RIO ? Sessenta e cinco escritores e artistas assinaram uma carta aberta criticando a ordem executiva do presidente dos EUA, Donald Trump, proibindo a entrada no país de imigrantes de sete países com população predominantemente muçulmana. A carta foi escrita pela PEN America, uma associação de defesa da liberdade de expressão, e assinada por nomes como os vencedores do Nobel de literatura J. M. Coetzee e Orhan Pamuk, além de Paul Auster, Philip Roth, , Stephen Sondheim, e Sally Mann. Os signatários pedem quer Trump evite novas medidas prejudicando ?a liberdade de circulação e o intercâmbio de artes e ideias.?
?Impedir artistas internacionais de contribuirem para a vida cultural dos Estados Unidos não vai tornar o país mais seguro, e sim prejudicar seu prestígio e influência internacional?, diz a carta. ?Essa carta não só vai impedir grandes artistas de se apresentarem, mas também vai prejudicar a troca de ideias, isolando os EUA politica e culturalmente. Ações recíprocas contra cidadãos americanos, como as já tomadas pelos governos do Irã e do Iraque, diminuirão a capacidade dos artistas americanos circularem livremente.?
Leia a íntegra:
?Querido Presidente
Como escritores e artistas, juntamos-nos ao PEN America convidando-o a rescindir sua Ordem Executiva de 27 de janeiro de 2017, e abster-se de introduzir qualquer medida alternativa que prejudique de forma semelhante a liberdade de movimento e a troca global de artes e idéias.
Ao proibir as pessoas de sete países predominantemente muçulmanos de entrar nos Estados Unidos por 90 dias, impedindo que todos os refugiados entrassem no país por 120 dias e bloqueando a migração da Síria indefinidamente, sua Ordem Executiva de janeiro causou o caos e dificuldades para famílias divididas, prejudicou vidas, fez pesosas cumpridoras da lei usarem algemas, serem detidas e deportadas. A Ordem Executiva também impediu o livre fluxo de artistas e pensadores e o fez num momento em que o diálogo intercultural vibrante e aberto é indispensável na luta contra o terror e a opressão. A sua restrição é incompatível com os valores dos Estados Unidos e as liberdades que defendemos.
O impacto negativo da Ordem Executiva original foi sentido imediatamente, criando estresse e incerteza para artistas de renome global e perturbando os principais eventos culturais dos EUA. O diretor nomeado para o Oscar Asghar Farhadi, que é do Irã, esperando ser incapaz de viajar para a cerimônia de premiação da Academia no final de fevereiro, anunciou que não participará. O cantor sírio Omar Souleyman, que se apresentou no Concerto do Prêmio Nobel da Paz de 2013 em Oslo, na Noruega, pode agora ser impedido de cantar no Instituto Mundial de Música de Brooklyn em maio de 2017. A possilidade de Adonis, um poeta mundialmente célebre de 87 anos, francês de origem síria, participar do festival PEN World Voices, em maio de 2017, permanece em questão.
Impedir que artistas internacionais contribuam para a vida cultural americana não tornará a América mais segura e prejudicará seu prestígio e influência internacional. Não só essa política impedirá os grandes artistas de se apresentarem, como também constrangirá o intercâmbio de idéias importantes, isolando os Estados Unidos política e culturalmente. As ações recíprocas contra cidadãos americanos, como as já tomadas pelos governos do Iraque e do Irã, limitarão ainda mais a capacidade dos artistas americanos de se mover livremente.
As artes e a cultura têm o poder de permitir que as pessoas vejam além de suas diferenças. A criatividade é um antídoto contra o isolacionismo, a paranóia, o mal-entendido e a intolerância violenta. Nos países mais afetados pela proibição da imigração, são escritores, artistas, músicos e cineastas que estão frequentemente na vanguarda nas lutas contra a opressão e o terror. Se interromper a capacidade dos artistas de viajar, realizar e colaborar, tal Ordem Executiva ajudará aqueles que silenciem as vozes essenciais e exacerbam os ódios que alimentam o conflito global.
Acreditamos firmemente que as consequências imediatas e a longo prazo da sua Ordem Executiva original estão totalmente em desacordo com os interesses nacionais dos Estados Unidos. Enquanto contempla quaisquer novas medidas potenciais, nós respeitosamente o exortamos a adaptá-las para lidar apenas com ameaças legítimas e fundamentadas e evitar impor proibições amplas que afetam milhões de pessoas, incluindo escritores, artistas e pensadores cujas vozes e presença ajudam a promover a compreensão internacional.?
Sinceramente,
Anne Tyler
Lev Grossman
Jhumpa Lahiri
Norman Rush
Chang-rae Lee
Jane Smiley
Janet Malcolm
John Green
Mary Karr
Claire Messud
Daniel Handler (a.k.a. Lemony Snicket)
Siri Hustvedt
Paul Auster
Francine Prose
Paul Muldoon
David Henry Hwang
Jessica Hagedorn
Martin Amis
Sandra Cisneros
Dave Eggers
Stephen Sondheim
Jonathan Lethem
Philip Roth
Andrew Solomon
Tobias Wolff
Robert Pinsky
Jonathan Franzen
Jay McInerney
Margaret Atwood
Azar Nafisi
Alec Soth
Nicole Krauss
Colm Toibin
Patrick Stewart
Philip Gourevitch
Robert Caro
Rita Dove
J.M. Coetzee
Anish Kapoor
Rosanne Cash
Zadie Smith
George Packer
John Waters
Art Spiegelman
Susan Orlean
Elizabeth Strout
Kwame Anthony Appiah
Teju Cole
Alice Sebold
Esmeralda Santiago
Stacy Schiff
Jeffrey Eugenides
Khaled Hosseini
Rick Moody
Hanya Yanagihara
Chimamanda Adichie
John Lithgow
Simon Schama
Colum McCann
Sally Mann
Jules Feiffer
Luc Tuymans
Michael Chabon
Ayelet Waldman
Orhan Pamuk