RIO – Um filme dos treinamentos passava pela cabeça do pernambucano Wagner Domingos, de 33 anos, pouco minutos antes da final do lançamento de martelo começar, na noite desta sexta-feira, no Engenhão. O atleta andava em círculo e a cada dez passos repetia o movimento de lançamento. Mesmo da arquibancada, a metros de distância do campo, era possível sentir a sua ansiedade por estar em sua primeira final olímpica. Pouco conhecido no Brasil, ele admitiu que teve dificuldade para se concentrar nas qualificatórias, pois nunca tinha visto tanta torcida em uma competição que, inclusive, estava gritando seu nome. Não era para menos, depois de 82 anos, o país voltava a ter um representante da prova. Mas, na quebra do longo jejum Wagner terminou em 12º, com apenas 72,28m.
FORA DESDE 1932
Antes do pernambucano, o Brasil só esteve nesta prova olímpica em duas oportunidades: com Otávio Zani, em Paris-1924, e Carmine Di Giorgi, em Los Angeles-1932. Com este jejum quebrado, ficou a impressão de que Wagner poderia ter ido mais além. A marca alcançada na final foi muito aquém do que ele estava planejando, que era lançar algo em torno de 75 e 76m. Foi pior até que os 74,17m que Wagner tinha feito na fase qualificatória. O peso da final e o calor do público mexeram com suas emoções. E a intensidade desse apoio pôde ser medida quando ele foi apresentado ao lado dos outros finalistas pelo telão para o público. Neste momento, Montanha (como Wagner é mais conhecido) teve seu nome ovacionado em um volume ainda mais alto que o da fase qualificatória.
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Ao partir para o primeiro lançamento, ficou claro que Montanha não estava em uma de suas melhores noites, pois mandou sua tentativa inicial direto para rede que cerca o ponto de lançamento. Desta vez, diferentemente da fase qualificatória, Wagner não tinha o técnico esloveno Vladimir Kevo, principal responsável pelo seu sucesso nos últimos anos, na beira da arquibancada para lhe passar instruções. O jeito foi andar em círculos e repetir os movimentos no intervalo entre cada tentativa. De longe, o brasileiro era o que mais andava de um lado para o outro na área de aquecimento. Os outros finalistas preferiam ficar sentados ou fazendo caminhadas curtas para se manterem aquecidos.
Além da pressão do público, o fato de Montanha ter chances reais de pódio pareceu ter mexido com o pernambucano. Afinal, ele chegou ao Rio-2016 como o quarto melhor de sua prova, assim como Thiago Braz, que foi campeão olímpico no salto com vara. Apesar da coincidência, o pernambucano não queria comparação com o medalhista de ouro, mas afirmou que se inspirava na história. Para a final, Montanha avançou com a nona melhor marca das eliminatórias. Entre os 12 finalistas, apenas o bielorusso Ivan Tsikhan (80,04m) e Dilshod Nazarov (78,87m) tinham uma marca melhor que a de Wagner (78,63m) no ano. Já que o polonês Pawel Fajdek, que chegou aos Jogos com as dez melhores marcas do ano (entre 81,87m e 80,10m), decepcionou ao lançar apenas 72m e não conseguiu sequer chegar à final.
Portanto, com a saída precoce de Pawel no decorrer da competição, o pernambucano chegou na final com possibilidades ainda melhores de subir ao pódio levando-se em conta os resultados deste ano. Mas no fundo, ele também sabia que não seria fácil. Pois, no geral, nove dos 12 finalista tinham a melhor marca pessoal superior a de Wagner.
No entanto, desde que chegou aos Jogos, Montanha já havia falado sobre a dificuldade que seria este torneio olímpico. E que seu objetivo inicial seria avançar para a final, o que conseguiu com certo sucesso. Uma vez lá, pretendia chegar entre os oito ou seis primeiros.