei.
Apesar de fazer tatuagem nos outros desde que eu tinha 10 anos, e de ter ganhado prêmios em países como Irlanda e Portugal, não tenho nenhuma tattoo em meu corpo.
E por que não?
Quando eu era criança e adolescente, tinha vontade, mas depois ela sumiu. Percebi que a tatuagem pode trazer muito estigma, e não quero que as pessoas me julguem só ao me olhar. Considero que é apenas o meu trabalho, minha vida profissional. Não quero brincar de Picasso na pele de ninguém e não acho que precise de tatuagens no meu corpo para ser um bom tatuador.
Os clientes estranham o fato de você não ter tatuagem?
Todos estranham. Mas o mais importante são os trabalhos que faço, e não o que tenho desenhado na pele. Há bons tatuadores que têm péssimas tatuagens no corpo. E aí isso vira um terrível cartão de visitas, para sempre. A tatuagem é algo permanente, e minha vida muda muito. Não acho que combine comigo.
Como você se interessou por tatuagens?
Meu pai descobriu a tatuagem no Brasil, ainda totalmente manual, com tinta de caneta. Depois, começou a construir as próprias maquininhas, e passei a me interessar. Em 1985, no primeiro Rock in Rio, tatuadores estrangeiros apareceram na TV. Nunca tínhamos visto isso na mídia. Era final de ditadura, quem tinha tatuagem era visto como bandido ou vagabundo. Foi então que comecei a tatuar. Resolvi me profissionalizar quando fui para o Japão, em 1994, e abri meu estúdio.
Qual a diferença entre ser tatuador no Brasil e no Japão?
No Japão, a tatuagem se popularizou depois dos anos 2000. Mas, agora, o governo quer restringir, porque considera que não é algo que, tradicionalmente, pertença à cultura japonesa. A tradição lá pesa muito. Já o Brasil é o segundo maior mercado no mundo, só perdendo para os EUA. O Brasil é muito aberto, é mais fácil ser tatuador aqui do que em um país como o Japão.
E qual o melhor lugar do mundo para ser tatuador?
Para o que eu faço, particularmente, considero que São Paulo é melhor do que Londres ou Tóquio. Mas, em geral, a Alemanha é muito boa para a profissão.
Você já sentiu preconceito por ser tatuador?
Sim, no Japão. Eu não pagava meu imposto como tatuador, e sim como desenhista. A profissão sofre pressão cada vez mais negativa no país. Foi um dos motivos que me fizeram querer voltar ao Brasil. Não adiantava continuar no Japão, um país superdesenvolvido, mas onde há pouca liberdade. Considero que é uma ditadura moderna.
Qual a dica para as pessoas não se arrependerem depois de fazer uma tatuagem?
Tem que pesquisar muito bem antes de se decidir pelo que vai desenhar na pele. Tem que ser pelo menos algo que sua avó diga “acho ridículo, mas está bem feito”.
Por que você acha que a tatuagem atrai tantas pessoas?
A tatuagem ainda é algo que desafia a sociedade, tem um quê de proibido. Ela só tem sentido se disser alguma coisa, se for capaz de expor uma crítica. Se todos fossem obrigados a ter tatuagem, ninguém iria querer. É uma resposta natural. E como é clichê que todo tatuador tenha várias tattoos isso me faz não querer ter nenhuma. É a minha forma de ir contra, de alguma maneira.