Cotidiano

'La la land': filme vira alvo de declarações de amor e ódio

64877073_RG Rio de Janeiro RJ 13-02-2017 Materia sobre o filme La la Land com os atores Raul Veiga.jpg

RIO – Marchinhas, turbantes, Donald Trump, os rumos da política brasileira. A quantidade de temas que transformam redes sociais em campo de guerra não tem fim. A grita agora também gira em torno de ?La la land: cantando estações?, que no próximo domingo concorre a nada menos que 14 estatuetas no Oscar ? recorde antes alcançado por apenas dois filmes, ?Titanic? (1997) e ?A malvada? (1950). ?Muito white people para o meu gosto. E um branco querendo reinventar o jazz??, cravou alguém no Twitter, levantando a questão do racismo. ?Sobre ?La la land?: odiei e amei na mesma intensidade?, escreveu outro, ainda indeciso, mas que nem por isso deixou o extremismo de lado. Um fã confesso e apaixonado não teve vergonha de se declarar: ?Socorro, quero casar com este filme?.

Quem não gosta diz que Emma Stone e Ryan Gosling ? que interpretam os protagonistas Mia e Sebastian, um casal que se apaixona ao mesmo tempo em que persegue seus sonhos em Los Angeles ? cantam mal e não sabem dançar. Que o filme não tem nada de marcante. Que o recorde de indicações é incompreensível. Neste grupo está o autor Aguinaldo Silva, que, pelo Facebook, comentou: ?Se este foi o melhor filme produzido este ano, então o cinema acabou?. E continuou: ?Dá para perceber que ensaiaram rigorosamente cada passo durante semanas até no mais mínimo gesto de dedos, mas ficaram a quilômetros da perfeição…?.

Autor e diretor de alguns dos principais musicais brasileiros, Claudio Botelho diz que quase todos os defeitos apontados no filme pelo público detrator são, para ele, qualidades.

? O charme é que os cantores cantam como a gente. Musical é lugar de voz, seja ela bonita ou feia, de gente que até desafina, mas conta uma história ? analisa.

A atriz, coreógrafa e bailarina Paula Águas segue a mesma linha em relação aos números de dança. Não são bailarinos, diz ela, mas até isso acaba sendo encantador.

? É uma entrega bonita e eles fazem tudo com muita graça. Conseguiram lidar com a limitação dos dois atores em relação à dança de forma honesta ? diz ela, acrescentando que o filme a surpreendeu, mas que o número de indicações foi uma surpresa também, pois talvez não fosse para tanto.

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Seja lá como for, a identificação de qualquer artista com os personagens é imediata. Não à toa, quatro atores e atrizes cujas carreiras estão diretamente ligadas a musicais aceitaram de pronto o convite do GLOBO para recriar duas imagens do filme em cenários cariocas. Sabrina Korgut e Raul Veiga foram ao Mirante do Pasmado; Alessandra Verney e Guilherme Logullo, ao Planetário do Rio.

Assim como Mia, personagem de Emma Stone em ?La la land: cantando estações?, Raul Veiga, que atuou em produções como ?7 ? O musical? e ?Beatles num céu de diamantes?, tem muita história de audição frustrada para contar.

? Entrar na sala de teste e as pessoas nem olharem direito para você acontece mesmo. Fiz mais de 50 audições e houve um momento em que desisti de continuar assim ? diz ele, que, também como Mia, resolveu empreender: atualmente, seu show ?Simplesmente Sinatra?, que traz 26 dos maiores sucessos do cantor, está em campanha de financiamento coletivo.

Para Sabrina Korgut, que já fez 38 musicais e a partir do próximo mês estará no palco com Raul Veiga em ?4 faces do amor?, a questão do preconceito do público em relação ao gênero também deve ser levada em conta, quando se fala de ?La la land?.

? É comum ouvir aquele papo de que, se é musical, é chato. Há quem diga que tudo é clichê, essa história de ir atrás dos seus sonhos… Mas, gente, a vida é clichê mesmo ? ri.

Foi exatamente essa história de seguir e realizar o sonho que fez com que a atriz Alessandra Verney chorasse copiosamente enquanto assistia ao filme. Ela, que já tem 25 anos de carreira, está no ar na novela ?Rock story?, da TV Globo, e foi protagonista do musical ?Kiss me Kate ? O beijo da megera?, conta que se viu nos dois personagens, tanto Mia, a atriz, quanto Sebastian, o músico:

? Vários amigos já tinham vindo me dizer que eu tinha que assistir, que ia me acabar de chorar. Abrir mão do que for preciso para realizar um sonho é um pouco da história da minha vida. Saí de uma cidade do interior e fui desacreditada várias vezes quando dizia para as pessoas que queria viver de arte. Eu acabei me vendo em muitas e muitas cenas de ?La la land?.

A expectativa que já estava lá em cima depois que o filme foi o grande vencedor do Globo de Ouro, em janeiro, quando ganhou sete prêmios, talvez tenha feito o ator Guilherme Logullo ter uma opinião um pouco diferente da de Alessandra, com quem contracena na novela ?Rock story?. Ele, que já fez parte do elenco de musicais como ?Chicago?, ?West Side story?, ?Elis? e ?Kiss me Kate?, acreditava que veria algo completamente novo, revolucionário. Mas não foi o que aconteceu.

? Não é exatamente novo, mas é um filme digno, muito bonito. A maneira como foi filmado, os planos-sequência, é muito corajoso fazer isso ? analisa Logullo, que chegou a se decepcionar um pouco com as performances de Ryan Gosling e Emma Stone cantando e dançando. ? De novo, eles fazem dignamente, mas acho que talvez seja pequeno. Você espera pelo momento em que a música vai crescer e isso não acontece.

No dia 27, o ator e diretor Miguel Falabella estará na TV Globo comentando a cerimônia do Oscar, mas não terá sido por ?La la land? a sua torcida no dia anterior.

? Vi qualidades, claro, e não conheço quem odeie o filme. Mas muita gente, assim como eu, não ficou completamente empolgada. Acho que fiquei muito nas referências, naquela brincadeira de adivinhar as citações, só que a história não me pegou.

As referências sobre as quais fala Miguel são pequenas homenagens que ?La la land? faz, relembrando outros grandes filmes como ?Cantando na chuva?, ?Cinderela em Paris? e ?Os guarda-chuvas do amor?. Outro ponto destacado pelo ator e diretor é a Los Angeles real, que não se aproxima muito da cidade que o filme retrata:

? Todos os longas mostram uma América que a América não gosta de ver. E ?La la land? mostra uma Los Angeles romanceada. Quem for para lá esperando encontrar o que está no filme vai se decepcionar ? brinca.

Claudio Botelho, por outro lado, que normalmente tem preguiça para o Oscar, diz que este ano está disposto a acompanhar só para torcer pelo filme dirigido por Damien Chazelle:

? Assisto mais ao Tony (maior prêmio de teatro dos Estados Unidos). Só que no próximo domingo vou ver o Oscar inteiro. Quero mesmo que ?La la land? ganhe logo as 14 estatuetas para que este gênero volte a acontecer.