Brasil - A continuidade do programa Pé-de-Meia, que paga R$ 2 mil por aluno de baixa renda do ensino médio, depende de o governo ajustar o Orçamento em 2025, disse ontem (10) o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Augusto Nardes. Ele recebeu os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Educação, Camilo Santana, para discutir o bloqueio de quase metade dos recursos do programa para este ano.
“Estamos buscando um diálogo, a conversa é fundamental para encontrar caminhos. É um programa importante para o país. O tribunal não é contra o programa, o que nós queremos é que seja ajustado via Orçamento. Então, nessa primeira conversa, foi estabelecido isso como ponto central”, declarou Nardes. O ministro acrescentou que está ouvindo representantes do governo e do Congresso para superar o impasse e manter o Pé-de-Meia.
Relator de um processo que pede a inclusão do Pé-de-Meia no Orçamento de 2025, Nardes bloqueou, em 19 de janeiro, R$ 6 bilhões dos R$ 13 bilhões previstos para o programa neste ano. Três dias mais tarde, o plenário do TCU manteve a decisão. A AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu, e o TCU pode analisar o recurso nesta semana.
Nardes acatou ação do subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público junto ao TCU (MPTCU), que alegava que os valores utilizados para o crédito do programa estavam fora do Orçamento porque, ao não passarem pela conta única do Tesouro Nacional, os recursos dos fundos burlavam o limite de gastos do arcabouço fiscal, que restringe o crescimento dos gastos a 70% do crescimento real (acima da inflação) da receita no ano anterior. A área técnica do TCU manteve o alerta.
O governo defende a inclusão do Pé-de-Meia no Orçamento de 2026. O TCU, no entanto, quer a inclusão já no Orçamento deste ano, que ainda não foi votado pelo Congresso. Segundo Nardes, o TCU está negociando uma forma de “modular” a decisão, ouvindo todos os ministérios e o Congresso. Além de Haddad e Santana, o ministro do TCU se reunirá com os novos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. Ele também pretende conversar com parlamentares da situação e da oposição.
O Centrão
As irregularidades no Programa Pé de Meia apontadas pelo TCU são elementos fundamentais do novo pedido de impeachment contra o presidente Lula que já reúne assinaturas suficientes para ser protocolado pela oposição na Câmara Federal. Contudo, o novo pedido que chega reforçado pela queda na popularidade do mandatário diante da alta inflação nos preços dos alimentos, depende do “Centrão” para prosperar em sua tramitação. E este é exatamente o “grande obstáculo” de proteção de Lula
Como já amplamente divulgado pela imprensa, parlamentares de direita defendem que já existem fundamentos políticos e jurídicos suficientes para a abertura de um processo de impeachment. E, para que a iniciativa ganhe força, o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS), autor do pedido, segue pregando a necessidade de apoio popular. Por conta disso, uma manifestação em apoio ao impeachment está sendo organizada para 16 de março em São Paulo.
Política do “troca-troca”
Contudo, observadores afirmam que o famosos “toma-lá-da-cá” do Planalto com o Centrão pode barrar o pedido, já que esse conhecido grupo tem apoiado Lula em algumas votações, em troca de cargos e liberação de emendas. Outro componente a favor de Lula é a “parceria” do petista com o STF (Supremo Tribunal Federal).
À Gazeta do Povo, o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí, disse que o consenso em torno de pautas econômicas, como a expansão de gastos públicos e a criação de cargos, tem fornecido apoio parlamentar ao governo. “As medidas de expansão do gasto público e criação de novos postos na administração governamental gozam de carta branca”.