SÃO PAULO – Por trás da única derrota que o PSDB teve no estado de São Paulo no segundo turno das eleições municipais está um velho problema do partido: rachas internos provocados por disputas entre caciques. Nem mesmo a cidade de Franca, no interior de SP, escapou dessa sina. Tudo por causa das prévias para a escolha do candidato a prefeito.
A 400 km da capital paulista, Franca era um desses redutos tucanos consolidados no estado. Foram três vitórias consecutivas nas eleições municipais desde 2004. Mas, há cerca de um ano, o clima no tucanato começou a azedar por lá, dando sinais de que as coisas poderiam ter um desfecho diferente este ano.
A confusão começou com uma queda de braço para decidir quem seria o candidato a prefeito pelo partido. O atual prefeito, Alexandre Ferreira, que tinha o direito à reeleição, teve que enfrentar uma prévia e, pior, contra aquele que havia sido seu padrinho político na eleição passada, o então prefeito Sidnei Rocha (PSDB).
Sidnei levou a melhor na disputa interna. Mas o partido não conseguiu se reunificar após a prévia e, se já não bastasse os adversários de outros partidos, teve que enfrentar os inimigos internos. Mesmo assim, ele seguiu como favorito boa parte da eleição, terminando o primeiro turno na liderança.
Entretanto, a vingança do atual prefeito estava por vir. A duas semanas do segundo turno, uma lavação de roupa suja envolveu os dois tucanos. Alexandre divulgou uma carta contando fatos íntimos da relação com o antecessor. “Enquanto você era prefeito e também nestes quatro anos sendo eu prefeito, o acompanhei nos exames médicos que fazia. Colonoscopia para saber a evolução de pólipos no seu intestino para saber se era ou não câncer, exames feitos no AME e no Hospital São Joaquim, fui companhia o tempo todo que passou internado lá. Eu também fui solidário no acompanhamento para o uso do aparelho de oxigênio que usa diariamente, caso contrário corre risco de ter uma parada cardíaca”, escreveu, reagindo às críticas que Sidnei fazia à imprensa de que o antigo afilhado era incompetente e despreparado e que não teria espaço na prefeitura caso ele vencesse a eleição.
O texto caiu como uma bomba na campanha de Sidnei e tem sido apontada desde anteontem como uma das causas da derrota do tucano. A carta também menciona a indicação de apadrinhados do ex-prefeito para ao governo do pupilo. “Nunca me distanciei como você fala. Mantive todos os seus aliados políticos no governo como você exigiu. Seu cunhado, seu sobrinho e todos os outros que agora trabalham na sua campanha”.
No início da noite deste domingo, o resultado eleitoral em Franca foi proclamado. Cerca de 160 mil eleitores foram as urnas e uma virada se confirmou no segundo turno com uma vitória de Gilson de Souza (DEM) com 56% dos votos válidos sobre Sidnei. O candidato tucano se despediu dos eleitores com um vídeo numa rede social ontem em que fez questão de destacar que está com a saúde em dia.
– Olha, eu não estou doente não, viu.