A disputa da medalha de ouro concentra, no momento, as atenções da jovem Andressa Alves, 23 anos. Mas, seja qual for o resultado da Olimpíada do Rio para a seleção feminina de futebol, há enorme expectativa da meia-atacante em relação ao futuro. Vira e mexe, imagina como seria cruzar com Neymar num dia, Messi no outro, entre treinos. Ela é a primeira jogadora brasileira contratada pelo Barcelona. Ontem, foi uma das 18 convocadas pelo técnico Vadão para os Jogos Olímpicos, um título que, assim como os homens, as mulheres não têm.
No feminino, o Barcelona jamais foi sequer a uma final de Liga dos Campeões. Mesmo assim, há glamour em vestir a camisa catalã. E o movimento de Andressa simboliza mais: é imagem do intenso fluxo das jogadoras brasileiras no mercado internacional, num nível jamais visto no país. Da lista de ontem, só cinco atuam no Brasil, todas na seleção permanente montada pela CBF em 2014. Das 13 ?estrangeiras?, há três nos Estados Unidos, cinco na Europa, quatro na China e uma na Coreia do Sul. A influência dos agentes também cresceu. Andressa chegou à Espanha representada por uma empresa sediada em Portugal, que agencia várias colegas da seleção.
Ter jogadoras espalhadas pelo mundo não é o ideal. No entanto, o que mais desperta a atenção da comissão técnica da seleção é a questão física. Por falta de trabalho de base no país, as atletas começam a se desenvolver tarde. Um problema que a seleção permanente minimizou, com a estrutura da Granja Comary. Com a exportação, a maior preocupação é o clube de destino delas. A CBF detectou que, na China, há treinos físicos deficientes. Por outro lado, há jogadoras em clubes de ponta, estruturados, e jogando grandes competições.
? O problema não é estar fora, é onde está. Nosso trabalho é avaliar: quantos jogos fez na China, se vai para um time forte ou fraco dos Estados Unidos. PSG e Barcelona têm ótima estrutura, bons campeonatos. É importante saber se, num time forte, enfrentam rivais fracos. Na China, outra questão é alimentação. Elas são jovens, chatas para comer ? diz Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF. ? Mas isso mostra a evolução após a seleção permanente. Atleta brasileiro, todo mundo quer. A dúvida era o físico e a tática.
Antes da seleção permanente, tal fluxo de exportação seria comemorado, pois compensaria a falta de estrutura dos clubes do Brasil. Agora, Vadão tinha o plano de ficar o máximo de tempo com as atletas. Ainda aguarda a chegada de Marta, no fim desta semana, e da atacante Bia, que está na Coreia.
estilo ?parecidinho? com o de neymar
Enquanto a Olimpíada não vem, Andressa sonha.
? É surreal, né? Nem consigo imaginar ver aqueles jogadores passando… Se não conseguir na Olimpíada, espero ver Neymar no clube ? sonha Andressa. ? Não diria que jogo com estilo igual ao dele. Mas é parecidinho.
Segundo ela, homens e mulheres do Barcelona compartilham não só o centro de treinamento:
? Pelo Montpellier, da França, joguei um amistoso com o Barça. O estilo é idêntico: troca de passes, posse de bola. Acho que me encaixo bem. É um sonho, um dos maiores clubes do mundo, que agora quer ganhar tudo no feminino também.
Ontem, a convocação de Vadão confirmou que a meia Formiga vai para a sua sexta Olimpíada. Junto com Marta e Cristiane, ela dará apoio a um grupo com 11 estreantes em Jogos Olímpicos. A lateral Maurine, nome frequente, ficou fora. Já a goleira Luciana, recentemente acusada pela direção do Rio Preto de ?comportamento estranho? na final do Brasileiro, contra o Flamengo, será uma das quatro suplentes. Vadão negou que a goleira, titular no último Mundial, tenha perdido espaço por causa da polêmica.
? Conheço a alma da Luciana. E tenho total confiança nela. Foi escolha técnica ? garantiu.
A seleção feminina será o primeiro time brasileiro a atuar pelos Jogos Olímpicos. Estreia dia 3, contra a China, sob a atenção de todo o país.
? Vamos tomar cuidado para a ansiedade não extrapolar. Ninguém mais estará competindo quando jogarmos. Mas há o lado positivo: o país terá contato com o futebol feminino ? disse Vadão.