Dando sequência as sabatinas com os candidatos que concorrem à Prefeitura de Cascavel em 2024, O Paraná traz a entrevista com a candidata Professora Liliam (PT). A ordem das entrevistas foi definida por meio de sorteio realizado no dia 10 de setembro, na redação do jornal, com representantes das campanhas dos candidatos.
Você irá conferir nesta edição os melhores momentos da nossa sabatina. No entanto, no final da matéria você poderá acompanhar a conversa na íntegra.
O Paraná – Candidata, para você que está do lado do governo federal acaba tendo alguns caminhos mais curtos para viabilizar recursos para obras. Porém, o grande problema é a folha de pagamento. Como você pretende ampliar e valorizar o servidor público diante do limite prudencial que o município de Cascavel vem enfrentando hoje?
Professora Liliam – Sem dúvida, a maior preocupação é a folha, porque não se trata de falta de servidor em uma ou outra secretaria, a infraestrutura municipal carece de servidor, de trabalhadores em todos os espaços. A Secretaria de Obras, por exemplo, trabalha com apenados. Você tira os apenados, não tem gente. E são em todas as secretarias, as que a gente sente mais diretamente são saúde e educação, mas eu diria que em todas as secretarias falta gente e o corpo de servidores desse município trabalha muitíssimo.
O que me parece é que não dá para gente afirmar como está o limite prudencial com os dados que a gente recebe do município. Primeiro que esse orçamento – eu já votei por três anos, votarei agora pelo quarto ano e último ano porque termino meu mandato – é uma peça de ficção, porque recorrentemente a gente está votando e tirando dinheiro daqui e pondo ali. Agora, o princípio sobre o qual eu olho para a gestão pública é que governar é escolher prioridades, é definir prioridades. E uma prefeitura que cresceu muito em termos estruturais, inclusive, o governo que está se findando fez muita obra mesmo, sobretudo com recursos advindos do Governo Lula, que vieram de forma muito mais consistente nesse ano e meio, é preciso que a gente tenha elementos concretos do que é folha de pagamento, do que está fora da folha, quais são custos que efetivamente estão terceirizados e qual o custo disso, o que pode ser terceirizado e qual o custo disso. E a gente pensar que as atividades fins efetivamente precisam sempre estar garantidas por servidores de carreira. Porque eles têm a expertise do acúmulo de anos trabalhando e porque o corpo de funcionários da Prefeitura garante alguma estabilidade na troca de governos. Então eu defendo a estabilidade do servidor público.
Agora, a forma como se apresenta a folha hoje merece um estudo mais profundo. A gente vê, alcançando o limite prudencial, com um limite menor do que a necessidade de contratação se faz. E pior, com salários médios muito baixos. Então, isso também é um agravante. Na minha opinião, seria necessário uma reforma administrativa, uma revisão destas prioridades, a partir da proposição do novo governo.
O Paraná – Cascavel tem economia baseada na produção agrícola e pecuária. Historicamente, o setor da agricultura aqui é um setor que tem bandeiras e linhas de atuações diferentes a do PT, que é o partido pelo qual você concorre. Você já sentou com o setor produtivo de Cascavel? Há diálogo aberto com esse setor?
Professora Liliam – Primeiro, quero dizer que não é verdade que o nosso governo não seja aberto ao diálogo e é generosíssimo com o setor agrícola e do agronegócio. Todas as vezes que governamos, os agricultores do agronegócio não têm absolutamente nada do que reclamar em relação ao atendimento de suas necessidades. Para além disso, nós temos um legislativo federal absolutamente colado aos seus interesses. […] O que existe é uma postura política e ideológica do agronegócio contra a esquerda que sempre lhe atendeu absolutamente bem.
Segunda coisa que eu quero discordar é que Cascavel dependa do agronegócio. O PIB de Cascavel o que a riqueza produzida pelo agro fica em Cascavel é em torno de 8%, outros 16% é arrecadação da indústria e 52% é comércio e serviços. E o resto é administração pública, impostos e repasses. Ou seja, quem enriquece Cascavel é o setor de comércio e serviços. E a gente precisa superar essa ideia que Cascavel dependa do agro. É o contrário, o agro depende de Cascavel. Isso eu não tenho dúvida em afirmar. Porque nós estamos falando de números, não estamos falando de ideologia política.
Nós sabemos da importância do agro para a economia brasileira, nós sabemos da importância do agro na produção de riqueza, mas a captura em benefícios para o município, para o estado e para a nação é muito pequena.
