Cotidiano

Parente: é preciso mais autonomia na gestão pública

SÃO PAULO – O presidente da Petrobras, Pedro Parente, acredita que é preciso uma maior autonomia na gestão pública e que o foco deve ser nos resultados, e não no processo. Em palestra realizada da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), ele demonstrou preocupação com a adoção de mais práticas de controle, que, para ele, podem não ser eficientes no combate à corrupção.

? Temos controles baseados em regras e processos. Mas isso não reduziu a corrupção e não garantiu o melhor preço ou qualidade ? disse, ressaltando que era a opinião dele como profissional do setor público e privado, e não como presidente da estatal.

De acordo com ele, uma maior autonomia ao gestor público garantiria um resultado melhor. Como exemplo, citou a crise energética de 2002, em que pediu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que o comitê de gestão de crise tivesse a decisão final sobre as medidas que precisavam ser tomadas.

No entanto, Parente admitiu que embora a governança no setor público precise de uma mudança, ela pode ser mal interpretada devido a abrangência da operação Lava Jato, que apura a corrupção na estatal desde 2014.

? Será que a gente tem como reduzir os controles formais à luz do que está acontecendo? Os escândalos de corrupção ao longo dos anos têm sido respondidos com mais controles. Essa inflação de processos não resolveu esses problemas e a maior prova disso é a Lava Jato ? afirmou.

Ele defende que o gestor público deve ter “espírito de dono” e agir em busca de resultados, mas ressalta que a autonomia não pode ser entendida como não responsabilização pelos seus atos.

ARRUMANDO A CASA

Sobre a Petrobras, considerou que a atual situação da empresa é decorrente das decisões de investimento tomadas anteriormente e da política de preços abaixo do mercado internacional. Um dos objetivos da estatal é reduzir a dívida da empresa, que hoje supera em cinco vezes a geração de caixa operacional da empresa e exige elevados pagamentos de juros. Em 2010, a dívida era equivalente a uma vez a geração de caixa.

O executivo defendeu que no período de 2017 a 2021 a empresa estará voltada à redução da dívida e aos investimentos em óleo e gás no Brasil. Arrumada a casa, a estatal pode voltar a se expandir.

? Vamos investir na exploração de águas profundas, mas é possível retomar investimentos no exterior após esse período, com maior participação de óleo e gás vindo.do exterior ? disse, ressaltando que os investimentos em pesquisa em outras áreas, como petroquímicos, vão continuar, também com foco nos planos futuros da empresa.

Parente não vê a necessidade de um novo plano de demissões voluntária. O atual teve a adesão de 19 mil funcionários.

? Mas temos um plano de desinvestimento (venda de ativos) e podemos fazer planos específicos para esses casos ? disse.

O presidente da Petrobras afirmou que tem sido transparente com funcionários e sindicatos sobre a situação da empresa, indicando que não será possível reajustes de salários acima da inflação.

? Digo isso sem muita esperança dessa compreensão por parte dos sindicatos ? afirmou.

O Sindicato dos Petroleiros anunciou que entrará em greve na quinta-feira.