CURITIBA – Em depoimento à Polícia Federal, na quarta-feira, o advogado Rafael Nojiri Gonçalves confirmou que teve evolução patrimonial de R$ 1,26 milhão entre 2012 e 2015, e atribuiu os ganhos a serviços consultorias de gestão a empresas de fertilizantes. Rafael é filho do ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, também preso na Operação Carne Fraca e apontado na investigação como chefe e ?articulador? do esquema criminoso de cobrança de proprina em troca em troca do relaxamento da fiscalização em frigoríficos.
Apesar de não ter formação técnica na área de fertilizantes, Rafael declarou no depoimento que desde os 18 anos considera-se ?especialista? na área, já que tinha ?contato próximo? com o trabalho da mãe, Alice Mitico Nojiri Gonçalves, que é dona de uma empresa que atua no ramo, e também foi presa na operação. A PF considera que a família de Gonçalves teve “um incremento patrimonial atípico” e vêm indícios de que Alice e o filho usavam as empresas de que são sócios para lavagem de dinheiro.
Daniel Gonçalves Filho é agrônomo e foi superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, com o apoio de políticos do PMDB no estado. Foi exonerado no ano passado pela ex-ministra da pasta, senadora Katia Abreu, que revelou ter sofrido forte pressão de peemedebistas paranaenses para mantê-lo no posto.
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No depoimento à PF, Rafael detalhou ter atuado no processo de reestruturação da Primocal Fertilizantes e da Pavin Fertil, além de prestar serviços à Fortesolo Serviços Integrados. As consultorias, segundo ele, eram feitas sem laudos ou manifestação técnica, mas de “maneira presencial”. Apesar de admitir que alguns contatos foram feitos por intermédio do pai, disse que ele, o pai, não se envolvia nas negociações.
Rafael, que teve a prisão temporária prorrogada até domingo, dia 26, declarou ser sócio de cinco empresas envolvidas nas investigações (Dalchem Gestão Empresarial; Lara Consultoria Empresarial; Morretes Água Mineral; BG Consultoria; e Balaban & Gonçalves Advogados), além da Eagle Consult Soluções Tributárias. As principais movimentações financeiras foram feitas, segundo ele, pela Dalchem, fechada há dois anos. Mais recentemente, ele disse que passou a se dedicar a advocacia.
Ainda no depoimento, Rafael declarou que era comum “portar” grandes quantias de dinheiro em espécie. Entre março e abril de 2016, por exemplo, disse ter sacado R$ 500 mil do escritório de advocacia Balaban & Gonçalves Advogados para divisão dos lucros e pagamentos de despesas. Ele não soube informar qual a quantia que lhe coube nessa partilha, mas afirmou que guardou a “verba” em casa, aguardando pela oportunidade de fazer um ?bom negócio?.
A mulher de Daniel, Alice, liberada da prisão na quarta-feira, também depôs à PF, e confirmou que era sócia da Dalchem com o filho. Ela relatou que fez diversas doações de quantias a ele e a outra filha e que também era comum em suas atividades movimentar grandes quantias em espécie. Ela contou que, a pedido de Rafael, carregou R$ 30 mil em uma viagem a Foz do Iguaçu, para dar entrada na compra de um terreno na cidade. Mas, como o negócio não prosperou, depositou o valor em diversos envelopes no caixa eletrônico de volta para o filho.
OUTROS DEPOIMENTOS
Além de Rafael e Alice, outros oito envolvidos detidos na Operação Carne Fraca já prestaram depoimentos à Polícia Federal: Antônio Garcez da Luz (ex-chefe da unidade do Ministério da Agricultura em Foz do Iguaçu) e Brandizio Dario Junior (ex-chefe da unidade do Ministério em Maringá) ? mantidos presos por suspeita de fazer parte de um escalão intermediário no suposto esquema ? e os servidores Osvaldo José Antoniassi; Leomar José Sarti; Sidiomar de Campos; Celso Dittert de Camargo; e Marcelo Tursi Toledo; além de Mariana Bertipaglia de Santana, também parente de Daniel Gonçalves. Todos negaram fazer parte do esquema de propinas.
*Especial para O GLOBO