O Paraná – Uma das suas promessas de campanha é a construção de um hospital na região norte de Cascavel. Além do desafio da construção da estrutura física, outro desafio é a gestão do hospital. Como você pretende resolver essa questão?
Professora Liliam – Essa proposta nem está no nosso plano de governo. Por quê? Porque a gente precisou ter muita segurança antes de divulgar. A gente fez algumas reuniões no Ministério da Saúde, reunimos nossos deputados. E só depois de certas garantias a gente anunciou, porque nós não estamos brincando de fazer política, a gente tem compromisso. Com a retirada do teto de gastos da saúde, que foi uma grande conquista, e o aporte de R$ 58 bilhões para a saúde, nós conseguimos compromissos de garantir estrutura física, equipamento e pagamento dos profissionais, tudo pelo SUS.
A região norte é uma região carente de tudo, uma região próspera e onde mais cresce. Então é preciso um grande equipamento de saúde ali. Nós estudamos o pronto-socorro municipal, que é uma possibilidade da gente construir, mas a gente acha que o hospital é uma dívida de muitos prefeitos, de muitas décadas. E levamos para a análise do Ministério da Saúde e voltamos com o compromisso de que o SUS assuma plenamente este hospital.
O Paraná – Como você pretende aumentar a receita do município para colocar em prática o seu plano de governo sem precisar aumentar o imposto do contribuinte?
Professora Liliam – Não passa pela nossa cabeça aumentar imposto. Agora, o estímulo à economia e essa ideia de que a economia precisa girar passa por um equilíbrio fiscal, porque afinal de contas não tem nenhum sentido a gente seguir pensando que juro alto protege de inflação, e tanto é que está todo mundo assoberbado porque o PIB cresceu no último trimestre o dobro do que se esperava, e a gente tem experiências concretas aqui no Brasil e no mundo. […] O que eu faria como prefeita? Eu estimularia a industrialização, como acabei de falar. Acho que essa cidade tem que ser uma cidade industrial, agroindustrial, mas com tecnologia e inovação. […] Então a gente estimularia a inovação, a robotização dessas linhas de produção e acompanhado junto com a indústria um programa efetivo de profissionalização dos trabalhadores para que os salários médios subam.
O Paraná – Cascavel vive hoje um sério problema de segurança pública. Quais são as suas principais propostas para essa área?
Professora Liliam – Em relação à segurança pública a gente tem que pensar primeiro em prevenção e promoção da segurança. Então, quando a gente pensa em melhorar o nível médio dos salários, quando a gente pensa em equipar a estrutura pública para que possa ter rua iluminada para que possa ter efetivo das forças de segurança, para que possa ter uma cultura de paz e de boa convivência, de vida comunitária, isso promove segurança.
Com relação especificamente às forças de segurança, a gente vem acompanhando o debate que está sendo feito em nível nacional. O governo Lula está sugerindo a constituição do Sistema Único de Segurança. O Sistema Único de Segurança integrará as forças de segurança nacional, estadual e municipal. E penso que um prefeito, no próximo mandato, e no nosso caso faremos isso, a gente iniciará essa integração em diálogo com o Programa Nacional e a estrutura desse Sistema Único, mas já antecipando ações e distribuição de tarefas de forma colaborativa, compactuada, conveniada com a prefeitura municipal para que a gente otimize a atuação dessas forças e sobretudo, como prefeita, a prioridade será a humanização do trabalho dessas forças, de lado a lado.
O Paraná – Cascavel foi uma cidade que votou massivamente no ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Você acredita que a sua candidatura e o PT possam chegar ao segundo turno ou até mesmo vencer as eleições de Cascavel?
Professora Liliam – Ninguém é ingênuo aqui, mas nós acreditamos para além do discurso sempre conservador e extremista da nossa mídia. As pessoas sabem que a vida tá melhorando rápido, as pessoas sentem. […] 60 mil cascavelenses votaram no Lula, ou seja, um em cada três. Obviamente, quase 70% votaram no Bolsonaro, mas mais de 30% votaram no Lula. Se parte destes eleitores votarem em mim, eu estarei no segundo turno. E o segundo turno a gente retoma a eleição do seu início. Inclusive, nós teremos o Lula aqui nos ajudando na campanha, nos debates, nos diálogos, na interlocução com todos os setores dessa cidade. A gestão da nossa campanha por parte do Partido dos Trabalhadores está sendo feita por Brasília, não está sendo feita pelo Paraná, por definição da prioridade das cidades mais importantes do Brasil. E Cascavel está nessa lista para o nosso partido e para o nosso governo.
Assista abaixo a entrevista completa: