RIO – O artigo de Caetano Veloso publicado ontem na capa do Segundo Caderno, em que
o cantor e compositor dizia que a extinção do Ministério da Cultura pelo governo
do presidente interino Michel Temer é ?um ato retrógrado?, encontrou eco junto à
comunidade artística. A autora e diretora Karen Acioly apoia as críticas do
cantor:
? O Caetano sempre esteve no lugar de visionário,
mostrando para onde podemos apontar. Muitas vezes ele percebeu o momento antes
de nós. O artigo dele é lúcido, sóbrio, completamente nítido, não tem nada
obscuro. Em tempos sombrios como esses, precisamos olhar para a luz.
O dramaturgo, ator e diretor Domingos Oliveira é enfático:
? Não discordo de nenhum ponto do artigo. De Caetano não
se duvida. Acho apenas suave demais. Diminuir o status político da cultura,
antes de tudo é um desaforo, uma falta de educação. Com quem eles pensam que
estão falando?
Para o presidente da combativa Associação dos Produtores de Teatro do Rio de
Janeiro (APTR), Eduardo Barata, Caetano ?está corretíssimo?:
? Eu até ampliaria as questões que ele colocou. Cortar o
terceiro orçamento mais baixo da União… Que economia é essa? Acabar com o MinC
é um retrocesso monstruoso. Parece mais uma retaliação ideológica e política ?
observa ele, que também comentou o ?toma lá dá cá? citado pelo cantor na
formação do ministério. ? Não há um notável, são todos parlamentares. Os que
apoiaram o impeachment estão sendo premiados com ministérios e outros
cargos.
Para outro militante do teatro, o ator e produtor Tárik
Puggina, o que chamou a atenção no artigo é o fato ?de que Caetano reconhece
esse governo?.
? E eu e boa parte da classe artística o repudiamos, não acreditamos que ele
(o governo Temer) seja legítimo ? diz Puggina. ? Como o Caetano, estou
totalmente descrente.
Mesmo não concordando com alguns pontos do artigo, o cantor e compositor
Pedro Luís considera importante que artistas de peso saiam em defesa do
Ministério da Cultura.
? O MinC estava muito perto de conseguir conquistas que são referência no
mundo, como a questão dos direitos autorais ? diz ele, referindo-se a um dos
temas comentados no artigo. ? Para mim, este é um momento de observação; vejo
uma instabilidade no padrão democrático que acreditávamos ter conquistado.
Produtora de cinema e uma das idealizadoras do Festival
do Rio, Walkíria Barbosa não vê a vinculação da pasta da Cultura ao Ministério
da Educação como uma ?desonra?. Para ela, a questão está na condução de
políticas públicas de qualidade por quem quer que venha a assumir a
secretaria.