Cotidiano

Irmão de detento morto em massacre de presídio é vendedor de banana no cemitério

MANAUS ? O vendedor de banana frita Janderlan de Andrade, de 21 anos, poderia ser apenas mais um entre os mais de 20 outros vendedores que o cemitério Parque Tarumã abriga. O local de ganha pão do vendedor agora também será, como ele mesmo descreve, a nova moradia do seu irmão, morto no massacre que terminou com a morte de 60 detentos, entre domingo e segunda-feira, em Manaus.

? Trabalhar aqui vai ser difícil agora ? lamenta.

Janderlan conta que seus familiares tiveram a confirmação da morte de seu irmão, Jander de Andrade, na tarde de terça-feira e que o corpo ainda não foi liberado pelo Instituto Médico Legal por ter sido decapitado.

? Minha mãe está bastante abalada. Na verdade toda a nossa família. Sabíamos que ele estava cumprindo a sua pena, mas acho que nada justifica a crueldade que fizeram com ele ? afirma.

O irmão do vendedor de banana cumpria pena no regime semiaberto pelo crime de estupro. Segundo Janderlan, o corpo ainda não teve liberação do Instituto Médico Legal (IML) para que seja enterrado. O cemitério, como ele afirma, agora terá um diferencial grande.

? Imagina você trabalhar todos os dias e saber que seu irmão estará enterrado no seu local de trabalho? É muito surreal. Ainda não caiu a ficha. No dia do enterro dele sei que vai ser marcante, pois estarei no local onde já estou acostumado, mas agora saberei que ele estará aqui comigo. O local onde ele ficar enterrado com certeza será um dos mais difíceis de eu passar muito tempo ? destaca o vendedor.

ÚLTIMO CONTATO

Janderlan conta que sua mãe ainda chegou a visitar seu irmão no presídio no último domingo. De acordo com ele, ainda na noite do dia 31 para o dia 1º de janeiro, seu irmão ligou de dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). Ao ser questionado de como o seu irmão conseguira utilizar aparelho eletrônico no local, ele revela que todos tinham acesso a telefone.

? Na virada do ano ele ligou pra minha mãe. Não só ele, mas como todos os demais presos ligaram para seus parentes. Ele chorou muito. Foi algo que nunca tinha acontecido antes. Talvez ele sabia do que podia acontecer, mas não quis assustar. Quanto aos celulares, não são os familiares que levam esses aparelhos, não. É o próprio poder. Agentes, policiais e todos os outros que lá trabalham. É por meio dele que eles conseguem armas, facas e celulares ? relata o vendedor, que trabalha há um ano no cemitério.