TERRA ROXA E GUAÍRA

Invasões no Oeste geram insegurança, prejuízos e desestimulam investimentos

Jean Ferreira e sua irmã, Adelisa Ferreira, proprietários da Fazenda Brilhante, invadida por indígenas desde o dia 7 de julho. Foto: FAEP/Divulgação
Jean Ferreira e sua irmã, Adelisa Ferreira, proprietários da Fazenda Brilhante, invadida por indígenas desde o dia 7 de julho. Foto: FAEP/Divulgação

Terra Roxa/Guaíra – Levantamento realizado pelo DTE (Departamento Técnico e Econômico) do Sistema Faep aponta que as áreas invadidas correspondem a 17,9% das áreas agricultáveis de Terra Roxa, 14,4% de Guaíra e 1,9% de Altônia. Somadas, os territórios invadidos respondem por 12,5% das terras destinadas a atividades agropecuárias nos três municípios, sendo seu mais importante pilar econômico.

Em Terra Roxa, por exemplo, a produção de soja e de milho movimentou, respectivamente, R$ 315 milhões e R$ 244 milhões em 2023. Também tiveram produção expressiva a avicultura de corte (R$ 179 milhões) e a piscicultura (R$ 96 milhões). Em Guaíra, a produção de soja bateu R$ 211 milhões, seguido por milho (R$ 172 milhões), ovos de galinha (R$ 109 milhões) e avicultura de corte (R$ 9,5 milhões).

O DTE do Sistema FAEP também estima que, se essas terras deixarem de produzir, o prejuízo pode chegar a R$ 261 milhões. A projeção leva em conta o VBP (Valor Bruto de Produção) Agropecuário de cada município e a dimensão das áreas invadidas em relação às terras agricultáveis. Só em Terra Roxa, se as propriedades invadidas forem retiradas dos produtores, vai se deixar de produzir o equivalente a R$ 173,2 milhões.

“É uma situação preocupante, pois sabemos da dificuldade diante do cenário. Não podemos compactuar que, em pleno 2024, estejamos passando por uma situação como essa. Ainda mais considerando a importância do setor agropecuário para a economia dos municípios e do Estado”, ressalta o presidente interino da entidade, Ágide Eduardo Meneguette.

Investimentos parados

Além disso, presidentes de sindicatos rurais dos municípios atingidos apontam que produtores têm manifestado receio em fazer novos investimentos e que chegam a ter dúvidas se vale a pena fazer o plantio da safra atual. Além disso, há relatos de desaquecimento da economia da região, em razão dos incidentes fundiários.

“Tudo está paralisado. Quem vai investir e se instalar em uma região com todos esses problemas e com toda essa insegurança jurídica? Sem contar a desvalorização das áreas rurais, dos loteamentos. Economicamente, parou a cidade”, ressalta Silvanir Rosset, presidente do Sindicato Rural de Guaíra.

“Houve depreciação nos valores dos imóveis rurais e também dos urbanos, por não ter segurança quanto à questão das terras”, reforça o presidente do Sindicato Rural de Terra Roxa, Fernando Volpato Marques. “Qual indústria vai querer estar em um município onde não tem segurança jurídica? Em vez de aumentar a população, a tendência é ter uma regressão, porque ninguém vai querer ficar em uma cidade sem perspectiva de desenvolvimento”, aponta.

O receio vai além. Marechal Cândido Rondon ainda não registrou invasões, mas os produtores rurais estão tensos, principalmente com a disseminação de informações não comprovadas de que haveria “sítios arqueológicos” localizados em propriedades locais. “Ao longo nos últimos anos, nós consideramos remota a possibilidade de invasões no município. Hoje, é possível que isso ocorra, aqui e em qualquer lugar na região Oeste”, diz Edio Chapla, presidente do Sindicato Rural de Marechal Cândido Rondon.

Em Cascavel, maior cidade do Oeste do Paraná, o clima também é de preocupação. “Sabemos que Terra Roxa e Guaíra são apenas a ponta do iceberg, todos temos que nos mobilizar para acabarmos com essa falta de segurança”, problematiza o presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso. “Vejo com muita preocupação a consequência de uma fuga de investimentos na Região Oeste. Como um investidor vai sair de um polo seguro para vir fazer qualquer industrialização aqui, tendo risco de áreas serem invadidas e desapropriadas”, questiona.

“Nos deixem produzir”

Jean Paulo Rodolfo Ferreira é proprietário da Fazenda Brilhante, em Terra Roxa, que pertence à sua família há décadas, com a posse e os impostos totalmente regularizados. A Fazenda Brilhante é uma das nove propriedades rurais invadidas no Oeste. A família Ferreira adquiriu a Fazenda Brilhante em 1966, destinando os 260 hectares à criação de gado de corte. A atividade se manteve até 2015, quando o pai de Ferreira faleceu. Desde então, a família arrenda a área a um produtor rural, que passou a cultivar grãos.

“Eu vinha na fazenda a cada dois meses, desde a infância. Nunca vimos índios na região. Não havia mesmo”, diz Ferreira. “Receber a notícia da invasão foi chocante. Ver as pessoas invadindo e não poder fazer nada faz você se sentir impotente perante a situação.  Nós prezamos pela Justiça, tanto que não apoiamos conflito”, completa.