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Mahau Suguimati, o brasileiro mais japonês do Time Brasil

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Se a quantidade de jornalistas aguardando para entrevistar fosse um indicador de prestígio de um atleta, poderia se dizer que Mahau Suguimati tem mais prestígio no Japão do que no Brasil. Classificado para a semifinal dos 400m com barreiras marcada para a noite desta terça-feira, às 21h35m, no Estádio Olímpico do Rio de Janeiro, o brasileiro de 31 anos era muito assediado pelos japoneses na zona mista, onde os atletas conversam com a imprensa após disputarem suas provas no Engenhão. Poucos brasileiros, porém, procuravam ouví-lo.

ATLETISMO 15-08

Mas talvez o assédio aumente dos dois lados se Mahau se garantir nesta terça-feira na final. Improvável, mas não impossível. Mahau tem o pior tempo entre os 24 classificados (49s77), um segundo acima do oitavo tempo nas eliminatórias, do queniano Haron Koech (48s77). O melhor tempo é do jamaicano Annsert White (48s37).

Mahau nasceu em São Miguel do Araguaia, em Goiás. Mas deixou o Brasil quando tianha apenas oito anos, quando foi levado pelo seu pai para viver com a família no Japão. Mora há 23 anos no país e vive atualmente em Saitama, cidade a 25km de Tóquio.

– Meu pai é mestiço. Ele foi para lá para conhecer e depois, no ano seguinte, levou a família. Foi lá que eu comecei no atletismo – conta Mahau, que fala perfeitamente o japonês, enquanto ainda tropeça um pouco nas palavras em português.

– Eu parei com oito anos. Não sei muito português. Consigo entender, mas para falar mesmo… tem palavras que não saem. Então eu tenho que enrolar, tentar explicar – diz.

Fã do dominicano Félix Sanchez, bicampeão olímpico da prova (Atenas-2004 e Londres-2012), Mahau começou no esporte em uma escola japonesa. Inicialmente, disputava provas de salto em altura, mas após sofrer uma lesão foi para os 400m com barreira. A partir daí, começou a competir provas internacionais no Japão e passou a ficar mais conhecido no país.

– Meu nível foi aumentando. Então, entrei em contato com a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) para saber se eu poderia defender o Brasil. Como sou brasileiro, comecei a participar de provas pelo Brasil. Nunca corri pelo Japão. Só treinei lá – diz

ESTEVE EM PEQUIM-2008

Foi nesta prova dos 400m com barreira, aliás, que ele começou a disputar competições no Japão. E foi lá também, durante o Grand Prix deste ano, em Kawasaki, que o atleta conseguiu o índice para disputar pela segunda vez os Jogos Olímpicos. Em Pequim-2008, o atleta também disputou as semifinais dos 400m com barreira, prova que acabaria terminando na 15ª colocação.

A estreia de Mahau em competições no Brasil foi em 2007. Ele disputou o Troféu Brasil e logo em seguida o Pan do Rio de Janeiro. O Engenhão, portanto, é um estádio que ele conhece bem.

Assim como o público carioca, que ele fez questão de afagar para pedir um apoio na sua estreia na Olimpíada.

– Não tenho o costume e pedir apoio para a torcida. Mas eu tinha que aproveitar muito esse momento porque a Olimpíada é no Brasil. Eu sei como são os brasileiros. Mesmo que não conheçam (o atleta), falam: “Oh, é do Brasil!”. Então eu tinha que pedir (apoio) para a torcida e aproveitar esse momento. Deu certo – disse Mahau, que saudou o público que não compareceu em grande número nas provas da manhã desta segunda-feira.

Nestes anos vivendo no circuito Brasil-Japão, Mahau disputou muitas provas defendendo o Brasil. Foi campeão Ibero-Americano em 2008, sul-americano em 2013, sétimo no Pan do Rio e quinto no Pan de Guadalajara. Seu sonho é disputar uma final olímpica. Ele estáa mais perto agora. A decisão dos 400m com barreiras é na quinta-feira, às 12h.

Para isso, ele já sabe o que deve fazer para melhorar o seu tempo nas semifinais.

– Pela minha experiência, eu consigo mudar a prova. Tem gente que sabe até quantos passos vai dar, mas pela minha experiência eu consigo mudar se vou correr na raia um ou na raia oito. Depende muito. Vou esperar sair a raia e pensar o que vou fazer – conta Mahau, já pensando na estratégia para a corrida desta terça, às 21h35m.

Depois de tanto tempo morando no Japão, é natural que Mahau estranhe alguns costumes e hábitos locais. Mas diz não se importar muito.

– Estranho mais porque é o costume. O costume brasileiro e o costume do japonês são bem diferentes – disse Mahau, sem entrar em detalhes sobre os hábitos de cada povo. – Só que eu sou brasileiro. Não me importo muito.

Sendo um brasileiro que mora há mais de duas décadas no Japão, Mahau teria a rara chance para um atleta de se sentir em casa em duas Olimpíadas seguidas. Mas os Jogos de Tóquio-2020 são uma realidade ainda bem distante para o atleta. Como ele terá 35 anos em 2020, Mahau quer deixar o tempo passar para ver o que vai acontecer.

– Tóquio eu ainda vou pensar. Vou pensar o que vou fazer.