Cascavel e Paraná - Cascavel congelou! Nesta semana, os termômetros despencaram, com temperatura negativa e sensação térmica ainda mais gelada. Enquanto muita gente agradece por ter uma casa, roupa e comida quentinha, além de um cobertor para se proteger, tem quem continue trabalhando firme na rua para ajudar quem mais precisa.
É o caso das equipes da Seaso (Secretaria de Assistência Social), que não para nem de dia nem de noite. Eles estão sempre por aí, abordando quem está em situação de rua e encaminhando essas pessoas para serviços de acolhimento. Mas o desafio é grande: quanto mais gente precisa de ajuda, mais verba é necessária e o dinheiro, como sempre, é contado.
Diante deste quadro, a reportagem do Hoje Express conversou com quem conhece bem esta realidade: o ex-secretário da pasta e atual vereador Hudson Moreschi Júnior. Ele comandou a Seaso durante vários anos e sabe cada número da assistência social. Em 2025, o orçamento da secretaria gira em torno de R$ 70 milhões, sendo que apenas R$ 7 milhões vêm dos governos federal e estadual. O resto, ou seja, R$ 63 milhões, sai do bolso do próprio contribuinte de Cascavel.
Deste total, cerca de 60% vai pra folha de pagamento dos servidores e os outros 40% são usados pra manter 40 diferentes serviços da rede de assistência. Mesmo com pouco, Cascavel se destaca como “Gestão Plena”, o que significa dizer que a cidade dá conta de manter todos os serviços sozinha (com dificuldades), sem depender tanto dos outros entes.
“O problema é que a população cresce, a demanda aumenta, mas o orçamento continua o mesmo”, desabafa Moreschi. A saída? Segundo ele, seria o governo estadual e o federal colocarem mais dinheiro na roda — o que, há anos, não acontece.]Esmola não resolve
O tema da população em situação de rua voltou com força no começo do ano, depois do assassinato brutal de Luiz Lourenço, que foi morto por um morador de rua perto do Parque Vitória, praticamente no centro de Cascavel, no dia 25 de março. Luiz foi atacado com golpes de concretos envolvidos em um cano de PVC; as imagens do homicídio percorreram o país e empoderou a sociedade local que cobrou soluções com mais firmeza.
Moreschi relembrou que, dois anos atrás, lançou a campanha “Esmola Não”. A ideia era conscientizar a população a não dar dinheiro direto na rua, já que isso acabava sustentando grupos e dificultando o trabalho da assistência. Depois disso, os órgãos de segurança se uniram para recuperar a “sensação de segurança”. “Tivemos uma melhoria depois deste trabalho que foi uma verdadeira força-tarefa e, a partir de então, as pessoas passaram a entender que elas também precisam fazer a sua parte para que a realidade mude”, avaliou.
“Não é simples”
No entanto, o vereador lembrou que a situação neste tipo de atendimento não é tão simples como parece, já que precisa ser separado “o joio do trigo”, triar as pessoas que estão nas ruas e que precisam de ajuda daquelas que são ligadas ao crime, se mantendo nas ruas para furtar, roubar e manter os seus vícios. “Nos bastidores não é tão simples e o Município precisa cumprir regras inclusive da Defensoria Pública e analisar cada caso”, explicou]
8100 mil atendimentos por ano
E o trabalho da Seaso não se resume só a quem está nas ruas. Todo ano, a secretaria realiza cerca de 100 mil atendimentos, sendo que apenas 3 mil são direcionados a moradores de rua, ou seja, só 3% do total.
Atualmente, Cascavel tem 40 unidades da rede socioassistencial espalhadas pela cidade: são 9 Cras, 4 Creas, 7 Centros de Convivência e várias casas de acolhimento. Em breve, vai ser inaugurado mais um Cras e mais um Centro de Convivência no Ecopark do Santa Felicidade.
Esses serviços atendem desde crianças e adolescentes até idosos, mulheres vítimas de violência, pessoas com deficiência e famílias em situação de vulnerabilidade. Pra quem vive nas ruas, existem dois espaços principais: a Casa Pop, onde é possível morar temporariamente, e o Centro Pop, que oferece banho, comida e descanso.
Além disso, a Seaso também comanda os Conselhos Tutelares (são três unidades), quatro Restaurantes Populares e o programa Famílias Acolhedoras. Ao todo, a rede conta com cerca de 700 profissionais entre concursados, comissionados e estagiários.
Cobertor curto demais
Mesmo com toda estrutura pública municipal existente, o cobertor ainda não cobre todo mundo. Por isso, a secretaria conta com parcerias com 17 entidades da sociedade civil, todas regulamentadas pelo CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social), que disputam os recursos por meio de editais públicos.
Instituições como o Albergue Noturno André Luiz, a Cemic, a Apae e o Abrigo São Vicente de Paulo prestam um serviço essencial, mas vivem no sufoco. Só o Albergue, por exemplo, acolhe diariamente cerca de 50 pessoas, oferecendo comida e cama. O custo? Cerca de R$ 90 mil por mês. O repasse da Prefeitura? Só R$ 40 mil. “Neste ano foi liberado R$ 6 milhões para as entidades, valor que precisa ser dividido, por isso, a maioria delas dependem de promoções sociais, bazar ou de doações para conseguirem manter as contas em dia”, completou.
E o quadro social da cidade mostra que a demanda está longe de acabar. Cascavel tem 50 mil pessoas cadastradas no CadÚnico, o que representa cerca de 100 mil moradores com renda per capita de até meio salário mínimo. E ainda há 12 mil famílias que recebem o Bolsa Família, somando R$ 8 milhões mensais, somente em Cascavel.