Cotidiano

Após serem perseguidas, alunas têm medo de caminhar perto da UFF

RIO – O percurso diário de cerca de 800 metros de casa até o campus da Universidade Federal Fluminense, no Ingá, em Niterói, onde Izabella Delfino, de 19 anos, cursa o 2º período de direito, passou a ser um pesadelo para a estudante. No último dia 6, por volta das 13h30m, depois de almoçar no bandejão do campus do Gragoatá, a jovem viu, pelo reflexo no vidro de um carro, que um homem a observava. Ela conta que acelerou o passo, mas o estranho não deixava de persegui-la.

— Ele atravessava onde eu atravessava, logo atrás, sempre mantendo contato visual. Entrei num mercado, fiquei cerca de 20 minutos ali para despistar. Estou muito assustada — disse a jovem.

Izabella não é a única a temer o trajeto. Depois que foi seguida, pelo menos mais quatro universitárias da UFF sofreram algum tipo de ameaça ou assédio, e expressaram sua revolta em redes sociais. Em um dos casos, uma jovem conta que três homens, um deles com faca, obrigou a estudante a acompanhá-los, mas ela saiu correndo, temendo ser vítima de estupro.

Além de pedir providência à reitoria, o Coletivo Cirandeiras, uma página no Facebook que reúne alunos da UFF, está sugerindo que as jovens passem a andar em grupo, a fim de evitar riscos. Também foi criado nesta quinta-feira um grupo no aplicativo WhatsApp com o nome “Vamos juntas”, para que as estudantes se comuniquem e evitem sair do campus sozinhas. Outra denúncia postada na rede social foi a de uma aluna que teria sido “agarrada” às 9h15m de quarta-feira.

PM DIZ QUE HÁ BOATOS

O GLOBO procurou a reitoria da UFF, a Polícia Civil e o 12º BPM (Niterói). Apenas a Polícia Militar se pronunciou. Segundo o comandante da unidade, coronel Fernando Salema, não houve registros feito pelo telefone 190 da PM de crimes como ameaças e estupros no Ingá, onde fica a Faculdade de Direito da UFF.

— Depois da notícia do estupro coletivo da adolescente de 16 anos (ocorrido em maio deste ano, no Morro da Barão, na Praça Seca), houve um aumento de boatos de estupro. Até agora, não houve nenhum registro deste tipo de crime nas delegacias da região — disse Salema.

Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) da Secretaria de Segurança, em abril, houve 428 casos de estupro no estado, sendo 35 registrados em Niterói.