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No judô, Sarah Menezes vai em busca do bicampeonato inédito

RIO ? Sarah Menezes (48kg), de 26 anos, correu o risco de ficar de fora dos Jogos Olímpicos do Rio, algo que dependia só dela. A comissão técnica da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) não queria acreditar nesta possibilidade, mas os resultados ruins e o desânimo da piauiense durante o ciclo olímpico falavam por si. Links judo

A queda de rendimento no tatame e nas competições foi vertiginosa. Mas, na reta final de preparação, Sarah voltou a crescer e mostrou um desempenho, até o momento, superior ao de 2012, quando foi campeã em Londres. Hoje, na Arena carioca 2, a partir das 10h, ela pode se tornar a primeira pessoa do judô a conquistar o bicampeonato olímpico em prova individual.

A queda de rendimento após o ouro em Londres-2012 tem uma explicação simples: falta de motivação. Após alcançar o patamar mais alto do olimpo, a judoca não encontrava ânimo para seguir treinando firme em busca de um título de Grand Slam ou, até mesmo, de um Mundial. Sabia que a vitória nesses torneios não lhe daria o mesmo retorno do título olímpico. Para Londres-2012, ela foi ao aeroporto apenas com a família sem ser incomodada por fãs. No retorno, com a medalha de ouro, foi recebida por milhares no desembarque e se tornou o rosto mais conhecido do Piauí.

? (após Londres-2012) Sofri com falta de motivação. Às vezes, durante a luta, eu era mais lenta que a adversária. Não fazia os movimentos com muita agressividade. Eu acho que são esses detalhes que fazem a diferença. Hoje, estou mais ativa. Antes, ficava mais parada ? reconhece Sarah Menezes. O desafio de cada brasileiro na briga por medalha no judô

Hoje, ela lembra a judoca que foi campeã olímpica em Londres. Bem diferente daquela do ciclo olímpico, que sempre concedia entrevistas falando arrastado, com preguiça, sem muita paciência, além de exibir um rosto mais rechonchudo. No último treino aberto à imprensa da seleção brasileira, que aconteceu há duas semanas, os jornalistas encontraram outra judoca. Sarah estava com o rosto mais definido, treinando duro e muito articulada nas entrevistas.

Essa mudança de atitude e desempenho começou no ano passado, quando a CBJ tirou Sarah do Piauí, onde era celebridade, e a trouxe para o Rio. Ficou mais perto da comissão técnica da seleção e encontrou treinos de maior nível técnico. O último alerta foi ligado logo após a judoca não ter sido convocada para o Pan de Toronto, que fazia parte de uma preparação intensa de olho no Mundial de Astana, em agosto. A estratégia não deu certo. E, na principal competição do ano passado, o Mundial, Sarah foi eliminada logo na segunda rodada.

A MONGOL E A JAPONESA

Durante esse tempo de insucesso de Sarah, Nathália Brígida, a número dois do Brasil na categoria, mostrou determinação e evolução no tatame, colocando uma pulga atrás da orelha da comissão técnica.

? Nunca pensamos em desistir da Sarah, mas ela vinha muito mal. Dependia só dela. Mas isso foi complicado. Até a irmã dela, que é muito próxima, veio nos perguntar se a Sarah iria ficar de fora mesmo dos Jogos ? conta Rosicleia Campos, treinadora da seleção brasileira feminina de judô.

Sarah concorda que a mudança fez diferença:

? Foi bom porque a melhor parte do judô é a luta, o randori, e no Rio tem muita gente qualificada para fazer isso comigo.

Desde que voltou a treinar no Rio, os bons resultados reapareceram. Em 2016, ela perdeu apenas três das 21 lutas que fez. Um desempenho melhor do que o de 2012. No ano do título olímpico, ela perdeu três em 18 lutas. Durante o ciclo, os piores resultados foram em 2015 (quando perdeu oito em 19) e 2014 (perdeu cinco em 13).

A última luta de Sarah, entretanto, foi uma derrota para a japonesa Ami Kondo, número três do mundo, na final do Masters de Guadalajara, no fim de maio. Apesar de perder, a brasileira mostrou evolução na competição e fez luta dura na final. No Rio-2016, as duas só devem se encontrar na final, já que caíram em lados opostos da chave. Até lá, o maior desafio de Sarah será passar pela mongol Urantsetseg Munkhbat, líder do ranking, na semifinal. As duas se encontraram em dezembro do ano passado, quando a brasileira estava começando sua recuperação de desempenho, no Grand Slam de Tóquio, e Sarah levou a melhor.

A mongol e a japonesa sempre são apontadas como as adversárias mais difíceis de Sarah. Mas a argentina Paula Pareto, que é a atual número dois do ranking, também é páreo duro. No entanto, ela está no mesmo caso da japonesa. A argentina está do outro lado da chave. Portanto, um confronto entre as duas só poderia ocorrer na final. Além disso, o retrospecto é favorável à brasileira. Nos sete confrontos entre as duas, Sarah venceu seis. A única vitória da argentina ocorreu em 2010.

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O fato de lutar no primeiro dia traz tranquilidade à Sarah. Em Londres-2012, ela cumpriu com brio seu objetivo e pode aproveitar com tranquilidade o restante dos Jogos com a medalha de ouro no peito.

? É ótimo lutar no primeiro dia. Você já fez seu dever e está livre para aproveitar a Olimpíada, que tem muita coisa boa para assistir. Nestes primeiros sete dias, vou ver o judô. Ainda não sei o que fazer depois da competição, mas vou ficar na Vila dos Atletas, aproveitando esses dias ? disse uma animada Sarah.

As finais do judô estão programadas para começar a partir das 15h.