RIO ? Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) informou não saber se o módulo Schiaparelli ? homenagem ao astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, que observou atentamente Marte no século XIX, registrando pela primeira vez seus ?canais? ? sobreviveu ao procedimento de aterrissagem na superfície de Marte, realizado nesta quarta.
? Era uma manobra muito complexa ? disse Jan Wörner, diretor-geral da ESA. ? Nós temos sensores para monitorar cada um dos passos. Posso dizer que dados desses sensores foram recebidos.
O módulo com 2,4 metros de diâmetro e 577 kg foi programado para realizar uma sequência de pouso automática, com a liberação de paraquedas e do escudo de calor entre 11 e 7 quilômetros de altitude, sendo o último estágio o acionamento de retrofoguetes, a 1,1 quilômetro do solo. Dados recebidos mostram que o escudo e os paraquedas foram acionados corretamente. Contudo, não foram recebidos sinais dos momentos finais, o que significa que aparentemente o sistema falhou, mas ainda não existe confirmação.
É a segunda vez que a ESA tenta pousar um módulo na superfície marciana, feito só alcançado pela agência espacial americana. Apesar das dúvidas em relação ao Schiaparelli, Wörner comemorou o sucesso de outra missão simultânea, o TGO (sigla em inglês para ?orbitador de traços de gás?). A sonda realizou uma manobra de inserção na atmosfera do planeta vermelho, para a coleta e análise de gases em busca de sinais de vida.
? Nós temos todas as confirmações que precisávamos. Isso significa que o TGO está pronto para a ciência e para a liberação de dados que nós precisamos para a missão de 2020 ? disse Wörner. ? A ExoMars 2016 é orientada para procurar gases na atmosfera, para procurar por vida, e essa parte está funcionando.
Esta foi apenas a primeira fase da missão ExoMars, realizada pela ESA em parceria com a Agência Espacial Federal Russa, conhecida como Roscosmos. O sistema de aterrissagem do Schiaparelli serve como teste para o envio, em 2020, de um robô para a análise da superfície marciana.
A TGO e o Schiaparelli foram lançados em abril do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. A missão apresentou um desafio tecnológico para as agências russa e europeia, que nunca conseguiram manter um equipamento em funcionamento no solo marciano. Anteriormente, a ESA pousou o módulo Beagle 2 ? homenagem ao navio Beagle, em que viajou Charles Darwin ? em dezembro de 2003, mas nunca conseguiu estabelecer comunicação. O destino do robô permaneceu um mistério até janeiro de 2015, quando foi localizado numa fotografia capturada por um satélite americano. As imagens sugerem que os painéis solares não abriram e bloquearam as antenas de comunicação.
A primeira tentativa dos russos aconteceu em 1962, pela então União Soviética, mas o foguete nem deixou a órbita da Terra. Em dezembro 1971, os soviéticos chegaram a pousar o módulo Mars 3, mas o contato foi perdido em menos de 20 segundos. Já o primeiro pouso bem sucedido em Marte aconteceu em setembro de 1975, com o módulo americano Viking 2. Desde então, a Nasa realizou outros seis pousos no planeta vermelho e hoje mantém dois robôs em operação lá: Opportunity e Curiosity.