BRASÍLIA ? Ex-ministro da Comunicação Social do governo Dilma Rousseff, Edinho Silva diz que o papel do PT a partir de agora é ser uma oposição qualificada, diferente da que foi antes de chegar ao poder, em 2003. Para ele, Dilma precisa continuar defendendo a tese de que não há fundamentação jurídica para o impeachment.
Agora que Dilma Rousseff foi afastada, o que fazer?
A gente tem que continuar fazendo a defesa do governo Dilma, há o processo no Senado. Temos todas as condições de fazer a defesa jurídica do governo, continuar caracterizando que não há crime que justifique o impeachment. Cabe ao PT e aos movimentos sociais manterem o debate na sociedade, a defesa da tese de que não há fundamentação jurídica para o impeachment, que a presidente Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade.
O senhor acredita que há chances reais de Dilma voltar à Presidência?
O fato político de afastamento da presidenta está criado e, independentemente do desfecho no Senado, mesmo sendo um desfecho favorável ao governo Dilma, nós temos desafios imensos pela frente. A concretização do fato coloca desafio para a esquerda e, de forma especial, para o PT.
Dilma afastada ainda tem capacidade de mobilizar a sociedade em defesa da tese de que o impeachment é golpe?
A presidenta Dilma tem uma capacidade de mobilização muito grande. Ela se tornou um símbolo da afronta à democracia brasileira.
Mas Dilma não corre o risco de se tornar repetitiva?
Tudo depende de como você constrói a narrativa. É claro que você tem que construir uma narrativa dela agora afastada do governo. Penso que esse campo democrático de esquerda que se mobilizou no Brasil também espera que ela lidere esse processo até o fim, defendendo o ponto de vista de que não há motivo para o impeachment. Ela não pode recuar.
Como será a vida da presidente afastada até o julgamento final do impeachment?
Ela tem que pôr lideranças para falar por ela também, tem que escolher os momentos em que aparece, que fala. Você tem dezenas de lideranças no Brasil que podem percorrer universidades, os setores empresariais, dos trabalhadores, a comunidade internacional. Tem um espaço imenso para ser trabalhado.
E quanto ao PT, quais são os principais desafios do partido?
Nós temos o desafio de fazer uma avaliação dos erros que cometemos, que acabaram por criar as condições para que o pedido de impeachment avançasse na Câmara e no Senado; temos que fazer uma avaliação do porquê nós perdemos tanta base na sociedade, o que impediu que nós tivéssemos uma reação política; como perdemos o debate da corrupção. O partido tem que buscar uma reconexão com a sociedade, não só com as nossas bandeiras históricas, mas com a construção de novas bandeiras.
Qual foi o principal erro do partido quando esteve no comando do governo?
É difícil hierarquizar o principal erro. Mas evidente que, no momento em que começamos a perder apoio na sociedade e não conseguimos reverter esse quadro, ficamos reféns do Congresso.
O PT conseguirá voltar a ter a força que tinha quando conseguiu ascender pela primeira vez ao maior cargo da República?
Eu não tenho nenhuma dúvida de que é o pior momento do partido. O PT terá que fazer uma profunda avaliação do processo que nos trouxe a esse quadro sem deixar de considerar que o PT foi o partido que mudou a lógica das políticas públicas que vão continuar sendo referência por um longo período.
Qual será o papel do PT agora?
O papel que o PT tem que jogar nesse momento é o de uma oposição que sinalize ao país aquilo que nós defendemos nos últimos 13 anos e que defendemos para o futuro do país. Se o PT cair na tentação de ser oposição nos moldes do que foi na década de 90, nós só vamos agravar a crise do partido.
Qual será o papel de Lula?
Com todo o desgaste que estamos sofrendo, o presidente Lula foi duramente atingido. Fazer a defesa de Lula é fazer a defesa de um legado. Ao contrário de outros países, que tratam seus ex-presidentes com zelo, como um patrimônio, nós não cuidamos dos nossos ex-presidentes. Lula terá um papel fundamental nesse processo de reconstrução do PT.
O que o senhor achou do governo Temer?
Ele compôs um governo que refletiu as alianças que fez durante o processo de impeachment na Câmara. O que vai ser desse governo vamos ver nos próximos meses.