RIO – Pelo menos 27 pessoas morreram, nos últimos dois meses, durante tiroteios em 21 comunidades próximas a locais onde haverá competições dos Jogos Olímpicos. A maioria dos confrontos envolveu disputas de território entre traficantes. Uma dessas guerras teve início no último dia 5, quando bandidos assassinaram um PM do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que participava de uma operação de inteligência no Morro da Providência. Nas horas seguintes, cinco suspeitos foram mortos. Na semana passada, confrontos entre facções no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, deixaram três vítimas.
O Morro da Providência, localizado entre os bairros do Santo Cristo e da Gamboa, fica a poucos metros do Sambódromo, onde haverá competições de tiro com arco e a chegada de maratona. Do outro lado da favela, na revitalizada Praça Mauá, ficará a tocha olímpica.
No dia do ataque na Providência, o objetivo do Bope era justamente desmantelar, com PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a quadrilha que vende drogas na comunidade e deixar a região mais tranquilo para os Jogos. Mas o tiro saiu pela culatra. Um erro fatal acabou trazendo mais instabilidade à favela. Ao adotar a estratégia chamada de cavalo de troia, cujo objetivo era localizar bandidos e surpreendê-los, policiais embarcaram em um veículo utilizado em outras ações da PM, e parte da quadrilha o reconheceu.
Os conflitos mais recentes ocorreram semana passada nos morros do Chaves, Proença Rosa, Jorge Turco e do Juramento, todos na Zona Norte, que ficam num raio de oito quilômetros do Complexo de Deodoro, onde serão disputadas provas de hipismo, ciclismo, canoagem e tiro esportivo. As quatro favelas foram dominadas em janeiro de 2015 pelo bando do traficante Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, morto pela polícia em agosto do ano passado. O setor de inteligência da Polícia Civil tem informações de que a mais antiga facção criminosa do Rio está retomando os pontos que perderam para Playboy. Por isso, alguns chefes desse grupo mais antigo, que foram soltos recentemente, beneficiados por medidas judiciais, estão na linha de frente e trazendo o terror para os bairros perto de áreas dos Jogos. O traficante Ricardo Severo, por exemplo, passou para o regime semiaberto em 25 de abril do ano passado, mas não retornou à prisão. Ele é apontado como o chefe do Morro do Chapadão, em Costa Barros, que comandou a invasão ao Juramento.
A Secretaria de Segurança informou que vem monitorando as rotas e os trajetos que serão utilizados pelas delegações olímpicas e anunciou que fará operações pontuais, mas não há previsão de ocupações de comunidades. Além disso, todo o planejamento vem sendo acompanhado também pelo Exército e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).