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Fotógrafo cego revela a superação que está para além dos Jogos

RIO – Ao pisar na areia da praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com o céu azul, o mar claro, o cheiro de maresia e o barulho do vento nos coqueiros, João Maia, de 40 anos, logo soltou um sorriso e definiu a paisagem à sua frente: “Que lindo”. Mesmo sem enxergar, ele tem os sentidos aguçados e a sensibilidade para ver o mundo da sua forma. Nascido em Bom Jesus, no Piauí, Maia se destacou por ser o primeiro cego a fotografar os Jogos Paralímpicos.

– Eu não gosto que as pessoas me vejam apenas como um ceguinho ou coitadinho. Gosto quando elas me veem como o fotógrafo João Maia.

João perdeu a visão aos 28 anos ao ter uma uveíte bilateral, uma inflamação na íris que o fez perder a totalmente a vista esquerda devido ao deslocamento da retina. A visão direita ficou comprometida com a inflamação no nervo óptico. Maia, desde então, vê o mundo como uma fotografia borrada, com vultos coloridos e desfocado. Para registrar as suas imagens, ele usa a soma dos sentido aguçados com os contrastes das cores e vultos.

Fotógrafo cego revela a superação que está para além dos Jogos

João era funcionário dos Correiros quando ficou cego e hoje recebe aposentadoria por invalidez. O fotógrafo notou a perda visual e procurou o oftalmologista. Meses depois, ficou totalmente sem visão. Sentiu-se perdido. Com medo de entrar em depressão, procurou a ajuda de um psicólogo e conversou com outros deficientes visuais.

– Foi difícil. A melhor terapia foi conversar com as pessoas deficientes porque elas te mostram como é a vida. Como aprender a andar de novo com bengala, como viver sozinho em uma casa e a escrever novamente. E após conhecer pessoas assim, você vê que não é o único deficiente do planeta Terra. Você aprende que há pessoas que conseguem reviver. Aprende a conquistar a sua independência, o trabalho, o amor e a viver de uma forma diferente, com um olhar diferente – finaliza ele.

Após se dar conta que a vida continuaria com ou sem visão, João escolheu seguir em frente e buscar novos rumos. Primeiro, ele se dedicou ao esporte: passou a praticar o arremesso de peso e o lançamento de dardos. Depois, preferiu retomar o amor pela fotografia que aprendera na adolescência.

– Eu voltei para a fotografia em 2008, quatro anos após a minha cegueira, ao descobrir cursos em São Paulo para deficientes visuais. Foi quando percebi que queria registrar os momentos e a contar histórias através da lente.

Desde então, Maia se aventurou no caminho da fotografia e não parou mais. No entanto, para registrar os seus cliques, ele precisa sempre de um “guia”, alguém que o ajude a posicionar o enquadramento. É o papel de Ricardo Rojas, o fotógrafo responsável pela descoberta do talentoso João Maia:

– Encontrei o João em um evento em São Paulo. Ele chegou até mim e pediu que eu visse as suas fotos em um portfólio dentro da mochila. Quando vi a qualidade do trabalho, pensei que ele estava mentindo sobre a sua visão e que ele enxergava muito bem – brinca Ricardo.

Hoje, João Maia diz estar surpreso com a repercussão do seu trabalho no mundo e já pensa em aprender até japonês em braile para os Jogos Paralímpicos em Tóquio, no Japão.