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Geada castiga trigo no Oeste e Sudoeste e valorização poderá ficar acima dos 35%

As geadas comprometeram o trigo no Oeste, mais especificamente na região de Guaraniaçu e municípios circunvizinhos. Foto: Divulgação
As geadas comprometeram o trigo no Oeste, mais especificamente na região de Guaraniaçu e municípios circunvizinhos. Foto: Divulgação

Cascavel – O dia mais frio do ano no Paraná no início da semana não poupou nem ao menos uma das culturas mais resistentes às quedas de temperaturas nesta época do ano: o trigo. Se a situação já não era das melhores, a geada veio para trazer ainda mais prejuízos para quem apostou na cultura. Essa é a leitura feita por Airton Cittolin, Engenheiro Agrônomo com mais de três décadas de experiência em sementes e proprietário da Cittolin Alimentos, em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná.

Atraídos pelo preço de mercado, considerado atrativo, muitos produtores decidiram apostar na cultura esse ano, mesmo com o plantio fora de época. As geadas comprometeram o trigo no Oeste, mais especificamente na região de Guaraniaçu e municípios circunvizinhos. Em outros estados brasileiros, as perdas também são substanciais, como no Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e sul de São Paulo.

Segundo produtores de trigo, o cenário de abastecimento que já era complicado para novembro e dezembro e vai ficando cada vez mais difícil. Por outro lado, a valorização entre agora e dezembro poderá ser acima de 35% uma vez confirmadas as perdas, que se somam a uma série de fatores que apontam para pouca disponibilidade. As perdas serão consideráveis principalmente por conta da fase de floração do trigo, tida como mais suscetível às baixas temperaturas. “Como a geada veio um pouco mais tarde, no mês de agosto, as lavouras de trigo de algumas regiões acabaram por ser severamente afetadas”.

Sudoeste

A geada também castigou a cultura em municípios do Sudoeste, como Realeza. Na região, o plantio de trigo terminou no mês de junho e julho, dependendo da particularidade de cada região. Enquanto isso, os preços do trigo têm se mantido estáveis, muito embora o trigo de qualidade superior esteja apresentando um viés de alta. Em setembro, está previsto o início da colheita de trigo no Paraná, o que pode influenciar ainda mais o mercado.

A cotação do trigo PH 78, saca de 60 quilos, a R$ 65. A média de preços do trigo no Rio Grande do Sul fechou a última semana em R$ 68,80 por saca. Em julho, o preço médio real do trigo no Rio Grande do Sul subiu, alcançando R$ 1.468,41 por tonelada FOB, a melhor média mensal desde dezembro de 2022, e superando em 8,3% o valor médio de julho do ano passado, conforme dados do Cepea/Esalq.

No cenário nacional e internacional, o mercado de trigo considera que o “fundo do poço” dos preços já foi superado, conforme análise da TF Agronômica. A tendência é de preços mais firmes, dependendo do desempenho final da nova safra nacional e da argentina.

No Paraná

No Paraná, a expectativa inicial era de uma colheita maior, mesmo com uma redução significativa na área semeada. Entretanto, agora, com as geada, a perspectiva deixa de ser tão positiva assim. A estimativa para a safra de trigo no Paraná de uma produção de 3,61 milhões de toneladas do grão neste ano. O volume representa um redução de 1% frente às 3,64 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Os dados são da PSS (Previsão Subjetiva de Safra), divulgada pelo Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado da Agricultura.

A tendência, determinada principalmente pelas condições climáticas, é de redução de 1%. Na estimativa anterior, divulgada em junho, a perspectiva era de que se chegasse a 3,81 milhões de toneladas. Como a estiagem se prolongou, particularmente no Norte, parte das lavouras teve o desenvolvimento ainda mais limitado e apresenta espigas menores.

Os demais grãos de inverno foram menos impactados que o trigo, principal cultura deste período. Eles ainda podem apresentar produções dentro do projetado inicialmente. A concentração dessas lavouras está nas regiões Sul e Sudoeste do Estado, onde a seca não foi tão severa.

Exportações de trigo já superam volume de 2023

As exportações de trigo pelo Brasil em 2024 já superaram o volume exportado em todo o ano passado. Este resultado coloca o país em potencial para um recorde histórico de movimentação total de trigo, considerando tanto a exportação quanto a importação. O recorde não está apenas na exportação, mas também no volume total movimentado entre importação e exportação de trigo. O Brasil historicamente não é autossuficiente na produção de trigo, produzindo apenas metade do que consome e necessitando importar a outra metade.

Nos últimos dois a três anos, o Brasil aumentou consideravelmente a produção de trigo, com o objetivo de reduzir as importações. No entanto, o país também aumentou suas exportações. Este aumento nas exportações se deve à qualidade do trigo produzido, que muitas vezes não atinge o padrão de panificação e é exportado para países como o Japão, onde é usado para ração animal. Enquanto isso, o Brasil continua a importar trigo de alta qualidade para atender à indústria de panificação.

Cerca de 95% de todo o trigo produzido no Brasil é cultivado na região sul, concentrando o comércio de importação e exportação nos portos do Rio Grande do Sul e do Paraná, especificamente nos portos de Paranaguá e Rio Grande. A movimentação de trigo está muito forte nas duas vias, tanto de importação quanto de exportação, o que reflete a dinâmica do mercado brasileiro de trigo.

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