FLORIANÓPOLIS – O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, engrossou o coro dos que fazem críticas à condução da operação Carne Fraca, que investiga irregularidades na venda de carne por 21 frigoríficos do país. Sobral considera que houve um de ‘erro de comunicação’ da PF ao divulgar que a operação foi a maior da história da instituição.
? Ao dizer que é a maior, dá uma dimensão muito grande, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico de todo o mercado produtivo brasileiro. Se for uma crise sistêmica, vamos divulgar como crise sistêmica. Se foi pontual, acho que tem que ter transparência. Para mim o erro foi divulgar como a maior operação da história ? disse Sobral.
? A operação foi necessária, havia corrupção, servidores públicos envolvidos e alguns frigoríficos. Havia crime e a investigação aconteceu. Ao final, a nota da PF diz que foi a maior operação da história. Por causa do quê? Do número de mandados. Só que você dizer que é a maior, envolve uma série de variáveis com importância, repercussão econômica, social. Ao dizer que é a maior, dá uma dimensão muito grande, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico de todo o mercado produtivo brasileiro ? completou ele.
Apesar de criticar a forma como a ação foi divulgada, Sobral pondera que o fato de os investigadores terem levados dois anos para deflagrar a operação não indica, necessariamente, que houve riscos à saúde dos consumidores.
? Para quem está de fora é muito difícil falar o momento certo de deflagrar uma operação. Eu não tenho detalhes da investigação. Do que eu vi, quando havia risco de um produto chegar ao consumidor, algumas medidas eram acionadas para evitar isso. Você continua com a investigação mas não permite que a saúde seja prejudicada. É algo comum numa investigação dessa envergadura ? explicou.
Cerca de 400 policiais federais estão reunidos desde segunda-feira no VII Congresso Nacional dos Delegados de Polícia Federal, que vai até o dia 23, no Costão do Santinho Resort, em Florianópolis. O tema do encontro, neste ano, é o ?Fortalecimento e Autonomia da Polícia Federal para o Combate à Corrupção?. O presidente da ADPF afirma que a escolha do tópico tem a ver com o momento de disputa entre as instituições do país.
? Há um cabo de guerra institucional que é ruim para todo mundo. Quando há competição, ninguém trabalha junto. O Ministério Público quer retirar o poder da polícia de fazer a investigação. O que podíamos fazer de forma exclusiva, passou a ser compartilhado. Passa a impressão que hoje somos cumpridores de mandado, quando na verdade nós fazemos a investigação. Essa impressão nos faz perder a capacidade de agir ? acredita Sobral.
* Especial para o GLOBO