Agronegócio

Ameaça de crise na safra de grãos deixa o setor produtivo brasileiro em alerta

Soja - colheita. Fotos:Jaelson Lucas / Arquivo AEN
Para esses municípios, o plantio da soja está liberado a partir de 1.º de setembro de 2024 e termina em 30 de dezembro. Foto :Jaelson Lucas / Arquivo AEN

Cascavel – A crise de grãos novamente estaria batendo à porta do setor produtivo? Os efeitos provocados pelo fenômeno El Niño provocando um estresse hídrico dos mais intensos dos últimos anos não têm poupado as lavouras nas principais regiões agrícolas do Brasil. A combinação: falta de chuvas e temperaturas elevadas comprometeu um período importante do desenvolvimento dos ciclos precoce e médio da soja. Isso influenciou no encurtamento do estágio da oleaginosa, afetando o potencial produtivo das plantas, resultando na queda de flores no período vegetativo e baixa quantidade de vagens por planta.

Um dos termômetros desse cenário desolador é o estado do Mato Grosso, maior produtor de grãos do País. Além da queda na produção, o preço da saca de soja no mercado chegou ao menor patamar em três anos. O preço médio chegou a R$ 94,91 a saca de 60 quilos, segundo apuração feita junto ao Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). Além dos fatores climáticos, outras causas atribuídas a este cenário são: queda na bolsa de Chicago, câmbio abaixo dos R$ 5 e prêmios de exportação negativos nos portos brasileiros.

A estimativa de produtividade média é de 50,81 sacas por hectare. Se confirmada, representa uma retração de 15,24% em relação ao observado na safra anterior e de 1,44% com os prognósticos apresentados no começo deste ano. A projeção estadual tende a ficar em 38,443 milhões de toneladas.

Paraná

No Paraná, a temporada 2023/24 já apresenta uma previsão de quebra de 12%, com a cobertura de seguro rural 20% menor que no ano anterior. Para entender melhor os impactos desses fatores nada positivos na safra de grãos, o Jornal O Paraná, conversou com uma sumidade nessa área, o consultor em gerenciamento de riscos da StoneX, Leonardo Martini.

O consultor confirmou o cenário de quebra no Brasil. “Plantamos uma área com potencial de 165 milhões a 170 milhões de toneladas e devemos colher algo em torno de 150 milhões de toneladas. Alguns falam em números mais baixos que esse e outros, um pouco mais acima. Fato é que, independente disso, mesmo assim vamos colher a segunda maior safra da história, vindo de um ano (2023) em que colhemos a primeira maior safra”, comenta.

O analista aponta dois anos anteriores de muita produção, o mesmo registrado nos Estados Unidos, que colheram também uma safra boa, totalizando 113 milhões de toneladas e a Argentina, caminhando para uma excelente recuperação, beirando 50 milhões de toneladas, ou seja, 50% a mais do que ela colheu no ano passado.

No contexto global, há um cenário de sobre oferta, na visão do especialista da StoneX. “Olhando a demanda chinesa, ela cresce entre 2 milhões e 3 milhões de toneladas em relação ao ano passado. De novo, não é suficiente para absorver todos esses grãos em direção ao mercado”.

Faturamento menor

Leonardo Martini confirmou um ano de redução da produção e de preços, acarretando na queda de faturamento dos produtores e consequentemente, menos dinheiro girando no mercado. “Olhando as economias locais e regionais, de fato, haverá o impacto da circulação menor de dinheiro. Sei que é frustrante do ponto de vista do produtor admitir a quebra, em contrapartida, ele precisa entender que faz parte de um contexto global. Hoje, a pressão baixista nos preços por conta da elevação dos estoques mundiais é muito maior do que essas quebras regionais que temos visto no Brasil”. Esse é um ano para apertar o cinto, olhar os custos e tentar reduzir para otimizar a rentabilidade, na ótica de Leonardo Martini.