Perto do fim de um dos maiores clássicos do cinema, o personagem de Gene Kelly apontou para a jovem mocinha correndo para fora do teatro e pediu para que a plateia não a deixasse sair. Ele explicou: ?Essa é a garota cuja voz vocês ouviram e amaram esta noite. Ela é a verdadeira estrela do filme?.
A verdadeira estrela do filme. A verdadeira estrela de uma Hollywood que, naquele ano de 1952, quando ?Cantando na chuva? foi lançado, buscava atrizes que pudessem atuar, cantar, dançar ou simplesmente abrir um sorriso único, um tanto inocente, definitivamente encantador. Foi o ambiente perfeito para Debbie Reynolds, e ela foi perfeita para o cinema americano ? e também para a TV, os teatros, os shows, qualquer canto em que coubesse seu talento.
A atriz nasceu numa família humilde do Texas em 1932 e foi batizada Mary Frances Reynolds. O rebatismo para Debbie aconteceu apenas em 1948, por sugestão de Jack Warner, o chefão dos estúdios Warner que acabara de contratar a moça. Ela estreou no cinema numa pequena participação em ?Noiva da primavera? (1948), com Bette Davis, mas logo se tornou protagonista, e não uma protagonista qualquer. Ao lado de Gene Kelly e Donald O?Connor, Debbie estrelou ?Cantando na chuva? (1952), da MGM, como uma jovem mocinha que sonhava em fazer sucesso no cinema falado. Era um papel que confundia ficção com realidade para uma atriz de então 19 anos.
Dali, da consagração e da fama, vieram produções como ?Uma esperança nasceu em minha vida? (1956), no qual contracenou com seu então marido, o cantor Eddie Fisher; ?A flor do pântano? (1957), no qual cantou ?Tammy?, música que chegou a liderar as listas de mais tocadas e mais vendidas da Billboard no ano; e ?A inconquistável Molly? (1964), que lhe valeu uma indicação ao Oscar. Vieram também musicais na Broadway, gravações de discos e até um programa de TV com seu próprio nome transmitido pela rede NBC nos anos 1970.
Em pouco tempo, Debbie se tornou um ícone, para o bem e para o mal. A fama fez com que o divórcio da atriz e de Eddie Fisher, em 1959, fosse explorado à exaustão pela imprensa. O cantor teve um caso com Elizabeth Taylor, amicíssima de Debbie na época, o tipo de escândalo que jornais e revistas amavam (sendo sincero, ainda amam).
Também a morte de Debbie, na terça-feira, aos 84 anos, teve elementos fantásticos para ocupar a imaginação dos fãs por anos. Ela teve um AVC um dia após a morte da filha, a atriz Carrie Fisher (60 anos), uma estrela pop como a mãe, por sua interpretação da Princesa Leia na franquia ?Star wars?.
Os mais jovens viciados nesse universo de Jedis e alienígenas peludos que soltam grunhidos para qualquer coisa talvez não tenham se dado conta da relevância de Debbie para o cinema. Mas a mãe de uma princesa é sempre uma rainha.