COTIDIANO

O aborto e a mudança de sexo ameaçam “dignidade humana”, afirma documento do Vaticano

Com atenção especial a dignidade humana, o texto condena atitudes que ofendem, agridem e violam a integridade de cada ser humano.

O aborto e a mudança de sexo ameaçam “dignidade humana”, afirma documento do Vaticano
Com atenção especial a dignidade humana, o texto condena atitudes que ofendem, agridem e violam a integridade de cada ser humano.

São Paulo – O Vaticano publicou neste início de semana, por meio do Dicastério para a Doutrina da Fé, o documento “Dignitas Infinita”, após cinco anos de trabalho, com o objetivo de relançar, de maneira mais direta, a impactante mensagem do cristianismo: “Deus ama o cristianismo todos… com amor infinito”. Essas palavras foram feridas por João Paulo II a um grupo de pessoas com deficiência que ele encontrou em Osnabrück, Alemanha, durante uma de suas numerosas viagens ao exterior em 1980.

A principal novidade do documento é a inclusão de alguns temas principais do recente magistério pontifício que acompanham os assuntos bioéticos. Com atenção especial a dignidade humana, o texto condena atitudes que ofendem, agridem e violam a integridade de cada ser humano.

“É nesse espírito que, com a presente Declaração , a Igreja ardentemente exorta a colocar o respeito pela dignidade da pessoa humana , para além de toda circunstância, ao centro dos esforços pelo bem comum e de todo ordenamento jurídico. O respeito pela dignidade de cada um e de todos é, de fato, uma base necessária para a existência mesma de cada sociedade que se pretende fundada sobre o justo direito e não na força do poder. Sobre a base do reconhecimento da dignidade humana se sustentam os direitos humanos fundamentais , que precedem e fundam toda convivência civil” , diz um trecho do documento.

“Dignidade Infinita”

A carta/documento, sob o título “Dignidade Infinita”, conta com 20 páginas que concentram o posicionamento oficial da Igreja Católica frente a pontos ligados aos direitos humanos e à justiça social, além da bioética e da violência na internet, e é assinada pelo Papa Francisco.

Com uma sessão específica, o documento o tema sobre o aborto de forma muito direta, partindo do princípio de que a dignidade de cada ser humano é válida “desde o momento da concepção”. Em seguida, diz que o mundo enfrenta uma crise moral ao dar vazão a discussões em torno da legalização do aborto.

“A aceitação do aborto na mente popular, no comportamento e até na própria lei é um sinal revelador de uma crise extremamente perigosa do sentido moral, que se torna cada vez mais incapaz de distinguir entre o bem e o mal, mesmo quando o direito fundamental para a vida está em jogo. Perante uma situação tão grave, precisamos agora mais do que nunca de ter a coragem de olhar a verdade nos olhos e de chamar as coisas pelo seu nome próprio, sem ceder a compromissos convenientes ou à tentação do auto-engano”, diz o documento, que também condena o uso do termo “interrupção da gravidez” para tratar do procedimento, tentando “atenuar” a sua gravidade. Conclui dizendo que, ao prever o aborto legal em suas leis, os países abrem espaço para se questionar “todas as bases sólidas e duradouras para a defesa dos direitos humanos”.

Mudança de sexo

Em outro trecho sobre a “Teoria do Gênero”, o texto diz que a tentativa dos indivíduos de “autodeterminar-se” – em referência às cirurgias de mudança de sexo – é uma “tentação milenar de fazer-se Deus”. O trecho contrasta com um parágrafo anterior, que defende o respeito e a dignidade de todo ser humano, “independentemente da sua orientação sexual”.

“É no corpo que cada pessoa se reconhece gerada pelos outros e é através dos seus corpos que homens e mulheres podem estabelecer uma relação amorosa capaz de gerar outras pessoas. Ensinando sobre a necessidade de respeitar a ordem natural da pessoa humana, o Papa Francisco afirmou que ‘a criação é anterior a nós e deve ser recebida como um dom’”, diz parte do texto que condena as cirurgias de mudança de sexo.

A íntegra do texto foi publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé responsável pelo dogma acerca dos casos que configuram “violações graves” da dignidade humana. A publicação foi feita em comemoração ao 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, segundo comunicado do Vaticano, tem a intenção de reafirmar “a natureza indispensável da dignidade da pessoa humana na antropologia cristã”.

Foto: Angelo Carconi/Ansa/Agência Lusa