À proporção que vem perdendo boa parte do território conquistado em regiões de Síria e Iraque, devido à ofensiva da coalizão internacional liderada por EUA e forças locais, o Estado Islâmico (EI) intensificou ataques terroristas contra alvos civis, ampliando sua geografia de terror. Os sucessivos atentados realizados na última semana em nome do grupo, que luta para instituir um califado no Oriente Médio, regido por uma interpretação radical da sharia (o direito canônico islâmico), provocaram mais de 270 mortes em Turquia, Bangladesh, Iraque e Arábia Saudita.
Esses ataques se somam a outros realizados em Nigéria, Afeganistão, Líbia, Tunísia, Arábia Saudita, Egito e Kuwait. Nem mesmo capitais europeias, como Paris e Bruxelas, e cidades americanas, como Orlando e San Bernardino escaparam da ação dos jihadistas, evidenciando o poder de fogo e de organização do grupo. O EI não só recruta e treina militantes que são enviados às áreas alvos, mas também incentiva ações isoladas de simpatizantes. Este movimento se intensificou há dois anos, justamente quando a aliança contra o EI no Oriente Médio ganhou fôlego.
Com o apoio de ataques aéreos de EUA e outros países, tropas locais de Iraque e Síria conseguiram reconquistar cidades tomadas pelo EI. No mês passado, por exemplo, recuperaram a estratégica Falluja, e continuam avançando. O grupo extremista, por sua vez, intensificou suas redes clandestinas, aumentando o apelo ideológico à violência bem além das fronteiras do Oriente Médio, tendo sempre como meta preferencial alvos civis. A princípio, tal estratégia não faz muito sentido, considerando-se a meta de estabelecer um califado no Oriente Médio, mas ela funciona como uma forma de manter o grupo terrorista temido.
O porta-voz do EI, Abu Muhammed al-Adnani, afirmou recentemente numa mensagem de rádio que o grupo está voltando às suas raízes, como guerrilha insurgente, admitindo que as ofensivas territoriais em Iraque e Síria e o estabelecimento de um califado já não são prioridades. Al-Adnani exortou os militantes espalhados pelo mundo a atacarem os inimigos do EI sempre que possível.
Esse tipo de atuação coloca enormes desafios à segurança mundial à medida que complexifica as ameaças que passam a incluir a ação inesperada de lobos solitários e pequenas células que agem por conta própria ou dirigidas. Analistas reconhecem que há novas vulnerabilidades que ainda precisam ser levadas em conta nas ações antiterror e, o que é mais grave, as forças do Ocidente não estão acompanhando com a mesma agilidade as transformações na forma de ação do EI. A mudança de estratégia dos jihadistas, portanto, exige das autoridades globais um plano de ação que vai além dos bombardeios hoje realizados em Iraque e Síria.